Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Ela o empurrou.

— Me perdoe, mas você pareceu tão bonitinha quando tomou o tiro que eu não pude resistir a beijá-la — disse ele.

Ele tomou outro tiro e ficou com uma expressão maluca em seus olhos vesgos, como se fosse beijá-la novamente. Ela sorriu friamente, sem muita certeza do que fazer. Não queria ser grosseira, mas não queria aquela merda daquele ataque sorrateiro. Mudou de lugar no banco, recruzou as pernas. A mão dele levantou-se enquanto ela se reposicionava, mas seus dedos de lingüiça encontraram o caminho de volta para o seu joelho.

— Descobri que a maior parte das mulheres na match.com gosta de trocar e-mails durante semanas — disse ele — e depois falar no telefone durante um mês antes de marcar um encontro. Acho que elas acham que isso as protege. Mas você quis se encontrar logo. Você deve ter sentido algo em relação a mim. Estou definitivamente sentindo algo por você. Você é uma mulher muito sexual, Anahí. Uma moça muito especial.

Ela sacudiu a cabeça.

— Está me deixando embaraçada — disse ela.

— Não acha que é uma mulher sensual e especial?

— Prefiro não dizer.

— Você merece ser tratada corretamente. Deixe-me levá-la para jogar boliche.

— Não acho que eu poderia usar sapatos alugados.

Ele deu um tapinha na coxa dela. Ela empurrou as mãos dele. Graças a Deus ele captou a mensagem e se recostou.

— Quer outro tiro? — perguntou ele.

— Esta tentando me embebedar para eu ficar com você.

Ele riu.

— Estou sentindo sua hesitação, Anahí. Apesar de ser sexy e especial, posso sentir que está se mantendo na retaguarda. Beber álcool é uma maneira de relaxar para se divertir. Mas fazer você ficar bêbada não é a maneira pela qual vou lidar com uma moça especial como você, anahí. Você precisa de tempo e atenção. Precisa de um homem para mostrar-lhe o quanto é maravilhosa e levá-la aos lugares, comprar coisas para você. Com o tempo e passando horas e horas juntos, espero que possa capturar seu coração — novamente com as mãos de pernil em seu ombro e seu joelho.

Annnie não tinha certeza se foi o repetido uso da palavra "especial", mas depois daquele discurso estava quase certa de que Jasper jamais a veria nua. Ou a levaria para jogar boliche. Ou, ai dela, compraria coisas para ela. Mas tinha prometido a si mesma fazer uma tentativa verdadeira. Se suas esperanças tivessem de ser quebradas, então ela as deixaria serem aniquiladas completamente. E ela tinha de ser justa; se ele pesasse 75 quilos, ficaria tão insatisfeita com sua aproximação? Então ela tentou mudar de assunto. Já tinha ouvido o suficiente sobre os planos dele para capturar seu coração. Talvez ela conseguisse sentir alguma atração por suas realizações.

 — Então, Jasper. Me conte sobre os seus romances — disse ela.

Ele esfregou o joelho dela e perguntou:

— Está tentando mudar de assunto?

— Estou interessada em toda a sua vida, Jasper.

— É só um romance e, na verdade, é uma revista em quadrinhos que escrevi na escola secundária com um amigo meu. Nunca fizemos nada com aquilo, mas ainda a considero uma verdadeira realização.

— Você pratica violino todos os dias?

Jasper sorriu.

— Não trabalho direito com ele desde o oitavo ano, mas consigo tocar um "Scarborough Fair" razoável.

— Você disse em seu perfil que é autônomo.

— Trabalho com publicações.

— Você é editor? Agente?

— Vendo assinaturas de revistas por telefone para a Publisher`s Clearing House. É um ótimo trabalho. Nunca tenho de sair de casa e ganho muito bem. Dinheiro suficiente para fazer qualquer coisa que queira. Posso voar para a Flórida num instante. Poderia me permitir comer neste restaurante se eu quisesse.

Então ele nunca tinha tido qualquer intenção de levá-la para jantar hoje à noite, no Jean Pierre Louis Paul ou em qualquer outro lugar. Ele tinha apenas sugerido que se encontrassem ali para impressioná-la, depois passar a mão nela e embebedá-la no bar (um bar muito pouco apropriado, ela devia acrescentar, para carícias de bêbados).

— Já falei que estava com dor de cabeça? — perguntou ela. — Está ficando pior.

Ele se afastou novamente (e retirou as mãos), mas sua esperança não diminuiu.

— Posso curar dor de cabeça. Deixe-me esfregar suas têmporas.

— Prefiro que você mantenha suas mãos consigo mesmo — disse ela. — Não sou o tipo de mulher sensível ao toque.

Ele disse, um pouco hesitante:

 — Você não quer ser tocada? Mas você é uma mulher sensual. Gosta de orgias. Disse isso em seu perfil. Se não quer contato físico, isso só pode significar uma coisa. Você não se sente atraída por mim. Então por que pressionou para um encontro? Viu minha foto. A foto era sete anos e 50 quilos atrás.

— É difícil dizer como alguém é por uma foto.

Ele franziu a testa, suas faces redondas.

— Me perdoe, Anahí, mas uma fotografia sempre foi uma maneira excelente para saber a aparência de alguém.

— Você disse em seu perfil que é atlético — disse ela.

— Sou atlético — disse ele. — Ando de bicicleta ergométrica todos os dias. Jogo golfe. Estou na liga de basquete.

Annie mal podia acreditar que Jasper pudesse rebocar sua bunda de baleia para cima e para baixo numa quadra de basquete.

— Você pode ser atlético no sentido de que faz esportes, mas a categoria era "tipo físico". Não acho que o seu tipo físico possa ser considerado "atlético" por padrões convencionais. Ele pareceu perplexo.

— Minha foto mostra o meu corpo.

— A foto estava escura. Ela esconde algumas coisas. — Pronto. Aquilo era delicado o suficiente?, perguntou-se. Talvez demais. — Gosto de caras magros.

Ele se levantou e retrocedeu ao ouvir aquilo.

— Bom. Está certo. Então não há nenhuma chance de eu jamais capturar seu coração. Bem, então tenho de agradecer você por me encontrar hoje à noite. Passei bons momentos. Acho, entretanto, que vou simplesmente acabar com a noite e deixar você terminando o seu drinque.

Ele estava ferido, mas tentando manter o lábio superior rígido. Era doloroso de ver. Ele se esforçou para ficar de pé e depois saiu. Ela não o tinha visto por trás até então, e ficou ainda mais aliviada por ele ter saído. Suspirou em seu banco e tomou outro gole. Jamais fora uma fumante, mas naquele momento queria desesperadamente um cigarro.

— E uma coisa a mais, Anahí. — Jasper estava de volta, entrando rapidamente dentro do bar. Ele ficou de pé em frente à mesa dela, seu enorme corpo de navio agigantando-se sobre ela ameaçadoramente. Se uma mulher rejeitava um homem, ele a odiava; se um homem rejeitava uma mulher, ela odiava a si mesma. Jasper era definitivamente um homem. E estava puto. Ela esperava que não se sentasse sobre ela.

— Vocês, mulheres de vinte e sete, com os empregos que solicitam muito — disse ele. — Vocês acham que são tudo isso. Vocês acham que se um homem não se parece com Dylan McDermott e ganha tanto dinheiro quanto Bill Gates vocês são boas demais para ele. Bem, você e todas as moças como você vão se arrepender de dispensar homens como eu. Posso não parecer o Dylan McDermott, mas sou um homem bonito. E posso não ganhar tanto dinheiro quanto o Bill Gates, mas quarenta mil dólares por ano é um salário bastante respeitável. E um dia, quando estiver sozinha e infeliz, vai se lembrar desta noite e desejar que tivesse feito uma escolha diferente. Boa sorte, Anahí. Espero que encontre o que está procurando, mas não acho que vá encontrar.

Depois ele saiu batendo os pés novamente. Annie não tinha pedido uma análise de caráter ou leitura de sua sorte quando se registrara no match.com, mas ela tinha recebido os dois. Ela girou os ombros (eles podiam fazer uma automassagem) e considerou o que ele tinha dito sobre mulheres de sua idade, exigência e arrependimento. Seriam seus padrões muito altos? Estaria ela se enganando sobre suas possibilidades? Possivelmente, concluiu. Uma baixa de padrões poderia ser uma boa. Mas eles nunca baixariam o suficiente para deixar Jasper se dar bem. Ela baixou seu drinque. Jasper tinha de ter algum tipo de justificativa para ser dispensado. Culpar as mulheres era a única maneira de proteger a si mesmo. Ela realmente sentia pena dele. Ele tinha dito "Espero que você encontre o que está procurando". Annie mexeu seu drinque com o dedo mínimo e tentou imaginar o que poderia ser.

— Mais uma coisa! — Era Jasper de novo, empurrando as portas da frente do restaurante. — Você não é uma mulher sexy nem especial, e não merece ter mais tempo para você. E, tenho certeza, você provavelmente não gosta de comida tailandesa nem acha boliche divertido.

Depois, como um furacão, ele foi embora. A verdade era, e ela sabia o tempo todo, que ninguém que usava a frase "capturar seu coração" teria a chance de fazer aquilo. E, se ela aprendera alguma coisa com esta noite de expectativas frustradas, o homem que seria seu agente desrevirginizante — contanto que existisse neste ou em qualquer outro planeta — teria de ser atraente para ela, física ou intelectualmente. As duas coisas seriam boas. Mas ela jamais deixaria um fracassado entrar em sua cama, mesmo se levasse dez anos para transar. Essa constatação tornou sua busca muito mais difícil. A nova clareza, na verdade, colocava para ela um desafio. Ela pagou o garçom por seus dois Cosmos e os dois tiros (Jasper a tinha deixado com a culpa de rejeitá-lo e a conta) e saiu.

Ainda era relativamente cedo e as lojas do SoHo estavam abertas. Ela deu uma parada na Reinstein/Ross, sua joalheria preferida, e comprou um par de brincos de gotas de pérolas que eram meio antigos e retro, mas de um jeito moderno. Eles custavam 300 dólares, mas ela pensou que, se ia ficar sozinha e triste aos 40 anos, devia pelo menos ter acessórios brilhantes. No caminho para casa, esquentada pela compra e a tequila, Annie refletiu sobre alguns aspectos esclarecedores do seu encontro.

Dylan McDermott? Passo. Se Jasper tivesse dito Tony Mc-Guinty, talvez a acusação pudesse ter tido relevância. E tem mais, 40.000 dobres?