Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy

— O Pop-Tart de Christian pula da torradeira. Ele cheira o biscoito como quem distingue as notas de um vinho fino.
Fico meio constrangida de ver Stephen antes de tomar um banho, mas não quero perder a chance. O fato de ele não ter telefonado me preocupa, e também tenho medo de perder a coragem em relação a um encontro dele com Christian caso não aja de acordo com o impulso do momento. Disco o número de Christopher. O telefone toca duas vezes.
— Ei. — A voz dele está cansada.
Fracasso.
— Acordei você. Desculpe.
— Não — diz ele. — Não acordou. Estou de pé. Simplesmente não dormi.
— Oh — digo. Ele ficou acordado a noite toda e não me enviou nenhuma mensagem nem telefonou. Parece que meu coração está desmoronando. — Você está bem?
— Estou tentando entender as coisas — diz ele. — Como foi a noite de filmes?
O tom de voz fica mais animado, e eu sorrio, aliviada.
— Ótima, na verdade... — Dou uma olhada em Christian, que está com os olhos fechados como se aparentemente tivesse chegado ao nirvana do Pop-Tart. — Você pode passar aqui?
— Agora? Você está sozinha?
— Sim — respondo. — Eu... — A culpa seca minha garganta. Vou ficar sozinha daqui a pouco, mas quero que Christian conheça Christopher. Não é uma mentira tão grande assim, é?
— Tá — diz ele, me interrompendo. — Preciso conversar com você sobre uma coisa.
Meu sorriso desaparece, e meu coração agora está em pedaços. A conversa. Ele quer ter a conversa do término. De algum modo captou o Eu te amo do texto, concluiu que sou carente demais, e está vindo até aqui para romper comigo. E quando me vir com o cabelo despenteado e um pijama surrado, vai ter ainda mais motivos para se livrar de mim.
Tento falar, querendo atrasá-lo, dizer que mudei de ideia e que a gente não deveria se ver. Mas minha boca parece cheia de algodão, e meus lábios ficaram dormentes.
— Já estou indo. — Ele desliga.
Coloco o telefone no balcão.
— Ele está vindo? — pergunta Christian.
Faço que sim com a cabeça. Meu irmão desliza da cadeira e vem até meu lado, a testa franzida.
— Qual é o problema? Parece que você vai vomitar.
Não quero responder porque provavelmente vou vomitar se abrir a boca

Ouvimos uma batida leve à porta, que é aberta. Christian se vira e sorri.
— Ele deve gostar mesmo de você se tem o hábito de simplesmente entrar como se morasse aqui.
Se eu não estivesse tremendo por saber que ele estava prestes a me dar um pé na bunda, eu ia sorrir. Sempre deixo a porta aberta para Christopher. Adoro quando ele entra assim, sempre abrindo os braços para mim antes mesmo de dizer “olá”.
— Isso é estranho. — Christian fita a porta aberta e olha além de Christopher, que está paralisado depois de dar alguns passos para dentro do apartamento.
Christian olha para mim.
— Alguém bateu?
— Christopher bateu. — Minha voz sai como o grasnado de um corvo.
Christopher continua parado. Obviamente, não queria terminar comigo na frente do meu irmão. Mas cá estamos todos nós.
— Christopher, este é Christian — digo. — Ele já vai sair para a escola. Achei que você iria querer cumprimentá-lo antes de ele sair.
— Dulce... — Christian franze a testa para mim. — Não tem ninguém aqui. — Não comece com a história do amigo imaginário de novo — retruco. — Não tem graça. Christian fica pálido.
— Não estou brincando.
Ele não fala mais, apenas se vira para a porta e fica olhando.
— Christopher, você o convenceu a fazer isso? — pergunto.
Christopher não se mexeu, mas as mãos estão cerradas ao lado do corpo agora.
— Que diabos está acontecendo aqui? — Christian esfrega o olho.
— Christian — diz Christopher, calmamente porém num tom firme.
— Ai, meu Deus. — Christian dá um pulo para trás. O cotovelo bate no copo de suco, que cai no chão. E se quebra. — Quem falou?
Christopher está me olhando agora. Encaro o olhar triste. Seus ombros sobem e descem quando ele suspira. As peças faltantes começam a se encaixar.
Acontece uma coisa que jamais aconteceu comigo. Nem mesmo quando vi Christian entrar no pronto-socorro. Começo a gritar e não consigo parar.