Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
EU NASCI INVISÍVEL.
Não faço ideia de como aconteceu. Será que minha mãe foi ao hospital esperando que eu fosse apenas mais um bebê normal, visível? Ou será que acreditava na maldição, sabia o que ia acontecer e me deu à luz em segredo? É uma imagem muito estranha, até mesmo para mim: um bebê invisível, que nasceu neste mundo. Como será que foi aquele primeiro momento, quando fui levado até minha mãe e não havia nada para ver, só para sentir? Ela nunca me contou. Para ela, o passado era invisível assim como eu. E deixou escapar que existia uma maldição: palavras irritadas trocadas com meu pai, não para meus ouvidos. Mas foi só isso. Não havia outro “por quê”. Nem outro “como”. Havia apenas “o quê”, e isso era minha vida.
Invisível. Eu sou invisível.
Quero continuar perguntando aos meus pais o “por quê”. Quero continuar perguntando o “como”. Mas não posso mais, pois eles já se foram. Meu pai me abandonou quando eu era pequeno. Foi demais pra ele. Minha mãe aguentou o quanto pôde. Quinze anos. E então seu corpo cedeu. Um vaso sanguíneo no cérebro. Faz quase um ano que estou sozinho.
Ninguém consegue me ver, por mais que eu me esforce. Posso ser tocado, mas é preciso me concentrar muito. E sempre posso ser ouvido, se eu escolher falar. Essas, suponho, são as regras da maldição. Eu me acostumei a elas, mesmo sem compreendê- las. Quando era bebê, tinha peso naturalmente, mas quanto mais me tornava consciente, mais tinha de me concentrar para me pegarem no colo. Eu não evaporo (parte de mim ainda está aí, por isso não passo do chão nem atravesso paredes). Mas quanto a tocar — isso exige esforço. Não sou sólido para o mundo, mas o mundo é sólido para mim. A maldição é a própria teia, tecida de modo intrincado e, muitas vezes, contraditória, e foi nela que nasci. Inocente, sou um escravo de seus desígnios.
A cidade de Nova York é um lugar no qual é muito fácil ser invisível, desde que você tenha um pai ausente que contribua com sua conta bancária de vez em quando. Tudo: mantimentos, filmes, livros, mobília, pode ser comprado pela internet. O dinheiro nunca passa de uma mão a outra. Pacotes são deixados nas portas.
Fico muito tempo dentro de casa, mas nem sempre.
Moro a quatro quarteirões do Central Park e passo a maioria de minhas tardes ali. Foi onde resolvi viver minha vida sem rastros e sem sombra. Sou só mais um componente do espaço. Fico nas árvores, no ar, perto da água. Algumas vezes, me sento em um banco por horas a fio. Outras vezes, ando por aí. A todo instante, observo. Turistas e frequentadores. Passeadores de cachorro, que passam diariamente ao meio dia em ponto. Grandes grupos de adolescentes, fazendo algazarra para chamar a atenção uns dos outros.
Idosos que também ficam sentados e observam, como se tivessem todo o tempo do mundo, mas, bem no fundo, sabem que a verdade é o oposto. Eu observo todos eles. Ouço suas conversas, testemunho a intimidade. Nunca digo qualquer palavra. Eles estão mais conscientes da presença dos pássaros, dos esquilos, do vento. Eu não existo. E, mesmo assim, existo.
Sinto saudade da minha mãe. Quando era pequeno, ela me ensinou a me concentrar, a me conceder um peso quando o instinto começava a falhar. Desse modo, ela ainda conseguia me carregar nas costas e dizer para eu me segurar. Ela queria que eu vivesse no mundo e não longe dele. E não tolerava nenhuma malcriação de minha parte: nem roubar, nem espiar, nem levar vantagem. Eu era amaldiçoado, mas isso não significava amaldiçoar as outras pessoas. Era diferente, sim, mas não era menos humano que o restante. Por isso, precisava agir como um ser humano, mesmo quando eu não me sentia nem um pouco assim.
Ela me amava, e essa talvez fosse a coisa mais extraordinária de todas. Nunca houve a menor dúvida. E o que quero dizer é que havia muitas dúvidas, mas nenhuma delas tinha a ver com o amor.
Ela me ensinou a ler, embora precisasse virar as páginas na maioria das vezes. A escrever, mesmo que o simples ato de digitar no teclado pudesse me exaurir. A falar, quando apenas ela estava por perto. A ficar em silêncio, quando mais alguém estava por ali. Ela me ensinou ciências, matemática e história, e a cortar o cabelo e as unhas. E me contou histórias sobre o bairro, histórias de sua época. Sentia-se à vontade me falando sobre o século XVI ou sobre um programa que assistira na TV. O único período em branco era o ano do meu nascimento. Ou qualquer coisa imediatamente anterior. Ou imediatamente posterior.
Ela nunca contou a ninguém. E, por causa disso, também ficou solitária — solitária comigo. Tal mãe, tal filho. Havia algumas crianças no lugar onde cresci, mas apenas as conheci de tanto observá-las, de vê-las muitas vezes por aí.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata