Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Mas e o Garoto Vampiro? Annie lembrou-se das instruções de Raja sobre como quebrar o nariz com um amasso: usando a carne da palma da mão, golpear fortemente num movimento para cima, levando a cartilagem nasal até o cérebro do atacante. Ela podia fazer aquilo. Ela podia fazer aquilo. Ela nunca poderia fazer aquilo. Se ameaçada, podia dar uns tapas e arranhar. Mas o som de ossos batendo em massa cinzenta esponjosa — aquilo era um esguicho que você jamais esqueceria.

Além do mais, ela mantinha os dedos fechados na mão, pulso arqueado num ângulo de noventa graus, pronta para achatar o nariz (que ela tinha de admitir que era muito bonito e em forma de botão) do Garoto Vampiro. O GV (que, em circunstâncias diferentes, seria o apelido dela para ele) manteve seus olhos no alto, observando os números dos andares piscando e tremendo os olhos enquanto o elevador subia rangendo. Típico de estupradores e criminosos, pensou Annie, ele estava fingindo ignorá-la. Raja tinha dito algo assim em sua aula. Eles tentam dar a você uma falsa sensação de segurança, apenas para pegá-la desprevenida. Annie estava totalmente prevenida contra ele. Especialmente com a maneira como ele ficava num pé e noutro (pernas bem atraentes para um criminoso, longas e magras sob jeans desbotados). O número quatro piscou. Seu andar, finalmente. Quando as portas se abriram, ela saiu. O Vampiro saiu do elevador atrás dela. Observando-o por cima do ombro, Annie aumentou o ritmo e correu para o seu apartamento, procurando desesperadamente as chaves em sua bolsa enorme. O homem foi chegando cada vez mais perto. Que merda, pensou, desesperadamente. Ele devia ser um carniceiro de verdade! Ela parou de procurar as chaves dentro da bolsa, colocou os pés em posição de defesa, agarrou o pulso direito com a mão esquerda para aumentar o torque e se preparou para dar um tranco. Vendo sua postura, o Vampiro parou subitamente. Ela era uma presença intimidante, pensou com orgulho. Ele olhou-a por apenas meio segundo — com perplexidade, parecia — e aí pegou um chaveiro no bolso da calça. Macio como chocolate, abriu a porta do 4C, olhou novamente para Annie em sua posição de ataque e desapareceu dentro do apartamento — que provavelmente era dele. Ela sempre quisera saber quem morava naquele apartamento. Ele nunca mostrava o rosto durante o dia.

As batidas do coração de Annie diminuíram para uma velocidade de lebre. Finalmente, conseguiu entrar no seu apartamento. O sol já tinha nascido. Eram quase seis horas da manhã. Ela se largou na cama, mais acordada do que nunca. Suas bochechas estavam queimando, sua respiração rápida e suas pernas tremendo. Medo não era sexo, mas era uma simulação incrível.