Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
Conto a ela tudo que sei. Não leva muito tempo. Isso, penso, é meu modo de agradecer. Isso, creio, é o modo de mostrar que não há mais segredos. Isso, espero, é o modo de fazer com que ela fique.
Tenho convivido com esta verdade por tanto tempo que já me acostumei a ela. Pela reação de Dulce é que percebo como é estranho. Como é inacreditável. Como é irreal. Também vejo como é triste.
— Você nunca frequentou o colégio — diz ela. Estamos sentados no sofá, de frente um para o outro. — Nunca trouxe amigos pra casa. Nunca teve...
— Éramos eu e minha mãe — digo a ela. — Todos os dias dos namorados. Todos os deveres de casa. Todos os jogos de tabuleiro. Todos os bolos de aniversário. Todos os todos.
— Deve sentir muita falta dela.
Balanço a cabeça.
— Não me permiti isso. Não do modo a que você se refere.
— Por que não?
— Porque, se eu sentisse, nunca mais teria conseguido deixar de sentir.
Verbalizar o fato já está me destruindo. A única coisa boa é que há alguém para ouvir.
— Desculpe — digo.
Ela balança a cabeça.
— Não peça desculpas.
— Não. Você não entende. Me desculpe por deixá-la nessa posição. É injusto fazer de alguém a única pessoa. Foi injusto com minha mãe. E agora é injusto com você. Odeio que ela veja que não tenho mais ninguém. Mas isso é parte de tudo que sei.
— E não tem ideia do motivo dessa maldição?
— Não.
— Nenhuma ideia de quem a criou? Nenhuma ideia do porquê?
— Nenhuma ideia.
— Mas seu pai sabe.
— Sim. Quero dizer, acho que sim.
Ela olha fixamente nos meus olhos.
— Então por que não pergunta a ele?
— Eu tentei.
— Bem, desta vez seremos dois contra um. Três, se Christian puder ir. Só de pensar em finalmente ter as repostas, eu fico tonto, assustado.
Mudo de posição no sofá para poder botar a cabeça no colo de Dulce. Eu me concentro para tentar sentir algum conforto ali.
— Não precisa fazer isso — digo.
Ela passa os dedos pelos meus cabelos.
— Eu sei. Não tenho de estar aqui. Mas aqui estou.
— Por quê? — pergunto.
— Alguma coisa a ver com amor, acho — diz ela. — Agora, fique quieto. Vamos descansar por um segundo. Temos muita coisa pra pensar.
Viro minha cabeça para poder olhar para ela. Ela se inclina para a frente.
Meu beijo não é suficiente. Tem tantas outras coisas que eu gostaria de compartilhar com ela. Amor. Medo. Gratidão. Vamos ao parque. Desta vez, ela percebe. O modo como todos me ignoram. O modo como olham se ela diz alguma coisa para mim. O modo como não deixo rastros.
— Como é ser assim? — pergunta ela quando encontramos um local tranquilo, debaixo de uma das pontes de pedra.
— É difícil dizer — respondo. Mas dá para ver que não é o suficiente, por isso continuo:
— Não é solidão, na verdade. Porque a solidão vem da ideia de que você pode estar envolvido no mundo, mas não está. Ser invisível é ser solitário sem o potencial de ser outra coisa além de solitário. Por isso, depois de um tempo, você se retira do mundo. É como se estivesse num teatro, sozinho na plateia, e tudo o mais estivesse acontecendo no palco.
— Isso é terrível — diz Dulce.
— Sim e não. Às vezes, mais sim, outras vezes, mais não.
— Mas sei o que você quer dizer com solidão. Acho que é mais solitário quando as pessoas em quem confia se viram contra você. Quando você está exilado. Passei por isso, ao menos um pouco. É como ser chutada para fora do palco e ser obrigada a ficar na plateia para observar como as coisas funcionam sem você.
Então ficamos sentados. Debaixo de uma ponte de pedras, observamos as pessoas correrem, caminharem, passearem. Uma plateia de dois agora. Quando voltamos ao prédio, ela diz:
— Quero que Christian esteja lá. Quando seu pai chegar. Acho que ele pode ajudar.
— Tem certeza? — pergunto.
— Sim. Pra mim, é muito fácil parecer forte quando estou com você. Mas
sinceramente? Não sou a maior fã de confrontos. Não sou muito boa nisso. No entanto, Christian é profissional. Quando meu pai nos acompanhou até o aeroporto, fingindo que estávamos fazendo uma viagem de família sem ele e não indo embora para construir uma vida nova sem-o-papai, acabei dando um beijo de despedida nele. Christian o chamou de babaca. E isso foi a coisa certa a fazer.
— Quanto mais gente, melhor — digo.
Ela vai passar os detalhes a Christian. De volta ao apartamento, sozinho temporariamente, não sei o que fazer.
Eles batem à porta às 17h30. Sei que são eles, pois meu pai jamais bateria.
— Uau — diz Christian quando abro a porta. Preciso me lembrar de que ele não está acostumado a coisas como portas que se abrem sozinhas.
— Pode entrar — digo a ele.
— Apartamento legal — comenta Christian, olhando em volta. Não sei se está apenas sendo educado. Faz muito tempo desde que fiquei me perguntando o que as pessoas achavam do meu apartamento. De muitas maneiras, ele se tornou uma versão de museu de si mesmo no último ano. Não é como se minha mãe tivesse morrido e, no mesmo instante, eu resolvesse comprar mobília nova ou pendurar coisas diferentes nas paredes. Todos estamos um pouco tensos e prestamos pouquíssima atenção uns aos outros.
Avalio as reações de Dulce, ela avalia as minhas, e Christian tenta avaliar as de nós dois, embora minhas reações sejam, claro, mais difíceis de descrever. Em vez de examinar minha expressão, ele examina o apartamento e procura pistas. Se elas existem, nunca encontrei. Dulce enfia a mão no bolso.
— Sei que é estranho, mas trouxe uma coisa pra você.
É um pedaço de papel dobrado. Em vez de entregá-lo, ela o desdobra para mim. Alisa. Coloca na mesa da sala de estar. É um desenho. De um garoto.
— Não está perfeito — diz ela. — Quero dizer, é só um exercício. Pra desenhar alguma coisa de memória.
— Esse sou... — pergunto.
— Sim. É você.
— Ele nunca se viu? — pergunta Christian.
— Não — diz Dulce, e olha em meus olhos. — Não creio que já tenha visto. Certo?
— Certo — murmuro.
Não quero ver.
Quero ver.
Vejo.
Lá estou eu.
Eu.
Lá estou eu.
Eu.
Uma versão apressada de mim.
— Achei que você...
— Você tem razão. Eu gostei. Obrigado.
Christian estica a mão e pega o desenho para olhar mais de perto.
— Nada mau — diz ele. — Quero dizer, você parece... real.
— Eu me sinto real — digo.
Nenhum de nós sabe o que fazer com isso.
— Posso ver o restante do apartamento? — pergunta Christian. Em resposta, eu ofereço algo que se assemelha a um tour. Estamos todos aguardando o barulho da chegada do meu pai. E, às 18h, pontualmente, ele aparece. A chave na porta. Meu nome sendo chamado. Voltamos para a sala de estar.
— Pai — digo —, você se lembra de Dulce? — Tenho certeza de que ele se lembra, mas talvez não do nome. — E este é o irmão dela, Christian.
Meu pai parece espantado.
— Ele também consegue ver você?
— Não — esclareço. — Só Dulce.
Ficamos parados num silêncio constrangido por um segundo. Meu pai oferece uma bebida a Dulce e Christian, como se morasse aqui.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata