Fanfic: Virgem por acaso [Terminada]

Merda. Ela deitou-se de costas na cama. Amanhã seria uma virgem de novo, e não havia nada que pudesse fazer a respeito. Talvez aquilo não fosse uma desgraça tão grande, racionalizou. Talvez estivesse tudo bem se desistisse, na verdade. Mas não estava. Ela ficou imaginando o rosto feliz de Janice em seu quarto cor-de-rosa.

Era a imagem da alegria e do regozijo. Pegou o antigo espelho de mão de prata que mantinha em sua mesa-de-cabeceira e segurou-o em frente ao rosto enquanto ficava na cama. Não era um bom ângulo. A carne em suas faces se esticava para baixo, fazendo-a parecer tensa e desfigurada. Este era o rosto da solidão, cinco minutos além da fronteira da juventude. Ela deixou o espelho de lado no colchão e rolou na cama. Depois de muitos minutos de aparvalhamento, Annis levantou-se para se vestir novamente. Cuidadosamente (e artisticamente) aplicou uma maquiagem (incluindo novas sobrancelhas) e aspergiu Obsession nos pulsos. Ainda tinha mais uma opção para tentar antes de desistir completamente e se render ao fracasso. Todo mundo tinha dito a ela a semana inteira para "simplesmente ir até um bar" e aquilo era exatamente o que ela faria. O bar no SoHo Grande Hotel era conhecido por três coisas: 1) modernidade, atraindo celebridades e super modelos; 2) titânio (o metal do momento) nos interiores; e 3) coquetel CoCo Canal, uma combinação mortal de café expresso, Bailey`s e creme de cacau. Annie tinha ido lá apenas duas vezes, as duas com Fiona, para sessões de bebedeira e cortejamento de investidores. Fiona tinha um contador cuidadosamente calibrado para saber exatamente quanto dinheiro um investidor estaria querendo repartir. Aparentemente, este número cresceria na proporção direta da importância da celebridade vista.

Se, por sorte, algum deles estivesse sentado numa banqueta no bar do SoHo Grande Hotel e entrasse Jennifer Lopez com um séquito de 20 dançarinos ridiculamente atraentes, malvestidos e de pele morena, com diversos fãs persistentes, Fiona conseguiria arrancar um adicional de 200 mil dólares acima do preço mínimo de compra de 400 mil (uma extração em dinheiro da qual Annie era testemunha). Mas se alguém estivesse no mesmo exato bar e entrasse Mira Sorvino com dois membros dos Backstreet Boys, o preço subiria apenas 30 mil (poderia subir até 50 mil se Mira ficasse com Nick ou Keith). Sem celebridades, nenhuma munição para atirar dólares para o céu. Naquele sábado à noite em particular, Annie estava apenas passando os olhos pela entrada do bar em busca de um rosto. O objetivo de sua passada de olhos era um homem barbeado, solteiro, se isso fosse possível (depois de desligar com o Acompanhantes Executivos, Annie estava de volta à arrogância da moralidade). Ele teria de estar procurando pelo bar com os olhos também, intencionalmente, não estando neste lugar em particular por nenhuma outra razão do que encontrar uma mulher atraente para uma troca mutuamente prazerosa. Ela se sentou sozinha no bar, bebendo um martíni-vodca, levemente envergonhada mas confiante em seu traje (Annie não era o tipo que expunha a barriga nem de leve, mas hoje à noite ela usava uma saia apertada curta e uma camiseta baby-look de corte alto, tudo preto). Ela avaliou o salão cheio e quente, uma, duas, três vezes, até que parou os olhos num par de longas e rígidas pernas em jeans. O camarada (cabelos curtos castanhos, chumaços repicados espalhando-se por sua testa) estava sentado numa mesa ao lado da janela. Seus companheiros de mesa, garotos/homens meio grosseiros, estavam rindo alto, bobos com o harém de moças que os cercavam. Mas esse cara, não. Ele estava se divertindo, feliz por estar ali, mas não era um participante ativo. Ele tinha o sorriso bonito e torto que ela amava, e tinha algo nele que o fazia "aproximável".

Ele parecia o tipo de homem cujos sentimentos eram facilmente machucados. Já que ofender homens parecia ser a habilidade especial de Annie nos últimos tempos, ela acreditava que era o cara perfeito para ela. Ela sorriu. Ele notou e deu um sorriso tímido de volta (adorável!). Ela bebeu seu drinque, lambendo um pouco o copo. O homem ficou de pé (alto!) e veio até ela. Certo. Ela também ficou de pé. Assim era o normal. Sorriso, paquera e você está a meio caminho. Quem ligava se ele era um completo estranho, com um milhão de anos-luz separando-o de seu universo? Quando ele chegou mais perto, Annie viu que estava usando uma camiseta do Supertramp (despretensioso!) e seus olhos eram castanhos e profundos, como se, através deles, você pudesse encontrar o amor de mil filhotes de Golden Retriever.