Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Mas, como ela tinha descoberto nos últimos cinco dias e meio com suas tentativas de adiar o estigma da revirginização, o desespero é a mãe da invenção. Ela tinha acabado de trazer o último dos apetrechos quando a porta do telhado rangeu e se abriu. Alfonso se encolheu com o sol, ainda brilhante no céu às 7h45 em julho. Ele estava bacana com jeans e uma camiseta Black Dog. Eles sorriram um para o outro. Depois desviaram os olhos. O desconforto e a luz do dia totalmente de frente fizeram-na ficar enjoada (ela imaginava o que aquilo provocava em Alfonso; ele devia se transformar num monte de cinzas de restos mortais). Muitos bilhetes educados e sedutores não faziam um relacionamento. Ela imaginou se suas cinco viagens de baixo para cima nas escadas escuras e úmidas do telhado valeriam para alguma coisa.

Annie alisou sua saia de algodão e disse:

— Nunca sei quanto fluido de isqueiro usar. — Ela queria relaxá-lo (e a si mesma) e sabia por experiência própria que oferecer um frasco de fluido de isqueiro a um homem era como oferecer bourbon a um Kennedy.

— Nem eu — disse ele.

Alfonso não parecia um homem que gostava de ar livre. Ele ficou ansioso e inquieto. Ela o havia constrangido.

— Você está com sede? — perguntou ela, apontando para sua área de piquenique improvisada.

Uma toalha limpa e uma geladeira portátil com doze Sierra Nevadas. Ele agarrou uma cerveja mas preferiu ficar de pé, uma das mãos no bolso. Annie dosou o carvão. Se dissesse que gostava dele, ele podia ficar mais à vontade.

— Eu não tinha certeza se você ia subir — disse ela. — É legal ouvir sua voz. Eu estava imaginando como seria.

— Já ouvi sua voz antes — disse ele. — Mas parece diferente pessoalmente.

O que ele estaria querendo dizer com aquilo? Teria escutado através das paredes? Pouco provável. Teria de perguntar a ele mais tarde. Mas ela disse:

— Gostei dos bilhetes.

— É — disse ele. E pegou o gargalo da garrafa. — Estou meio sem graça com aquele que deixei aqui na noite passada.

— Não fique — disse ela. — Eu gostei.

— Toda aquela história sobre sentir uma ligação. E dizer que você talvez não existisse de verdade.

— Por que você pensaria que eu não existo de verdade? Você me viu.

— É mais tipo assim, será que essa ligação realmente existe? — disse ele. — A gente nunca nem conversou.

Ela sorriu.

— Estamos conversando agora.

— Quer uma cerveja? — perguntou ele. Ela assentiu e ele trouxe uma garrafa. Eles ficaram de pé a poucos centímetros um do outro. Ele cheirava a sabão Ivory e cerveja. — Só moro em Nova York há um ano. É assim que as pessoas se conhecem aqui?

Ela tomou um gole. A bebida gelada limpou sua garganta.

— As pessoas normalmente se conhecem em bares.

— Já fui a um monte de bares — disse ele.

— Quando foi a última vez que você se apaixonou? — Ela não acreditava que tinha feito aquela pergunta. Sabia que sua próxima pergunta deveria ter sido, "Onde morava antes de vir para Nova York?", mas não estava interessada naquilo. Devia era se concentrar na conversa sobre o que interessava. Seu passado emocional interessava. Esperava que ele não perguntasse sobre o dela.

 — Quando eu tinha vinte e dois anos — disse ele.

— Então faz tanto tempo assim? — perguntou ela.

— Cinco anos. — Ele tinha 27. Um homem com a sua idade. — Desde então tive poucas namoradas, mas não fiquei preocupado com nenhuma.

— É assim que você sabe que está apaixonado? — perguntou ela.

Annie nunca tinha se sentado e feito uma lista concreta de maneiras de você saber que está apaixonada. Ficar preocupada com um homem: Annie não tinha lembrança disso. Quando era estudante, se concentrara nas várias maneiras de seduzir. Com Rodrigo, ela tinha passado bastante tempo imaginando por que estava com ele.

Alfonso disse:

— Pensar nela o tempo todo, imaginar suas reações, tentar descobrir o que ela pensaria das coisas, ou o que ela diria. Querer sua opinião sobre coisas comuns, como preços no supermercado ou comerciais de TV Isso é o amor. É a natureza do amor. Quando você não está com a pessoa, você pensa nela. E quando está com ela, olha para ela e não acredita no quanto você é sortudo.

Annie e Alfonso tomaram cada qual um gole de cerveja e olharam um para o outro por cima das garrafas marrons. Estaria ele considerando sua boa sorte por estar no telhado com ela agora?, imaginou Annie. Teria ele imaginado o que ela pensava de comerciais de TV? Ela não podia dizer que estava fazendo aquilo a respeito dele. Mas também andava muito ocupada.

—Estou com inveja — disse ela, finalmente. — Não tenho uma definição concreta do que significa estar apaixonada.

— Você pode usar a minha — disse ele. — Para notar os sinais.

Sinal dado.