Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
Pensei que Nova York seria diferente. E, ainda assim, cá estou, e palavras afiadas são disparadas dos meus lábios como dardos envenenados. É igual a todos os dias na outra casa. Mas esse menino não pediu por isso. Não de verdade. Ele não me fez derrubar as sacolas.
E, tudo bem, não é um menino. Sem dúvida, tem minha idade, e é alguém a quem minha mãe chamaria de “meu colega”. Pelo menos de hora em hora durante a viagem para o leste ela me lembrava de procurá-los, como se meus “colegas” fossem uma espécie ameaçada, a quem eu deveria capturar e catalogar como se eu fosse entrar em extinção em consequência da migração da minha família para este território estranho.
No entanto, me acostumei a acrescentar mentalmente dez anos à minha idade. Não é que a ideia da maturidade ou coisa que o valha me encante, mas faz algum tempo que não me relaciono com meus ditos “colegas”. Suponho que este seja um menino de 16 anos “normal”, como o restante deles, ao passo que tenho 16 anos no estilo “a vida pode e, provavelmente, vai te ferrar direitinho”.
E ao mesmo tempo que não defendo a ideia de que alguém ostentando um pênis deveria abrir a porta para mim ou jogar casacos sobre poças num passeio em dia de chuva, ele bem que poderia ao menos ter murmurado um “poxa, que saco” ou chutado o vaso Färm em minha direção. Porque, afinal, ele rolou pelo espaço entre nós e agora está parado aos pés dele. Fico tentada a soltar um “ótimo, pode ficar com ele!” e jogar o restante das sacolas dentro do apartamento, finalizando toda a cena com uma gloriosa batida de porta.
Mas esse plano não daria certo, mesmo porque ainda estou ajoelhada em meio ao desastre de porta-retratos, almofadas e copos de água com nomes como Flukta e Varmt, os quais estou convencida serem palavrões que os suecos usam pra rir da gente. Fico tateando pelo corredor, tentando descobrir onde minhas chaves caíram.
Uma dor aguda no peito me informa que o ataque impulsivo passou e agora me sinto mal por gritar com ele, sem falar que estou toda atrapalhada.
E ele só fica parado, olhando para mim. A culpa e o constrangimento já estão invadindo meu peito, obstruindo minha garganta, e me fazem desejar estar em qualquer lugar, menos parada naquele edifício que não se parece com minha casa, mas que, de algum modo, é minha casa. Pelo contrário, estou presa; meus pés parecem ter sido pregados no chão desse corredor claustrofóbico.
Sinto falta do ar que não está cheio de fumaça de carro. Sinto falta do horizonte. Como é possível um lugar que não tem um horizonte? Os seres humanos se desenvolveram em uma esfera que está girando num universo em constante expansão. O horizonte simplesmente existe. É como a gravidade. E mesmo assim as pessoas nessa ilha esquisita juntaram aço e concreto de qualquer jeito para apagar o local em que o céu toca a Terra.
É como se quisessem fingir que as regras aceitas pelo restante de nós não se aplicam aqui. Talvez, se eu prestasse mais atenção, percebesse que todos caminham a 12 centímetros do chão também.
Dava até pra pensar que minha mãe tinha mencionado isso naquele discurso sobre como Nova York vai ser muito melhor que Minnesota, e você quer ser artista e blá-blá-blá... mas ela não fez isso. Não é como se eu precisasse do discurso. Depois que aquilo aconteceu, eu estava disposta a vir. Todos estávamos. Não havia razão para fingir que Nova York era algo além de uma saída de emergência para nós três. Mas isso não tornava a mudança fácil. Desde que chegamos aqui, meus dentes têm rangido por causa do barulho constante, nada tem um cheiro bom e eu me sinto sempre como se estivesse prestes a ter uma dor de cabeça.
Baixo os olhos para minha blusa porque, da última vez que um garoto olhou tanto assim para mim, eu tinha perdido três botões enquanto carregava as caixas que minha mãe tinha empilhado na sala, deixando meus peitos se mostrarem para o mundo sem nenhum pudor.
Quando baixo os olhos, vejo que a blusa está intacta, então faróis acesos não são o problema. Talvez as garotas com quem ele está acostumado não falem como eu. As garotas de Blaine não falavam como eu. Ser simpática era mais importante que ser sincera. Só que a definição de simpática delas incluía fofocas que te apunhalavam pelas costas.
Pensei que talvez minhas arestas afiadas significassem que eu me encaixaria melhor aqui. Obviamente, minha teoria de que as garotas de Nova York são mais duronas não vai fazer muito sucesso. Já dá até pra ouvir a reprovação de minha mãe: não precisa ser áspera, Dulce.
Essa é a impressão que transmito à minha mãe. A filha dela: uma palha de aço. Estendo a mão para ele.
— Desculpe. É só que o metrô parecia uma sauna e o elevador estava ocupado, aí eu subi a escada, e foi uma péssima ideia. Quanto mais suo, menos educada eu fico.
Ele encara meus dedos como se estivessem com lepra, e eu recuo a mão.
Autor(a): leticialsvondy
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Ele pisca e ergue os olhos para mim. Com muito cuidado, se abaixa e coloca a mão, um dedo de cada vez, ao redor do vaso. Ele dá alguns passos comedidos na minha direção. — Desculpe... eu... desculpe. — Suas palavras são mais lentas que seus passos.Olho para ele com interesse, me perguntando se talvez ele não se ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata