Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Antes que ela pudesse chegar mais perto, um gato dourado de dez quilos pulou no sofá e ronronou de maneira protetora.

— Batty! Querido! Como senti sua falta — disse ela para o gigantesco gato dourado que roubava comida dos pratos no jantar, mijava semanalmente em cada canto do apartamento, espalhava sua água no chão da cozinha e, devido à alimentação imprópria, sofria do que o veterinário polidamente se referia como sendo insulto gástrico (insulto mais para os humanos que viviam com ele). Conhecendo seus sentimentos verdadeiros, Batty saudou Annie com uma cusparada violenta e instalou-se solidamente no colo de Rodrigo como querendo bloquear seu acesso intencionalmente. Annie sorriu, os lábios apertados, e sentou-se assim mesmo.

— Ele emagreceu um pouco — disse Rodrigo. — Coloquei numa dieta nova. Três latas de atum e 200 ml de Evian por dia.

— Está funcionando maravilhosamente — mentiu ela. — Baixo carboidrato para gatinhos.

Os livros mais vendidos de dietas fizeram sucesso com bem menos. Rodrigo empurrou Batty e inclinou-se para Annie. Seu coração começou a disparar novamente (pelo menos aquelas paradas e recomeços sexuais eram saudáveis para o coração).

— Onde é que a gente estava? — perguntou ele. — Ah, sim. Seu tesão extremo e como ele a trouxe até mim. Prossiga.

Dizer aquela palavra grosseira com T teria tido um efeito libidinoso em Rodrigo. Annie estava bem consciente. Por isso a tinha usado.

— Temos de falar sobre isso? Não podemos fazer algo a respeito, ao contrário?

— Mas estou doente.

— Não tem problema.

— Quem é você e o que você fez com Anahí Portillo?  — perguntou ele.

A pergunta impediu-a de dar o bote. O que ela tinha feito com Anahí Portillo? Com reconhecimento doloroso, ela se viu como uma autômata, cuja estranha busca por paixão e afeto a trouxera de volta para o homem que ela rejeitara porque tudo o que ele sempre quisera fora paixão e afeto. Ela tinha calculado tudo muito mal um ano atrás. Ele era um cara doce, bacana e bonito que a amava (amou). Sentada com sua presença calorosa, aparência desleixada e nariz escorrendo, Annie não conseguia entender por que tinha terminado com ele.

Se ela se humilhasse o suficiente, talvez ele pudesse amá-la de novo.

— Eu devia ter prestado mais atenção em você, Rodrigo — disse ela. — Não consigo acreditar que deixei você ir embora. Quero outra chance.

— Annie — começou ele —, muita coisa aconteceu.

— Muita coisa aconteceu comigo também. É por isso que estou aqui. Aprendi lições dolorosas e quero corrigir os meus erros.

Ela inclinou-se para beijá-lo. Ele hesitou por um instante. Annie temeu estar pressionando, ou que ele não a quisesse (impossível — ele sempre dissera que ela era o seu ideal). Depois de mordiscar os lábios dele por alguns segundos, sentiu-o colocar os braços dele em torno dela e puxá-la para perto. A familiaridade do abraço a fez chorar. Ele era seguro, confortável, tranqüilo. Ela precisava de uma dose de tranqüilidade. E realmente estava falando sério. Se ele voltasse para ela, ficaria burra de tanta felicidade. Rearrumando-se graciosamente, Annie colocou uma perna sobre Rodrigo e enlaçou-o no sofá. Ela habilmente levantou seu vestido pela cabeça e sentou-se em cima dele, nua, a não ser pelas mules e as roupas de baixo (naquele dia ela tinha tido a perspicácia de colocar um dos conjuntos de calcinha e sutiã mais populares da calcinhas.com: o de lacinhos rosa Moça no Campo).

— Meu Deus, Annie. Seu corpo — disse ele, e começou a beijá-la no sutiã, enterrando o rosto entre os seus seios. Ele voltou à superfície para fungar e enxugar o nariz com o lenço. Mas Annie não estava horrorizada. Ela já tinha ficado com ele doente, tossindo, escorrendo o nariz. E ele a tinha pegado bem como ela era. Sob suas calças caqui, ele estava duro feito granito (o confiável e previsível Rodrigo). Uma poderosa ereção envolta em algodão. Nada teria sido mais sensual para Annie naquele momento. Ela colocou a mão na forma e pressionou.

Rodrigo deitou-se no sofá, puxando-a para cima dele. Beijos loucos e a coisa subindo. Ele colocou as mãos dentro do seu Moça no Campo para agarrar sua bunda.

Annie imaginou uma geleira rachando, grandes peças glaciais se quebrando e caindo no mar escuro. Seu ano de abstinência e o peso dele afundaram, fora de alcance. Aquilo era um alívio. Um alívio de repressão e negação. Ela se balançou em cima de Rodrigo como se ele fosse um bote salva-vidas. Annie lutou com o botão da calça dele. Estava decididamente mais apertado do que lembrava, ou ela é que estava sem prática. Teve de se sentar enquanto ele se deitava embaixo dela e desabotoava com as duas mãos. Bem quando ela tinha soltado o botão e se movimentado para o zíper, um raio dourado voou para os olhos dela. Pêlo e patas com garras arranharam o peito de Rodrigo e as coxas nuas dela. Rodrigo gritou, Annie gritou. Ela olhou para baixo, para os rasgos na camisa de Rodrigo e em seguida para as quatro profundas marcas de arranhões em suas pernas, primeiro brancas, depois o vagaroso aparecimento do vermelho-sangue. Assim que Rodrigo e Annie se recuperaram da surpresa do ataque traiçoeiro de Batty (a dor veio segundos depois), ela não conseguia entender por que os gritos ainda enchiam o apartamento. Rodrigo parecia perplexo também. Os dois se viraram na direção do som. Lá, na porta, estava uma mulher. Ela era pequena e bonitinha, com cabelos louros curtos. Era graciosa, com nariz achatado e patricinha. Usava uma roupa "anti-Annie" — tecidos de algodão e um blazer masculino sobre uma camisa azul-cobalto Oxford. Suas mãos se levantaram para cobrir o rosto, e ela soltou uma mochila azul cheia no chão. Por um segundo, Annie pensou que ela estava gritando de dor por ter jogado um peso tão pesado sobre seus pés. Berros prolongados, piercing nas orelhas. Essa mulher devia ter feito algum tipo de treinamento vocal para sustentar o volume. Rodrigo empurrou Annie para longe dele (fazendo com que ela tombasse desajeitadamente sobre o outro braço do sofá).