Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Ele piscou e disse:

— Idit!

Idit? Ele estava chamando essa mulher de idiota? Antes que Annie pudesse arriscar um palpite, a mulherzinha com a grande capacidade pulmonar pegou a mochila e jogou-a nele, batendo diretamente em seu peito.

— Na minha casa! — gritou, antes de sair correndo pela porta aberta do apartamento, batendo-a enquanto saía.

Casa dela? Aquela casa era de Rodrigo há dez anos. Quem essa mulher achava que era?

— Era minha noiva, Idit Sholanstein — esclareceu Rodrigo, colocando a mochila no sofá, entre eles.

Annie usou uma almofada para cobrir sua seminudez.

— Sua noiva — disse ela, lutando com as novidades. — Eu praticamente implorei a você para a gente voltar.

— Você é a garota dos meus sonhos, Annie — disse ele. — Idit só ia chegar em casa mais tarde. Acho que eu devia ir atrás dela.

Rodrigo virou-se para olhar Annie, esperando um toque. Ela tinha uma escolha aqui. Podia 1) mandá-lo atrás de sua noiva (a coisa certa a fazer) ou 2) seduzi-lo, dando fim ao seu problema e ao noivado dele com um só ataque. Mas aí ela teria de ser namorada dele de novo. Do novo lugar que ocupava do outro lado do sofá, aquela idéia pareceu subitamente muito ruim. Ela olhou sinceramente para Rodrigo, cujos olhos estavam perscrutando seu rosto (e examinando seu corpo), pedindo um rumo.

— Não tenho certeza se quero um relacionamento neste momento — disse ela, cheia de dedos. — Eu estava falando sério quando disse que queria, mas agora não tenho mais certeza. — Ela pegou o seu vestido e colocou-o. — Se apenas isso tivesse acontecido dez minutos mais tarde — disse ainda, melancolicamente.

 — Eu realmente a amo — disse Rodrigo. — Mas só de olhar você...

— Nós saímos durante três anos e nem chegamos perto de ficar noivos — disse ela. — Há quanto tempo está com Idit?

— A gente se conheceu no vavoom.com, logo depois de você terminar comigo. — Rodrigo, que tinha sido engenheiro da Volvo America, trabalhava como designer de simuladores share ware num site de jogos. — Começamos como amigos. Eu estava deprimido quando a gente terminou. Idit me confortou, cuidou de mim. Não posso imaginar o que teria feito sem ela. Ela me fez a proposta. Semana passada. Comprou um anel para ela. Se nunca pedi a você que se casasse comigo é porque eu sabia que você não teria dito sim. E eu também sei que você realmente não quer voltar comigo. Só quer trepar. E eu estava a fim. Ainda estou. — Ele puxou Annie para o seu colo. — Idit vai voltar. Vou fazer tudo dar certo. Mas ela não tem nada a ver com nossos negócios não terminados. — Ele colocou as mãos entre os joelhos dela.

Ela poderia continuar com aquilo, agora que sabia que ele estava noivo? Um dilema moral. Ela não precisava do carma ruim, disso tinha certeza. Mas os dedos dele pareciam adoráveis em sua pele e ela realmente tinha esse problema de revirginização. Se ele estava querendo comprometer seu noivado, por que ela devia se preocupar? Era responsabilidade dela mantê-lo na linha? Ela não estava traindo ninguém, nem conhecia essa tal de Idit.

Antes que Annie pudesse mergulhar em Rodrigo e em seu declínio moral, Idit salvou sua própria vida. Ela entrou novamente no apartamento, pegou a bolsa de Annie, afastou Annie de Rodrigo, arrastou-a para fora do apartamento, pelo corredor, para dentro do elevador, para a rua e meio quarteirão adiante.

Quando se aproximaram da esquina da rua 71, Annie se sacudiu para se libertar. Seu vestido estava colado ao sangue pegajoso em suas coxas por causa do ataque daquele gato viciado. Seu braço estava doendo do agarro militar de Idit (Annie ficava roxa facilmente; tinha certeza que teria uma marca horrorosa em poucas horas). E quase quebrou outro salto. Idit, os braços cruzados sobre o seu traje masculino, disse:

— Eu o peguei, limpei e carreguei nos ombros durante quase seis meses até que ele a tirasse da cabeça. Ele é meu e você não vai chegar aqui um ano depois e arruinar tudo o que venho fazendo.

— Sinto muito. Ele não me disse que estava noivo — protestou Annie fracamente. Idit encarou-a com hostilidade explícita. — Eu sei que pedir desculpas não vai funcionar muito. Mas sinto muito mesmo. Não aconteceu nada. Agente só tinha começado...

— Fico feliz por Batty ter tido o bom senso de tentar e conseguir parar você.

Gato maldito, pensou Annie.

— Eu posso... olhe, Rodrigo só está confuso. A gente, ah, só aconteceu.

— Não ligo para o que você fez ou por que fez — disse Idit, com a precisão de um bisturi. — Quero me casar. Rodrigo será o meu marido, não importa com quem ele durma. Venho trabalhando para isso e vou alcançar o meu objetivo.

Aquilo soou estranhamente frio e impessoal. Annie sentiu uma onda protetora por Rodrigo.

— Você o ama, claro.

— Sim, sim, eu o amo. Eu o escolhi — disse Idit. — E acredito que ele me ame. Mas mesmo se ele não me amar, ele vê bem o suficiente em mim ou no que faço por ele e concordou em passar o resto da vida como meu marido.

— Me perdoe por dizer, mas você não parece o tipo totalmente calor e ternura. Rodrigo precisa de muitos carinhos e passadas de mão. — Razões pelas quais Annie tinha terminado com ele, pensou ela.

— Me perdoe por dizer — imitou Idit —, mas não estou inclinada a mostrar o meu lado calor e ternura para a mulher que acaba de tentar seduzir o meu noivo. E você não tem que se preocupar com Rodrigo. Eu sei exatamente do que ele precisa.

Ela se virou nos saltos lisos dos seus Hush Puppies e se dirigiu para o seu futuro. Estava a cerca de dez passos de Annie quando olhou por cima do ombro e disse:

- A gente nunca mais vai se ver.

- Eu não vou ser madrinha? — perguntou Annie.

— Nem noiva — fungou a outra.