Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
Desenho durante horas e não me lembro de ter adormecido. Acordo quando a luz entra no quarto. Estou esparramada na cama, as folhas do papel pesado espalhadas ao redor. Meus dedos estão manchados de carvão, mas eu devia ter sonhado antes de ter a chance de desenhar Christopher ou o parque. Todas as folhas à minha volta estão em branco.
Tomo café da manhã e um banho rápido. Minha mãe e Christian já saíram e vão passar o dia fora, e eu quero prosseguir com minha ideia do encontro-com-Stephen-para-esvaziar-ascaixas.
Em menos de uma hora, estou batendo na porta do 3D.
— Quem é?
Meu braço formiga de alto a baixo ao ouvir sua voz.
— Sou eu.
Ao contrário de ontem, ele não me deixa esperando do lado de fora. A porta se abre quase que no mesmo instante, e ele sorri para mim. Passo um tempo olhando o cabelo, os olhos, os lábios, as mãos. Meu coração tem sobressaltos.
— Oi — diz ele com a voz baixa. Parece algo íntimo, a voz baixa, só para mim. Encolho os dedos dos pés nos chinelos.
— Oi. — Sorrio feito uma idiota, mas não consigo evitar.
— Quer entrar? — Ele dá um passo para trás, mas eu balanço a cabeça.
— Queria pedir um favor — digo. — E isso requer sua presença em minha casa. Sei que é pedir muito, pois é superlonge e contramão e tal.
Eu rio, mas ele parece pouco à vontade. Acho que sei por quê.
— Minha mãe e Christian vão passar o dia todo fora — respondo rapidamente. — Somos apenas eu e as caixas. Ele sorri para mim, e acho que levitei uns 3 centímetros.
— Caixas?
— Poderia ser útil ter ajuda para tirar as coisas das caixas. — Tento parecer sensual.
— Prometo recompensa.
Ele dá uma risada, e é aí que me lembro de que sensual não costuma funcionar para mim; acabo parecendo meio maníaca, e agora estou vermelha e chuto o batente da porta.
— Posso ajudar a esvaziar as caixas — diz ele, mas a voz soa um pouco insegura.
Estou começando a duvidar do plano. Por que ele iria querer desempacotar livros e louça? Ontem ele me levou a locais bonitos no Central Park, e é isso que sugiro na minha vez? Sou uma idiota. Apresso-me para salvar a ideia:
— Não precisamos esvaziar as caixas de verdade. Só tenho de apresentar provas do meu progresso. Sou a responsável por elas e, se não abrir uma ou duas por dia, talvez me expulsem do apartamento.
— Despejada, hein? — Ele abre um sorriso. — Ia ser uma tragédia.
— Eu sei — respondo. — É um prédio tão bonito. E ouvi dizer que é difícil encontrar bons vizinhos.
Começo a me afastar.
— Chego lá em um minuto — diz ele, e volta ao apartamento. Vou até o 3B e espero por ele à porta. Christopher aparece alguns minutos depois, tranca seu apartamento e me segue para dentro do meu. Paramos no meio da sala de estar. Seus olhos varrem o ambiente.
— Você tem uma infestação de caixas — diz ele. — Temo que seja grave.
Dou uma risada e me dirijo à cozinha para pegar uma faca. Quando volto para a sala de estar, Christopher empurra uma caixa para mim.
— Encontrei — diz ele. — Esta é a caixa para nós.
— Que seja. — Balanço a faca e começo a cortar a fita adesiva. Abrimos juntos, e retiramos lentamente os restos grudentos de fita. A caixa está cheia até a borda com objetos enrolados em plástico bolha. Pego uma das formas misteriosas e estouro algumas das bolhas, me divertindo com o estalido antes de rasgar o embrulho de plástico. Christopher fica se balançando nos calcanhares e me observa como se uma pessoa brigando com plástico bolha cheio de fita fosse o passatempo mais fascinante da Terra. A atenção me deixa eufórica.
— Lindo — diz ele, quando jogo fora a embalagem protetora e mostro uma bombonière em vidro furta-cor que pertencia à minha avó.
— Toma, pode decidir onde pôr. — Entrego a bombonière a ele, que a segura com cuidado, e fico grata por isso. O valor é apenas sentimental, mas acho fofo o modo como ele é cauteloso ao pegar.
— Então quando olha para mim, você pensa “decorador de interiores” — diz ele, e anda ao redor da sala, procurando o novo lar da bombonière.
— Acho que você tem as qualidades necessárias — respondo, desembrulhando uma caixa de música. Automaticamente, dou corda, embora já saiba que fazer isso vá roubar um pouco da minha alegria. A música tilintante vibra através da sala de estar. Ele faz uma pausa enquanto ouve com atenção.
— Send in the Clowns’?
— É do Christian.
— Sério?
— Ele tem desde que tinha 5 anos — respondo.
— É uma canção meio pesada para uma criança de 5 anos. — Christopher põe a bombonière sobre um extremo da mesa. Ela parece solitária sem os bombons coloridos que costumam a preencher.
— Minha avó. — Aponto para a tigela vazia de vidro. — A vó da bombonière deu para ele de Natal porque ele adorava música e palhaços. Não acho que ela tenha percebido que era uma música triste. Ficaria chocada se soubesse quem era Stephen Sondheim.
Fico de pé, segurando a caixa de música.
— Como seu irmão está se adaptando?
— Melhor que eu. — Suspiro.
Ele se encolhe um pouco, e mordo o lábio.
— Não quero dizer... Estou bem agora — digo. — Quando estamos juntos.
Parece que meu coração vai parar. Não quero falar muito e estragar tudo. Completo:
— Mas Christian tem o colégio e as coisas que o mantêm ocupado. Fico presa com a tarefa de tirar tudo das caixas.
— Ah... que injustiça. — Ele volta a sorrir, e eu relaxo.
— Não é? — digo, e apoio as costas da mão na testa, fingindo sofrer. — Ele já conseguiu capturar alguém do prédio. Um garoto que mora no andar de cima... no 5C.
— Sean — diz Christopher.
— Ah. — Inclino a cabeça e observo sua expressão pensativa. — Você o conhece?
Ele hesita.
— Um pouco. Acho que ele prefere livros a pessoas.
— Sou a última pessoa que poderia chamar isso de falha de caráter — retruco. — Mas, ainda assim, ele não é exatamente um tagarela, é? Não consegui entender nem uma palavra do que estava dizendo, mas tenho quase certeza de que é a nova paixão de Christian. E que Deus nos ajude. Observo sua reação, que é praticamente uma não reação. A expressão é aberta, agradável. Tudo o que diz é:
— Sean parece ser muito tímido. Por isso resmunga. Seguro a caixa de música um pouco apertado demais.
— Vamos dar uma parada. Vou pôr isso no quarto de Christian.
— Uma parada, já?! — Christopher olha para as outras pilhas de caixas ao redor da sala. — Nós só tiramos duas coisas da caixa.
— Eu disse que só precisava apresentar provas do progresso. — Meneio a cabeça em direção à bombonière. — Você já a providenciou.
Ele dá de ombros.
— Quem vai ser despejada é você.
Eu o conduzo para fora da sala de estar, pelo corredor, e faço uma pausa para colocar a caixa de música no topo da cômoda de Christian. Cerro os dentes, frustrada por estar fazendo isso de novo. A autossabotagem como mecanismo de defesa jamais termina bem.
E não ajuda o fato de Christopher ter passado em todos os meus testes. Isso aconteceu ontem também. Guardei mentalmente a plaquinha que indicava “fase de testes” — mas ainda estava testando. Quando mencionei Christian e drag queen na mesma frase, Christopher nem se encolheu. E mencionar Sean e Christian juntos também não foi um problema para ele.
Eu não conseguiria suportar se Stephen fosse um deles. Os únicos que tentaram não ficar de cara feia, mas que inevitavelmente ficaram. Os que deram de ombros e disseram: “não me importa o que eles façam, mas não quero ouvir falar disso.” Aqueles que cochichavam pelas nossas costas, que davam desculpas quando você reclamava que tinham sumido.
Meu último namorado acabou se tornando um deles. Observar aquele relacionamento se desfazer não foi, de maneira alguma, uma tragédia épica. A relação teria morrido por si só, de qualquer maneira. A reação dele ao meu irmão foi apenas um catalisador que acelerou o fim.
Ultimamente é raro pensar em Robbie, exceto quando fico parada em frente ao meu quarto; sei disso porque estou pensando agora, embora preferisse não admitir. Associação machuca. Mas não posso negar que esses sentimentos acelerados, o rastejar do calor no meu pescoço combinado aos movimentos do meu estômago, todos os sinais de uma paixão nascendo, apareceram pela última vez quando esbarrei em Robbie enquanto levava um monte de suprimentos para a sala de arte do colégio. Xinguei até ficar sem fôlego, e ele riu. Uma semana depois, saímos juntos. Dois meses depois, eu estava gritando com ele no estacionamento da escola enquanto nossos colegas assistiam, cochichavam e davam risadinhas.
— Este é meu quarto — digo. — Quer ver? — Temo estar sendo atirada demais.
Deveria perguntar se ele quer assistir a um filme na sala de estar, mas quero que me veja, e eu sou meu quarto.
— Se quiser me mostrar — responde ele.
Respiro fundo e entro. Apesar de todo o meu pré-planejamento do evento tirar-ascoisas-das-caixas-com-Christopher, não acrescentei a limpeza do quarto ao esquema. Os remanescentes da minha noite sem dormir desprovida de criação ainda estão espalhados pela cama. Meu pijama estava pendurado na cadeira da escrivaninha. Há um cesto cheio de roupas limpas que aguardam para ser dobradas.
Autor(a): leticialsvondy
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— Ah — digo, e entro para tirar o papel e o carvão da cama. Enfio tudo na pasta de material de desenho e a deslizo de volta para baixo da cama. — Desculpe pela bagunça.— Está tudo bem — diz ele. — Pelo menos não está fedendo.Eu me sento na cama, alisando o cobertor amassado perto de mim.Christopher s ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata