Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Quinta-feira à tarde

— Ainda Devo me deitar? — perguntou Annie.

Ela e o enfermeiro macho e grande tinham entrado no centro médico da torre da Park Avenue, uma suíte no andar superior com uma ante-sala de triagem e uma sala de exames. Muito anti-séptico, eficiente e branco. Enquanto ela apontava para a mesa de exames tipo hospital, com sua cobertura de papel e estribos, Annie sentiu uma dor aguda e profunda dentro da pélvis, lembrando, nada amorosamente, seu último exame de colo de útero.

O homem de branco engomado que tinha salvado à vida de Ucker sacudiu a cabeça ("Só estava fazendo o meu trabalho. Você está me envergonhando com toda essa lisonja — mas eu gosto", ele tinha dito no elevador depois que Annie elogiou-o excessivamente), seu membro extralongo balançando de um lado para o outro.

— Sente-se aqui. — Ele apontou para as cadeiras e a mesa na sala de triagem. — Tenho de fazer um relatório, fazer as preliminares.

— Sobre Ucker? — Annie esperava que "preliminares" fosse o jeito dele dizer "preliminares sexuais".

 — Quero falar sobre você também — disse ele.

Ela notou a placa em sua mesa, que dizia Kuno Becker Ramonov, médico.

— Você disse que não se sentia bem lá embaixo, lembra?

— Você é médico? — perguntou.

— Tenho um estetoscópio e tudo — disse ele.

Annie sentou-se.

— Você é russo?

Ele sorriu, mostrando dentes irregulares, um tanto escuros e quebrados. Ele sentou-se atrás da mesa e ligou seu computador.

— Nasci em Moscou, mas moro em Nova York desde os oito anos.

— Você não tem nenhum sotaque — disse ela.

— Estou na América há vinte e cinco anos — disse ele — e aprendi inglês na escola fundamental, não tive nenhum treinamento formal de línguas, então aprendi a falar coloquialmente.

— Você aprendeu inglês na escola fundamental? Você faz parecer que aprendeu na lavanderia — disse ela, ainda mais impressionada com o dr. Jivago. — Achei que era enfermeiro — confessou.

— Compreensível — disse ele. — Muitos profissionais de enfermarias de prédios são enfermeiros. Eu comecei minha residência na Universidade de Nova York em setembro. Cirurgia cardiotorácica. Até lá, aqui estou. Agora vamos em frente. — Ele começou a perguntar uma série de coisas sobre Ucker: nome, endereço, telefone, condições médicas, alergias, seguros, idade, peso, altura. Quando ela não conseguia prover a informação necessária, Kuno sorria e dizia:

— Está muito bem — sempre com um jeito tranqüilo ao lado da cama.

Ele fez as mesmas perguntas sobre Annie, que ficou feliz por dar a ele seu número de telefone. O Dr. Kuno anotou toda a informação habilidosa e primorosamente. Ela fez uma pausa antes de divulgar seu peso, e disse:

— Quero perguntar uma coisa a você.

— Certo — disse ele, tirando os olhos da tela do computador e olhando diretamente em seus olhos como um raio laser.

Ele tinha a pele amarela, os olhos fundos, uma testa torta, dentes horríveis e o cabelo antiquado, mas Annie estava fascinada pela imagem como um todo. Ele era, como os franceses diziam, joli laid, "um feio bonito". Talvez ela tenha ficado cativada por seu corpo grande e magro (seu tipo favorito). Podia ser o fato de que ele aprendera inglês sozinho, ou que trabalhava tão perto e não usava uma aliança de casamento. Ou talvez seu inesperado bum (biff, bang, smash) de desejo tenha sido causado por todas as paradas e recomeços sexuais dos últimos dias. Seu estado bêbado ajudou. E a situação era recheada de fantasia — médico bonito, paciente atraente precisando de atenção do tipo sexual.

Qualquer que fosse a razão, Annie queria Kuno. Muito. A idéia de se deitar na mesa de exames e brincar de médico com ele dominou seu cérebro e ela não conseguia pensar em mais nada. Nem Ucker no hospital, nem Fiona indubitavelmente soltando fumaça lá embaixo, nem a reunião que ela estava perdendo conscientemente, nem intervalos éticos e morais. E certamente não a ameaça de que o sexo casual a faria se sentir mal consigo mesma. (De onde será que Ucker tinha tirado essa idéia falsa? Afinal, o que ele pensava que sua trupe de ex-namoradas estava fazendo com ele? Voltando para outra dose de nojo por si mesma? Annie teria de corrigir Ucker quanto àquele assunto, logo depois que provasse tudo a si mesma bem agora.)

— Queria me perguntar uma coisa? — Kuno despertou-a. Ela se deu conta de que tinha estado encarando silenciosamente seu rosto anguloso.

— Estou numa situação terrível — disse ela. — Esperava que você pudesse me dar alguma orientação médica.

— Eu ficaria feliz. Quais são os sintomas? — perguntou ele, se inclinando para a frente na cadeira.

— Minha respiração está acelerada.

— Sim?

— Meu pulso está rápido.

— Certo.

— Meu rosto está quente, corado.

— O que mais?

— Meus mamilos estão duros.

— Estou vendo.

— Minha vagina está soltando um fluido claro, com aparência de plasma.

— Acho que tenho informação suficiente para fazer um diagnóstico, srta. Portillo — disse ele. — Você gostaria de entrar na sala de exames? Preciso confirmar algumas coisas.

Ela jamais tinha se movido tão rápido. Pulou para a mesa, a toalha de papel amassada sob suas pernas. O médico seguiu-a para dentro e fechou a porta atrás dele gentil mas decididamente, um sorriso faminto e predatório em seu rosto. Ele colocou as mãos largas e ossudas nos ombros dela e disse:

— Abra os seus lábios, por favor.

Quais?, pensou. Abriu a boca e fechou os olhos, sabendo que teria uma grande surpresa.