Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Normalmente, na rua ou num bar, se um homem com raiva ameaçasse enfiar qualquer coisa na bunda de Annie ou outras partes furadas, ela podia sentir uma pontada de medo. Suas faces outrora rosadas podiam ter ficado brancas como giz, e, dependendo do que ela tivesse jantado, podia facilmente se imaginar partindo para a náusea do medo. Mas Juan Watuba tinha aproximadamente 1,60 de altura. Ele não podia pesar mais do que 60 quilos. Sua idade era indeterminada, mas, julgand por seus tufos cinzentos (com o passar dos anos, o resto da s cabeça estava ficando careca), ele tinha pelo menos 58. Ele fumava muito. Ela podia pegá-lo numa briga. Não que tivesse coração para isso. Juan passava catorze horas por dia sentado atrás de uma mesa cheia de café e cigarros num escritório sem janelas nos fundos de um depósito frio alguns blocos ao sul de Chelsea Piers. Quando não estava implorando por trabalho no telefone, estava gritando com os homens que dirigiam a frota da Bolt de dois caminhões, carregando tecidos finos de todo o mundo para os cantos mais longínquos de Nova Jersey, Nova York e Connecticut. Quase toda empresa de roupas de Nova York produzia seus modelos além-mar, e Juan lutava há muito para segurar a falência. Felizmente para ele, alguns poucos babacas politicamente corretos, como a calcinhas.com, que terceirizava a manufatura para uma "senzala" em Trenton (conquistas do sindicato: paradas para o banheiro a cada dez minutos, paradas para o café cinco vezes ao dia e um dia de doença por mês), mantinham a Bolt com saldo positivo.

Mas não, claro, se as contas não fossem pagas. Juan tinha de passar pelo menos algumas horas por dia correndo atrás de dinheiro. Quando a economia estava boa, Juan conseguia. Quando estava ruim, ele levava uma surra. Em julho de 2007, estava se agarrando à beira do precipício com os dois polegares. E estava sozinho. A mulher de Juan tinha se separado dele três anos antes porque não conseguia suportar o estresse. Sabiamente (para ela), ela tinha guardado algum dinheiro se preparando para a mudança. Ela tinha planejado aquilo durante anos e tinha economizado o suficiente para contratar um babaca filho-da-mãe de um advogado de divórcio, que espremeu cada última gota dos bolsos do pobre Harry. Ele foi forçado a se mudar para um apartamento conjugado inferior em Clinton Hill, o bairro quase-na-moda-mas-que-nunca-chegava-lá ao norte de Hell`s Kitchen. Annie tinha ouvido dizer que Juan passava muitas noites por semana em seu escritório sem janelas do depósito, a um quarteirão das plataformas das Helicopters Tours na boca do rio Hudson, apenas para evitar as opressivas quatro paredes do seu conjugado. Annie o tinha encontrado apenas uma vez após seu aperto de mãos inicial no almoço de negócios com Fiona, exatamente um ano atrás. Desde então Fiona não tinha falado uma palavra com ele. Ele mal tinha falado uma palavra amigável com Annie com seis meses, mais ou menos na época da segunda onda de financiamento derrubado da calcinhas.com. Juan e suas desgraças semanais por telefone tinham sido responsabilidade única de Annie. Mas ela tinha descoberto como lidar com ele. Deixá-lo gritar por cinco ou dez minutos até que ficasse cansado e 1) precisasse usar o banheiro ou 2) desse uma pausa para tomar seu remédio. Depois ela faria promessas alegres nas quais ele queria desesperadamente acreditar sobre datas de entrega e prazos. Ela ia sair do telefone e fazer o melhor que pudesse para honrar suas promessas.

E tinha a intenção de honrar a que ela tinha acabado de fazer. Foi até o escritório de Fiona e explicou a crise. Annie conseguiu arrancar um cheque de Fiona de 25.000 dólares. Jurando que voltaria num instante, Annie pegou um táxi para a rua 20 com avenida 11. O táxi deixou-a na entrada do depósito Bolt, compartilhado com a Good Times Inc, uma empresa de equipamentos para festas que alugava cadeiras, toalhas, pratarias e gigantescas garrafas de café, entre outras coisas. Ela assinou com o guarda de segurança de meio expediente e depois subiu por montes de cadeiras dobradas e uma pilha de jarras de 70 litros de ponche antes de alcançar o escritório no fundo do depósito. Ela bateu na porta de Juan, confiante de que estava por fazer um homem pequeno e raivoso muito feliz. Ninguém respondeu, então ela entrou. Vamos falar de feng shui ruim, pensou. A mesa de Juan dava de frente para a parede dos fundos do escritório, então ele não podia ver a porta da frente a não ser que se virasse totalmente. Annie notou um caderno de telefones na cadeira de sua escrivaninha. Ele seria tão pequeno assim? Ela fechou a porta e empoleirou-se na beira da mesa dele, cruzou as pernas e esperou pacientemente. Cinco minutos se passaram antes que a maçaneta virasse. As portas se abriram e, do outro lado, estava um Adônis. Ele tinha vinte e tantos anos, 1,80, ombros largos e peito liso. Ela podia ver a ausência marcante de cabelos porque ele estava sem camisa. Sua pele, amendoada, brilhava suavemente. Seus olhos castanhos escuros cintilavam. Suas pernas, com short de denim e botas de trabalho com meias pesadas, eram pesadas de músculos e quase sem pêlos.