Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
O cabelo é um ninho de rato com nós e sujeira. Os olhos são fundos e com olheiras o suficiente para serem hematomas, mas dá para ver que é um sintoma de cansaço. Os dedos finos estão trêmulos mesmo enquanto ela aperta a barra e luta para manter o equilíbrio. Ela é um fantasma que caminha pelo mundo dos seres humanos.
O som que me atrai para ela entra em foco. O zumbido do feitiço se torna um lamento; agudo e ininterrupto. É tão horrível que quero cobrir meus olhos, desesperada para interromper o lamento estridente. Enquanto a observo, a maldição se mostra. Ao contrário da maioria, esta mal se mexe. Paira sobre a mulher, escura e pesada, como uma capa que a sufoca, e falta a ela a característica frenética de tantos feitiços que eu havia testemunhado. A maldição densa se agarra à mulher feito piche.
— Ela não consegue dormir — murmuro. — Nem cuidar de si. Ela não tem esperança.
Any se inclina para mim.
— É uma maldição desagradável.
Ainda estou olhando para a mulher, e percebo que as roupas não foram lavadas. A sujeira acumula embaixo das unhas. Posso sentir que são sintomas da maldição. Não é que ela não tenha dinheiro nem casa, mas perdeu a capacidade de estar bem — física e mentalmente.
— A maldição vai matá-la? — pergunto.
— A maldição em si não é fatal — diz Any. — Mas poderia muito bem acabar com a pobre mulher. Ela está tão cansada que poderia se meter na frente de um ônibus sem nem perceber. Maldições de insônia são muito perigosas. E esta tem o detalhe adicional do asco por si mesma. Observo a maldição se acomodar feito um cadáver pelo corpo da mulher. Ao contrário do feitiço que afeta a garota perdida, que eu podia ver se afastando, esta maldição está em seu máximo, crescendo. Não vai a lugar algum tão cedo.
— Precisamos ajudá-la.
Any segura meu rosto e me vira em sua direção, para longe da mulher em estado deplorável.
— Você não está pronta.
— Mas...
— A garota — interrompe ela. — A criança perdida no fundo do carro. Você poderia ajudá-la.
Resisto à vontade de me virar novamente para a outra mulher.
— Como?
Any levanta o olhar para Poncho, e ele assente.
— Temos conversado, e botamos nossas cabeças para funcionar juntas — diz ela. — Ainda é arriscado, mas acho que deveria tentar.
— Tentar o quê? — Fico impaciente. Ver as maldições é exaustivo, não do ponto de vista físico, mas do emocional. Minha mente e meu espírito estão se esgueirando numa escuridão que colore o mundo com tons brutais, de vingança, mesquinharia, de poder alimentado pelo orgulho. É um mundo cheio de verdades feias que, uma vez notado, não pode deixar de ser visto, e lamento tê-lo feito.
— Como eu disse, minhas habilidades vão apenas até a identificação — diz Any. Os olhos estão apertados por causa da preocupação. — Mas, de acordo com a sabedoria popular e os poucos registros que consegui reunir, você poderia fazer mais.
— Será que posso quebrar as maldições? — pergunto.
A voz de Poncho se direciona para mim.
— É mais visceral que isso.
Estremeço ao ouvir a palavra visceral, sobretudo vinda deste homem que, imagino, tenha visto um bocado de vísceras graças à sua linha de trabalho.
— Seu talento pode lhe permitir extrair uma maldição como se fosse veneno. — Any não olha nos meus olhos. — Quando fizer isso, o feitiço não vai mais afetar a vítima.
— Ótimo. — Eu me aprumo. — Como posso fazer isso?
Ela balança a cabeça.
— Ouça, criança. Não se extrai a magia apenas para liberá-la. Você a traz para o próprio corpo. Se conseguir fazer isso, vai precisar de tempo para determinar sua resistência aos efeitos da maldição.
Olho de Any para Poncho.
— O que isso vai fazer comigo?
Any ainda está balançando a cabeça.
— Não temos certeza — responde Poncho. Ele se inclina para perto. Tento não encarar o olho ausente. E as cicatrizes. — Todo rastreador é diferente. Mas teoricamente seu corpo tem a capacidade de combater as maldições. De destruí-las.
— Porém haverá efeitos colaterais no início — conclui Any. — E não sabemos qual poderia ser a gravidade deles. Nem se isso vai mesmo funcionar.
Desvio os olhos do casal de rostos sombrios e fixo meu olhar na garota no fundo do vagão. Uma das mãos está sobre os olhos agora, e ela abandonou as tentativas de ocultar a tristeza.
— Não me importo — minto. A verdade é que estou apavorada. Mas não consigo ver este outro mundo, estes outros horrores, sem tentar consertar os erros. — Basta me dizer como fazer.
Poncho resmunga de um modo que parece ser respeito, e Any aperta minha mão.
— Como eu mesma não posso fazer isso, só consigo imaginar — diz ela. — Mas creio que seus instintos vão guiá-la. Você nasceu para fazer isso.
Suas palavras me assustam. Nunca aceitei a ideia de destino ou sorte. O mundo sempre parecera volúvel e injusto demais para tais conceitos altivos. Mas se o destino era real, me levou a me apaixonar por um garoto invisível. E eu faria qualquer coisa para salvá-lo. Não digo nada, mas aperto os dedos dela em resposta e então me afasto. Para longe do mundo. O segundo plano se ergue e oferece o misterioso universo ausente de cores. Os passageiros que bloqueiam minha visão da garota amaldiçoada se transformam em sombras. Posso ver bem através de seus corpos quiméricos.
A garota, em contraste, é um esboço consumado. A maldição já enfraqueceu desde o breve período em que a vi pela primeira vez. Eu a observo por um ou dois minutos e me pergunto qual deveria ser o próximo passo. O que é complicado em relação ao instinto é que ele é instinto, e não uma coisa que você chama quando quer.
Embora impaciente, me permito sentar e esperar, observando a maldição se mover. Ouço seu sussurro. Sem aviso, sem uma decisão consciente, sinto uma mudança nos meus sentidos. Como se eles se esticassem e quisessem alcançar alguma coisa. Meu espírito adquire foco. Força, tal como a de um ímã. E começa a puxar.
Continuo imóvel e respiro calmamente. Meu espírito continua a ser atraído e cria uma ligação entre mim e a garota dominada pelo feitiço. A maldição para de circundá-la. Fios de fumaça a abandonam e flutuam em minha direção. Não me mexo, embora esteja pronta para gritar. Os instintos em ação no meu corpo me dizem que a maldição não vai simplesmente pairar acima de mim. A ligação que criei vai atrair a mágica para dentro de mim a fim de causar o estrago que for.
E então acontece. Respiro fundo, e a fumaça desliza para dentro do meu nariz e boca. Com um tremor, solto um gemido e me inclino para a frente. Minha cabeça lateja.
— Dulce! Dulce! — Any está me sacudindo.
Levanto a cabeça e estou de volta ao mundo. O trem para, e os passageiros entram e saem como sempre. Ninguém lança nem um olhar em minha direção.
— Você está bem? — pergunta Poncho.
Minha cabeça dói, mas não é tão ruim assim — algumas aspirinas vão resolver — e, de resto, tudo parece normal. Sento muito ereta e procuro a garota. Ela está fitando o mapa do metrô colado na parede do trem. Aí começa a rir. Depois gargalha alto e atrai olhares dos outros passageiros. Seu rosto está iluminado devido ao alívio. Ela sai correndo do vagão quando as portas estão prestes a fechar.
— Funcionou — murmuro.
Any me abraça.
— Você realmente tem um dom. — Ela dá um beijo seco em minha bochecha.
Com ou sem dor de cabeça, eu me sinto maravilhosa. Posso fazer isso. Posso salvar Chrisopher. E talvez ajude inúmeras outras pessoas. Fico de pé e vou até a barra de ferro entre Saul e a mulher amaldiçoada pelo desespero. Ela precisa da minha ajuda muito mais do que a garota perdida.
— Dulce, sente-se. — A voz de Any me acompanha. — Precisa descansar. Devemos fazer isso lentamente. Por mais talento que tenha, isso ainda é muito novo.
— Não. — Não olho para ela. Seguro a barra para me equilibrar e me esgueiro para o segundo plano. Agora é tão fácil que consigo trocar os planos em um segundo, em vez de minutos.
Em algum lugar, como um eco distante, acho que ouvi Any me chamando. Ignoro o som e me concentro na mulher envolvida na maldição capaz de matá-la. Meu espírito se expande. Estou mais consciente dele agora; está repleto de empatia, impelido pelo desejo de curar. Quando a ligação é feita, estremeço e quase perco o equilíbrio. Dá para sentir o poder desta maldição, muito maior que o daquela que eu havia acabado de extrair da garota. Eu me apoio e atraio a mágica. O jeito como ela se movimenta é repulsivo.
Enquanto a outra maldição flutuava, este feitiço cai pesadamente das costas da mulher e escorre até mim. Luto contra o medo enquanto a poça escura toca meu pé. Ela desliza pelo meu sapato e para dentro da perna da calça. Não espero que o feitiço tenha tanta substância assim, mas ele é viscoso contra a pele e deixa um rastro grudento ao subir pelo meu corpo. Ainda assim, continuo a extraí-lo até ter certeza de que foi retirado completamente da mulher para dentro de mim.
Quero voltar para o mundo e ver se eu a ajudei. Mas estou febril. O calor desliza pelo meu corpo. Minha pele está em chamas. Baixo os olhos para meus braços e noto o surgimento de calombos vermelhos do tamanho de moedas de cinco centavos. Eles incham e se rompem, como feridas cheias de pus. Eu grito. Isso é um pesadelo. Tem de ser. Dou solavancos para sair do segundo plano e chamo por Any.
Acho que a escuto gritando, mas minha visão está turva. O tom sépia do plano se foi, mas meu mundo, cheio de sons e cores, está girando.
Minha pele ainda está coberta de feridas.
— Me ajudem. — Engasgo por causa da irritação na garganta.
A febre lateja em minha cabeça, me derrubando, e eu caio nos braços de Poncho.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata