Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Sobre a mesa, Christian estendeu a Annie um manuscrito fino com uma capa laminada. A página do título dizia "Meu encontro com Anahí". Quase amedrontada demais para olhar, ela virou a primeira página e leu. Bem ali, em letra Geneva corpo 12, estava uma exata descrição dos dois entrando nesse exato restaurante, sentados nessa mesma mesa, as flores Casablanca, pão quente, Ravelwood. O pequeno parágrafo entre parênteses dizia: "Christian explica como a noite vai se desenrolar e Anahí obedece feliz. Ela está radiante e determinada, sabendo que vai preencher os desejos duradouros que Christian guarda por ela desde que o feriu tão profundamente da última vez em que se encontraram. Feliz com sua chance de consertar as coisas, Anahí concorda em fazer sua parte desta fantasia, PALAVRA POR PALAVRA."

Ela virou a página. Era um roteiro, com suas falas destacadas em amarelo. Ela leu a primeira linha para si mesma e depois olhou para Christian surpresa.

Ele sorriu e sussurrou:

— E só um jogo.

Ela colocou o manuscrito sobre o prato.

— Quero uma garantia de que minhas ações não serão afetadas pela parceria com a sacana.com. — Christian concordou prontamente.

Ainda sem registrar a obsessão potencialmente perigosa de Christian e o fato de que entrar no papel que ele tinha escrito para ela poderia levar sua fixação para novos patamares, Annie abriu a cena.

Lendo com emoção (Hmm, isso pode ser bem divertido, pensou), Annie começou:

— Não consigo acreditar que estou me encontrando com você, Christian Chavéz. Você é o homem mais bonito, rico e impressionante que eu já conheci, ou conhecerei. Não acredito na sorte que tenho de ser vista com você.

Christian não precisava do roteiro. Sua parte estava toda na memória.

— Você está certa, Annie — disse ele. — Mas não se rebaixe. Você é uma mulher bonita, e eu quero fazê-la feliz.

— A única maneira de você me fazer feliz — leu Annie — é me deixar fazer você feliz. Farei qualquer coisa que você quiser. É só pedir

— Qualquer coisa? — perguntou ele.

— Oh, sim, Christian, eu imploro a você para me fazer pedidos sexuais doentios e deformados. Só então encontrarei alegria e satisfação na vida. — Ela levantou os olhos da página. — Eu não tenho de fazer qualquer coisa de verdade, certo?

— Você está se desviando do roteiro — advertiu ele.

Ela leu:

— Hoje à noite, com você, quero fazer algo que nunca fiz antes.

— O quê, Annie? — perguntou ele.

Ela deveria dizer "sexo anal". Mas Annie já tinha feito aquilo algumas vezes com Rodrigo.

Ela perguntou:

— Tem importância se o roteiro estiver factualmente incorreto?

— Apenas leia, por favor.

— Não vou fazer sexo anal com você — disse ela.

— Você não tem de fazer. Só quero que você ofereça.

— Seria melhor não pedir algo que eu não quero.

Christian entornou outro copo de vinho. O sommelier encheu- o novamente e saiu.

— Você, por favor, apenas leia o roteiro — implorou Christian.

— Um grande ator pode improvisar. Talvez eu pudesse tentar algum outro tipo de sedução. Nunca fiz sexo a três. Ou, eu sei que isso vai surpreendê-lo, mas nunca fiz fora de casa. Não tenho muita certeza se senti falta de fazer algo tão elemental nos cânones da experiência sexual, mas a idéia de areia ou sujeira ou insetos?

Eca.

Christian parecia estar prestes a chorar.

— Vamos pular para a linha vinte e quatro da página três.

Ela procurou o lugar designado.

— Certo — disse ela. — Eu digo "Quero sentir sua vara de fogo dura como tronco de carvalho inchada dentro da minha estreita e borbulhante..." Borbulhante? Quem descreveria sua própria vagina como borbulhante? Hmmmmm, vou pular essa parte, linha treze na página cinco.

— Mas você está passando o parágrafo que começa com "Fluidificar minhas bordas" no pé da página quatro. Adoro esse parágrafo.

— Ah, eu não posso ler a palavra "fluidificar" e depois jantar. Tenho certeza que você pode me permitir algumas pequenas omissões — disse Annie.

— Isso não está indo do jeito...

— Gosto dessa parte, sobre como eu desejo "deixar você foder minha boca até que ela transborde com o sumo dos deuses". Vamos manter isso. Embora eu questione o uso da palavra "deuses". Estou para ser estuprada oralmente por mais de uma pessoa com aparência de deus, ou só você? E se é só você, deveria ser sumo de um deus, no singular. Significando você, com todas as suas ejaculações divinas. É muito romano, na verdade, com "deuses", sabe.

— Gosto disso do jeito que escrevi — disse Christian. — Você não está captando a idéia de um roteiro, Annie. Uma linha leva à outra. Você não pode simplesmente tirar uma linha em particular e lê-la sozinha. Assim não flui. As palavras soam grosseiras.

— Você disse isso, não eu. — Ela provou do vinho. — Podemos pedir logo? Acho que eu poderia fazer desde o início, com sentimento, se não estivesse com tanta fome. Como você sabe, sou esfomeada. — Annie rapidamente folheou as páginas do roteiro e aí parou para ler uma linha da página 7. — "Esfomeada por sua carne em cada orifício do meu corpo." — Ela riu discretamente. — Mas antes que cheguemos lá, eu adoraria experimentar o coq au vin.

Com um movimento brusco de abotoaduras, Christian arrancou o manuscrito das mãos de Annie.

— Você matou totalmente o romance do momento! Nada disso vai soar sincero agora. Quando escrevi, estava falando de coração. Essas são palavras de amor, Annie, e você manchou-as.

— "Deslizar minha língua em torno da sua raiz máscula" são palavras de amor? — perguntou ela, genuinamente curiosa.

Ele respondeu jogando vinho no rosto de Annie e gritando:

— Você estragou tudo! — enquanto corria para fora do restaurante.

Ensopada na confusão, Annie ficou grata pelo fato de as manchas de vinho estarem na mesma blusa que as marcas de maquiagem de Maite (apenas um artigo de roupa sacrificado em duas investidas sexuais malsucedidas). Ela não podia ter ofendido mais Christian; escrever era a maior vaidade de todas.

Annie realmente ficou aliviada por não ter de ir para a casa com um pervertido. Desapontada também. Mas não demais.