Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Sexta-feira de manhã

Annie tinha batido à porta do Garoto Vampiro quando voltou do Jean Pierre Louis Paul na noite anterior. Ela não sabia nada sobre ele intelectualmente, mas certamente se sentia atraída fisicamente. E, naquele momento em que se encararam no elevador, talvez estivesse atraída espiritualmente também. Mas ele não estava em casa. Ela esperou algumas horas com o VH-1 (grande canal para observar tendências nas roupas de baixo de mulheres), batendo na porta dele a cada meia hora mais ou menos. Mas ele não chegou em casa. Provavelmente conheceu a mulher perfeita e estava na casa dela, desaparafusando o seu cérebro.

Annie odiava o VH-1, mas ficou assistindo. Ela odiava tudo. Desesperada, ligou para Ucker, que tinha acabado de voltar do hospital onde tinha sido adoravelmente cuidado por uma jovem e bela médica residente que não pôde resistir ao seu charme de Homem Lenhador, apesar da língua em forma de bola e dos vasos capilares rompidos em seu rosto. Ele tinha feito Annie jurar que jamais chegaria perto dele com os lábios novamente. Depois de pedir desculpas pela quadringentésima vez, ela disse tchau e dormiu de vestido preto no sofá da sala. Quando acordou, às nove da manhã, já estava atrasada para o trabalho. Entre todos os dias.

Entre todos os dias. Esta manhã Fiona estava recebendo para um café da manhã para celebrar os 50 anos de Janice e lamentar a deserção de Maite para a filhotes.com. Aniversários de empregados raramente eram reconhecidos por Fiona (a cal-cinhas.com nunca festejava a passagem dos anos de Fiona na Terra, já que a data em que ela havia entrado no mundo era um mistério para todo mundo, incluindo Janice). Ou o funcionário não durava o suficiente para passar um aniversário no escritório, ou uma festa cortaria preciosas horas de trabalho. E servir vegetais cortados e presentear certificados para empregados que partiam — daquilo nunca se tinha ouvido falar. Muitas pessoas deixavam a calcinhas.com com um mísero "Não deixe a porta bater e quebrar sua miserável carcaça na saída". Mas Fiona sempre tinha gostado de Maite. E ela estava ali há tanto tempo quanto Annie. Se Annie encontrasse um trabalho melhor, ou simplesmente saísse de lá, ela não tinha certeza se Fiona faria uma festa para ela. Com Maite, Fiona sabia que se tratava de negócios. Com Annie, ela temia, Fiona pensaria que tinha algo a ver com ela. E provavelmente ela estaria certa. Não havia tempo para pensar. Annie tinha de se vestir, mas rápido. Ela normalmente puxava uma bolsa de sua coleção na parede para combinar com o traje do dia, mas, na pressa, tinha de ficar com a bolsa de noite preta da noite anterior (uma combinação horrível com a camisa azul de mangas curtas e a minissaia rosa da Barney`s). O café da manhã de aniversário/despedida estava caminhando bem às 9h45, hora em que chegou. Ela deu-se conta de que tinha chegado atrasada ou perdido quase todas as reuniões de equipe a semana toda, e que a paciência de Fiona com ela acabaria em breve, seja não tivesse acabado. Entretanto teve sorte quando entrou na sala de reuniões. Fiona não estava à vista.

A Tartaruga estava colocada com uma bela refeição (blueberries e framboesas, morangos mergulhados em chocolate, muffins de vários sabores, bagels, dez garrafas de champanhe numa fileira, suco de laranja, garrafas térmicas de prata com café, temperos e uma bandeja de queijos de Mangia). Annie mergulhou e caiu de boca com vontade. A única pessoa com quem ela não podia se obrigar a falar era Maite. A maga da tecnologia de partida estava sentada na cabeça da Tartaruga perto dos morangos, comendo-os um a um enquanto todos os produtores e gerentes de site de menor escalão faziam fila para beijar seu anel. Ela ia para o paraíso da Internet; o resto deles estava no inferno. Maite evitou contato ocular com Annie, para alívio dela. Janice devia estar em seu terceiro Mimosa. Ela estava enrolando a língua e agindo um pouco alegremente demais com o fato de estar virando os 50 anos. Annie, sorrindo timidamente, deu um beijo em seu rosto branco, com ar de boneca.

— Feliz aniversário, chefe — disse ela, alegremente.

— Você só faz 50 uma vez! — disse Janice.

— Está se divertindo? — perguntou Annie.

— Estou emocionada com a festa, com o amor nesta sala.

Annie mal podia registrar tolerância naquela sala.

— Você está num humor incomumente bom.

— Surpreendente, não é? Estou na meia-idade. Meus filhos esqueceram meu aniversário. Nosso querido negócio com a sacana.com dançou. Fiona está no escritório deles agora, implorando a Christian Chavéz que reconsidere. Ele apertou o botão na noite passada, quando não conseguiu convencer o Crédit Suisse a assinar conjuntamente o empréstimo.

O coração de Annie encolheu-se. Se o trato tinha fracassado (não era sua culpa), aquilo seria um golpe fatal para a empresa? Não podia ser. Janice estaria chorando em seu escritório e não alegrinha na sala de reuniões.

— Então, se a vida é tão desgraçada, por que está sorrindo? — perguntou Annie.

— Estou apaixonada — disse ela. — Aquele cara. Aquele que eu mandei um e-mail do seu escritório. O advogado do Upper West Side. É ele. — Janice engoliu seu Mimosa num gole e começou a servir outro. — Nos falamos ao telefone duas horas na noite passada, e vou sair com ele para comemorar meu aniversário hoje à noite.

Para Janice, o potencial para o amor podia erradicar a devastação de uma empresa quebrada e o esquecimento da prole egoísta. Janice tinha um encontro promissor, então estava delirando. Era insano. E se não fosse insano, era perigoso. Considerando o próprio desastre de Annie na match.com e a montanha de desapontamentos de Janice no serviço online, Annie duvidava que o encontro de sua chefe fosse tão maravilhoso como teria de ser para compensar tudo o mais que tinha dado errado (estava dando errado) com sua vida. Janice estava saindo de um longo outono, do qual seria monumentalmente difícil de se levantar. Querendo tornar o precipício mais superficial, Annie disse:

— Seus filhos não esqueceram seu aniversário. Pelo menos Jonatas não esqueceu.

— Ele não ligou de Londres, nem mandou e-mail, nem mandou um presente — disse Janice. — Lembra que eu o levei para almoçar? — disse Annie. — Ele realmente comprou algo para você. Nós tivemos de andar até o SoHo para comprar. Eu guardei para você.

Annie buscou em sua bolsa de noite e (graças a Deus) encontrou a pequena caixa de jóias da Reinstein Ross. Janice abriu a caixa e gritou quando viu os brincos que Annie tinha, apenas doze horas atrás, adoravelmente selecionado para seus próprios lóbulos.

— São bonitos! — disse Janice. — Como ele poderia comprá-los? E eu sei que ele não tem tanto bom gosto. Tenho de agradecer a você por isso, Annie.

— Foi ele mesmo quem escolheu. Foi direto ao balcão da joalheria e apontou para eles.

— Você é uma excelente mentirosa — disse Janice

— Você também. A empresa não está com problemas, só está dizendo isso para me empurrar para fora do ninho uma mamãe passarinho bondosa — disse Annie.

Janice riu. Ela estava rindo de qualquer coisa esta manhã

— Bem, Fiona realmente tem um raro talento para 1 piorar, pegar emprestado e roubar.

Annie deixou escapar um suspiro de alívio. Fiona salvaria dia. Ela sempre o fazia. A idéia de que, de um dia para o ou Annie passaria de futura milionária a outro membro da com nidade de desempregados sempre-em-expansão de pontoco era demais para ser medida. Ela tinha investido seu tempo sua energia na empresa. Teria de ser paga. Tinha de ser. A culpa apertou seu peito. Ela tinha estado fora a porra da semana inteira. Enquanto estava caçando homens, a empresa estava em dificuldades. Assim que Fiona voltasse, pediria desculpas. Trabalharia mais duro. Se concentraria novamente. Sintonizada, Fiona chegou com estardalhaço à sala de reuniões, andando na ponta dos pés com um corpete de cetim vermelho decotado estofado, saído diretamente da capa de um daqueles romances de supermercado. Sua cabeça-capacete de cabelos cor de corvo tinha caído para a esquerda, dando a ela uma aparência de ter levado um vento, de pessoa louca. Annie achou que caía bem para ela.

— Sentar — latiu a Dama Negra.

Todo mundo se sentou. Annie tinha acabado aceitando a maneira com que Fiona dava ordens a sua equipe, como se fossem cães. Havia algum pequeno conforto em saber quem era o não tão distante, ela ficaria sentada no topo de uma montanha de notas de cem dólares. E aquilo não seria bastante nobre? Sua líder destemida continuou:

— Quero que cada pessoa que não está trabalhando na produção de artigos ajude Annie com publicidade e promoção — direcionou. — Precisamos de negócios, negócios, negócios, publicidade, promoções cruzadas. Christian e eu esboçamos um plano de ataque, e a sacana.com vai nos dar uma festa de lançamento de cem mil dólares, com suas modelos servindo drinques vestidas com nossas peças. Nenhum jornalista de tecnologia ou negócios vai perder isso. Podemos fazer a festa da década na Silicon Alley. E este é apenas o começo. Agora tomem outro drinque, comam um muffin e voltem logo para o trabalho. Janice, em meu escritório. Annie, vinte minutos.

— Aqui vamos nós de novo — disse Annie.

Com renovado vigor, ela voltou para a sua mesa para organizar seus pensamentos e anotações. Em nenhum momento no próximo mês, Annie sabia, ela respiraria ar que não fosse dentro do escritório, do metrô ou do seu quarto solitário. A busca tinha acabado, por enquanto. O sexo teria de esperar. Seu telefone estava tocando enquanto ela entrava em seu glorioso cubículo. Presumindo que quem estava ligando era Ucker requerendo mais contrição, ela agarrou o fone e disse:

— Não posso expressar o quanto sinto muito — de novo.

— Pelo menos você consegue admitir que está em falta — disse a voz masculina que era muito anasalada para pertencer a Ucker. — Não sou pago pela calcinhas.com desde maio. Você me deve mais de setenta mil dólares, o que, eu temo, jamais vou receber. Me recuso a ser despojado por um bando de mulheres.

— Juan? — perguntou Annie.

— A quantas outras pessoas vocês devem setenta mil? — perguntou ele.

Annie não ousou imaginar.

— Acabamos de conseguir uma grande infusão de dinheiro — disse ela a Juan Watuba, presidente da Bolt Tecidos, fornecedor que a calcinhas.com usava para todos os seus produtos. — Posso pessoalmente assegurar a você que vamos fazer um cheque hoje.

— Vai fazer mais do que isso, srta. Portillo. Você vai entregar pessoalmente o cheque, e pessoalmente ficar perto de mim no banco enquanto eu deposito o cheque, e pessoalmente me levar de volta ao seu escritório se o cheque voltar. E se eu não conseguir o que me devem, você vai pessoalmente me levar de volta para o meu depósito onde eu posso enfiar três mil rolos de rede de nylon na sua bunda.

— Está me paquerando? — perguntou ela.

— Tem uma hora — disse ele, e desligou.