Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
Estou paralisada na cadeira.
Matando. A maldição o está matando.
Any toca os cantos dos olhos com um lenço de renda. Me olha como se imaginasse que vai precisar encontrar outro lenço para mim. Mas não tenho lágrimas. O horror lentamente se dissolve em raiva e é tirado do caminho como um iceberg em uma corrente quente do oceano.
— O que você quer dizer com provavelmente? — pergunto.
O tom da minha voz faz Any pular da cadeira.
— Como é?
— Como é que isso provavelmente o pode estar matando?
Pouco à vontade, Any muda de posição na cadeira.
— Só estou tentando te alertar. Para se preparar para o pior. É impossível saber com certeza...
A hesitação me indica que ela está escondendo alguma informação.
— Mas?
— As maldições têm certa lógica. — diz. — Um curso natural. A maldição de Christopher não foi uma punição para ele, foi um golpe cruel para a mãe, a filha de Arbus.
— Não compreendo. — Estou frustrada e me remexo. Quero sair correndo do magistorium para encontrar Christopher. É como se cada minuto que fico sentada aqui, aguardando uma explicação, fosse mais um momento em que o estivesse perdendo. Ele não é mais simplesmente invisível. Ele vai desaparecer para sempre.
Any franze os lábios.
— Arbus concebeu a maldição para tornar uma criança invisível e retirar sua existência, juntamente a toda alegria e exuberância que deveriam acompanhar a chegada de um bebê, e mantê-la oculta da maior parte do mundo, mesmo dos próprios pais. Arbus tomou muito cuidado ao conjurar: quis ter certeza de que Christopher sobreviveria, para sempre assombrar a mãe. Arbus não deixaria nada ao acaso.
— Por isso suas roupas desaparecem. Por essa razão era sólido quando bebê. Foi por isso que continuou vivo até hoje.
— Sim. Imagino que sim.
Não consigo ficar nem mais um minuto sentada; faço um esforço para sair da cadeira e caminho até a porta.
Any observa minha caminhada frenética pelo cômodo.
— Mas quando Arbus lançou a maldição, ela recaiu sobre a mãe de Christopher; não sobre o próprio Christopher.
Ela faz uma pausa, e me obrigo a ficar parada e encará-la.
— Só posso imaginar. — Ela fala devagar, com deliberação. — Mas com a mãe morta, não há meio de saber qual será o efeito. Se a intenção da maldição era realmente se disseminar por gerações, pode ser que Christopher fique bem. Mas não há meio de saber.
Como eu disse, por sua própria natureza e intenção, a maldição é instável. — Any suspira. — Sendo assim, é imprevisível e muito, muito perigosa. Para Christopher... e para você.
Meus olhos se fixam aos dela sem piscar enquanto tento processar suas palavras. Instável. Imprevisível. O que essas palavras significam? Busco um relógio do juízo final com uma contagem regressiva precisa, mas tudo que ela me oferece é um relógio de sol em um dia nublado.
Em vez disso me concentro em algo que sou capaz de controlar: eu mesma.
— Por que a maldição de Christopher seria perigosa para mim?
— Porque você é jovem e está apaixonada. — Ela dá um sorriso, mas desvio o olhar. O amor parece distante, ao passo que a perda parece próxima.
— Isso vai torná-la impulsiva — emenda Any. — E será menos provável que pense nos riscos que corre.
— Não me importo com isso. Apenas me diga o que a instabilidade da maldição fará com Christopher. — Volto a erguer os olhos para ela, encarando fixamente, embora meu coração esteja batendo nas costelas e eu me sinta um pássaro em queda porque ainda não aprendeu a voar.
Ela inspira rapidamente.
— Você deixou claro seu ponto de vista. Se quiser ajudar Christopher, precisa cuidar de si. Com esse comportamento, poderia atrapalhar em vez de ajudar.
— Mas não é por isso que estou aqui? — pergunto, com amargura. —Para que você possa me ensinar a cuidar de mim mesma?
— Com certeza. — Any se põe de pé. — E Christopher está muito seguro. Ele sobreviveu à maldição até agora. Deve ser um garoto resistente.
Quase rio, mas em vez disso viro as costas para ela. Na minha mente, a afirmação de Any é tão válida quanto se alguém me dissesse que sobrevivi a um terremoto, portanto não há perigo de microssismos. Tudo em que consigo pensar é na imprevisível teia de tentáculos que estala ao redor do corpo de Christopher. Ele não estará seguro se um deles se enrolar em seu pescoço para sufocá-lo. Até onde sei, Christopher é alvo de um assassino espectral que poderia atacar a qualquer momento sem aviso. Não posso tolerar as garantias de Any de que o tempo está do nosso lado.
Estou prestes a dizer isso quando, de repente, Any dá uma corridinha pelo cômodo e entrelaça o braço ao meu.
— Ora, ora, não enrugue a testa desse jeito — diz ela, enquanto me conduz até a escada. — Assim terá rugas aos 20 anos.
Para uma mulher da idade dela, Any se movimenta com uma velocidade notável. Estou me esforçando para não cair aos subir os degraus.
— Aonde estamos indo? — pergunto.
— Terminar seu treinamento, claro. — Any me puxa para dentro da loja de gibis, e semicerro os olhos na escuridão.
— Poncho, temos um trabalho a fazer — anuncia ela.
A sombra imensa atrás do balcão lança um curioso olhar de soslaio para a mulher minúscula.
— Depois de todo esse tempo? Realmente acha isso prudente?
— Tsc. Tsc. Tsc. — Ela enfatiza as palavras com palmas rápidas. — A menos que você esteja preocupado em estar enferrujado demais.
Olho para Poncho quando ele se levanta atrás da escrivaninha. De pé, tem mais de 1,83m.
Apesar da idade, Any parece uma criança comparada com esse colosso.
— Ele vem com a gente? — pergunto, sem ter nem pensado no homem grande que agachou, em silêncio, nas sombras da loja de gibis. Se muito, eu havia imaginado ser um desses grandalhões contratados para barrar garotos que ficavam apostando quem entrava na loja para espiar a “bruxa” residente.
— Certamente — diz Any. — Uma rastreadora não pode trabalhar sem um protetor. Ficaríamos vulneráveis demais.
Ela se encolhe.
— Embora eu não mereça a lealdade de Poncho. Já disse a ele muitas vezes para procurar alguém que permanece na ativa. Não uma peça de museu como eu.
Poncho resmunga alguma coisa que não consigo compreender.
— Você é o protetor de Any? — pergunto, desconfortável. Sem dúvida, parece adequado ao papel, mas ainda não compreendo que tipo de proteção ele oferece.
— Escudo — corrige Any. — Todos os rastreadores têm um escudo para protegê-los enquanto buscam e corrigem os males causados pelos conjuradores.
Com uma série de barulhos e estalidos, Poncho alonga os braços, pernas, ombros e pescoço metodicamente, me fazendo pensar em uma máquina que range ao voltar a funcionar e que precisa urgentemente de lubrificação.
— Do que você precisa se proteger? — pergunto a Any.
É Poncho quem responde, bufando:
— Acha que perdi um olho vendendo gibis?
Fico duplamente constrangida ao olhar a cicatriz que corta seu rosto onde o olho deveria estar, e sinto um calafrio. Isso apenas faz com que ele ria.
— Ora, ora, Poncho. Seja gentil — repreende Any, mas sorri com carinho para o homem imenso. — Ela é apenas uma garota, e este é um negócio assustador.
— E por esse motivo ela não pode ser mimada — diz Poncho.
Fico olhando a curiosa dupla. Eles continuam com as provocações — e é evidente que faltou pouco para hibernarem nesta loja escura do Upper West Side. Enquanto discutem se estou pronta ou não para o que vem pela frente, revigorados pelo novo objetivo, me sinto tão invisível quanto Christopher.
Depois de cinco minutos, pigarreio.
— Então... do que é que ele protege você?
Poncho olha com raiva por causa da interrupção, mas Any fica vermelha de vergonha.
— Claro, querida. Mas deixe-me explicar enquanto caminhamos.
— Aonde estamos indo? — pergunto por cima do ombro enquanto Any me impele em direção à porta.
— Para o metrô — diz Any. — É um bom lugar para sentarmos e observarmos sem chamar a atenção. O número de pessoas entrando e saindo entre a rua 86 e a Wall Street deve proporcionar uma bela variedade de maldições. Faz um tempo que não vou tão ao sul, mas pelo que me lembro, o Distrito Financeiro está, geralmente, superlotado de maldições.
Ela está radiante com a expectativa, ao passo que tento me acostumar à ideia de uma variedade de maldições ser “bela”, e penso se quero me aproximar de uma parte da cidade tão prolífica no assunto.
Saul tranca a porta da loja, e nós partimos. Ele toma a frente, e cada uma de suas longas passadas obriga a mim e Any a dobrarmos o passo para acompanhá-lo.
— Conjuradores são um grupo desconfiado por natureza — diz Any, quando nos apressamos a percorrer a rua. — Eles se movem pelo mundo sempre olhando por cima do ombro. E guardam um desprezo particular por gente como nós, pois nos consideram mosquitos pestilentos que poderiam muito bem ser espantados ou esmagados.
— Eles podem fazer isso? — pergunto. — Nos esmagar?
— Não com maldições — diz Any ao dobrarmos a esquina. — Os rastreadores têm uma imunidade natural. As maldições não pegam direito em nós. É claro, você precisa desenvolver sua imunidade, assim como todos os seres humanos fazem com as formas de doença mais comuns. Com o tempo, elas simplesmente não grudam.
— Temos um Teflon genético para as maldições? — Dou uma risada.
Ela torce o nariz para mim.
— Desculpe — digo, quando descemos os degraus até o metrô. — Então por que são perigosos para nós?
— Depois que tirei uma conjuradora do negócio, ela veio atrás de mim — falou Any. — Meu pobre Poncho tem cicatrizes demais por minha causa.
Solto um suspiro, e Any retribui com um esboço de sorriso.
— Não se preocupe, garotinha. Tenho um talento para me certificar de que as pontas das facas dos conjuradores fiquem enterradas na barriga deles.
A gargalhada de Any me surpreende.
— Ninguém é tão veloz quanto meu Poncho.
O homem dá um sorriso para ela.
— Ele é seu guarda-costas? — pergunto. — É assim que funciona?
Any concorda com a cabeça.
— Conjuradores raramente têm escrúpulos em relação a manter o trabalho seguro e as identidades secretas. Nós somos os únicos que podem expô-los ou ameaçar sua sobrevivência.
Estamos passando pela roleta quando Poncho emenda:
— É mais que isso.
— No meu caso, não é — diz Any rispidamente. — Porque não tenho o talento que você tem, Dulce.
Poncho fica eriçado e assume uma postura vigilante na plataforma enquanto Any segura meu cotovelo e me puxa para perto a fim de falar em voz baixa.
— Posso identificar maldições e ajudar as vítimas a entender o que está acontecendo — diz. — Posso dar conselhos. Normalmente é uma questão de estimar quanto tempo a maldição levará para se completar e como não agravar seus efeitos.
Tento me concentrar nas suas palavras, mas tenho dificuldade. Laurie tinha razão quanto ao cheiro do metrô. O calor abafado faz com que os odores, acres e nauseantes, se acumulem ao nosso redor. Mas não é somente o fedor de revirar o estômago: suor, urina e lixo. Tem um zumbido baixo que me envolve e consigo sentir, no entanto mal consigo ouvir. O ruído aumenta, e uma onda de vertigem me faz oscilar. Os dedos de Any apertam meu braço
Autor(a): leticialsvondy
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bibinha: OBG gatenha *-*. jucinairaespozani: Leitora nova? se for seja mt bem-vinda!! E mt Obg Gatenha!! — Shhh — diz ela. — Sei que não é agradável, mas tente respirar fundo e regularmente.Não deixe isso tomar conta de você.Um trem para. Saul fica na nossa frente enquanto o vagão esvazia, depois empurra ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata