Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy

— Christopher.
Abro meus olhos assim que ouço a voz de meu pai me chamando no sonho.
— Christopher, você está aqui?
Ele está na entrada do meu quarto e, por um instante, volto a ser criança. Com a luz por trás, ele não envelheceu. É a silhueta do meu pai, que veio me acordar para o jantar. Minha mãe espera na cozinha. Esta é nossa casa.
— Estou aqui — digo. Não é de modo algum a voz de uma criança.
Meu pai acende as luzes. Era assim que me acordava quando eu era criança: imersão total em vez de emersão delicada.
— Pai! — grito, e me desvio da claridade. Não há meio de eu usar a mão para cobrir os olhos.
— Desculpe — murmura ele (sem voltar a apagar a luz). — São quatro da tarde. Não deveria estar dormindo.
— Pensei que você estivesse trabalhando.
— Estou. Mas o restante da tarde é para enviar e-mails, por isso imaginei que poderia fazê-lo daqui.
— Você não precisa mesmo fazer isso.
— Eu sei.
— Quero dizer, não sei se quero que você faça isso.
— Olhe, vou apenas ficar no outro quarto. — Ele começa a sair.
— Não — digo, fazendo com que pare. — Você também não pode fazer isso.
— O quê?
— Não pode evitar as coisas que falo. Não pode simplesmente ir para outro quarto.
Talvez minha mãe aceitasse isso, mas eu não. É o modo como ele me acorda. É o modo como chama de o outro quarto. É meu medo de que ele vá tentar garantir algum controle sobre mim depois de todos esses anos. Não vou deixar que se livre disso assim. Não posso.
— Fale o que você quer dizer, Christopher.
Não quero destruir a ponte entre nós. Apenas quero que seja uma ponte levadiça e que eu escolha quando vai estar levantada ou abaixada.

— Você precisa me avisar — digo. — Não pode simplesmente aparecer.
— Christopher...
Meu nome paira no ar por um instante. Se ele aproveitar esta chance para me lembrar que paga minhas contas, nunca vou perdoá-lo. Já estou muito consciente disso.
Mas não descubro o que ele vai dizer, porque assim que meu nome desvanece, ouço o motivo pelo qual ele parou. Alguém está batendo à porta. Fico de pé e passo por ele. Não é a batida do entregador. É urgente.
Espio pelo olho mágico e vejo Dulce, Any e o caolho da loja de Any.
— Quem é? — pergunta meu pai atrás de mim.
Abro a porta que meu pai não havia trancado e vejo Dulce apoiada em Poncho. Ela parece pálida e abalada.
— Estou bem — diz ela. — Apenas temos de entrar.
— O que aconteceu? — pergunto enquanto Poncho a conduz até o sofá.
Any parece tão abalada quanto Dulce.
— Um passo de cada vez — diz ela. — Falei para ela que era um passo de cada vez.
— Quem são estas pessoas? — pergunta meu pai.
— Pai, fique fora disso.
Rebati rápido demais. Ele não vai aceitar.
— Christopher, não vou deixar você falar comigo assim.
— Pai, agora não é a hora.
Any se aproxima do meu pai e estende a mão.
— Eu sou Anahi Portilla. Sou a... professora de Dulce. E este é Poncho, um dos meus sócios. É como se um balão de pensamento realmente aparecesse acima da cabeça do meu pai: que tipo de professores são esses?!
— De maldições, pai. São eles que estão nos ensinando sobre maldições. — Eu me viro para Dulce. — O que foi que você fez?
— Comi demais. Ou tive intoxicação alimentar. Mas com maldições, em vez de comida. Onde está Christian? Não podíamos ir para minha casa, caso minha mãe estivesse por lá.
— Christian está com Sean. Quer que eu o chame?
— Não. Está tudo bem. — Depois ela olha para Any e Poncho. — Sério, está tudo bem. Não preciso que me vigiem.
Any balança a cabeça.

— O que você fez foi uma tolice. Tão perigoso. Não vou ensiná-la se não me ouvir com atenção.
— Quero ficar sozinha com ela — digo. — Por favor, será que todos podem
simplesmente sair?
Poncho parece ansioso em aceitar meu convite, como se não estivesse acostumado a ficar em apartamentos com janelas. Any está mais relutante e irrita-se um pouco mais com Dulce. Meu pai não parece se incluir no meu pedido e permanece onde está.
— Eu adoraria descansar um pouco — diz Dulce. Ela olha para Any. — Vejo você amanhã. Prometo que não vou fazer nada até lá. Aprendi minha lição. Fui longe demais.
Any parece satisfeita com isso.
— Nada de ficar observando maldições — diz ela. Então aponta em minha direção. — Sobretudo, nada com essa aí.
Penso que Dulce já aprendeu essa lição.
Poncho está à porta, e Any o acompanha enquanto olha para trás, para Elizabeth, a cada dois segundos, querendo ter certeza de que está fazendo a coisa certa. Meu pai fecha a porta atrás deles e faz uma cena ao trancá-la.
— Pai — digo —, se importa de nos deixar a sós para conversar?
— Christopher, sou seu pai.
— E Dulce é minha namorada. Quero conversar com ela. Você não precisa ficar no recinto enquanto isso. — Dulce olha para mim como se eu tivesse sido duro demais; ela não faz ideia do histórico da coisa toda. — Olhe — digo e abaixo o tom de voz —, volte para o jantar. Podemos conversar durante o jantar.
Agora meu pai parece constrangido.
— Desculpe, eu... bem, já tenho planos para o jantar hoje.
Não tenho o direito de ficar aborrecido, mas fico. A ponte levadiça é minha, não dele.
— Ótimo — digo. — Vejo você amanhã.
— No café — diz meu pai. — Estarei aqui para o café da manhã.
— Foi bom ver o senhor, Sr. Uckermann — diz Dulce. Embora esteja nitidamente fraca, tem força suficiente para amenidades.
— Foi bom ver você também, Dulce — diz meu pai, e fico surpreso por ele se lembrar do nome dela. Quando ele vai até “o outro quarto” para pegar o laptop, passo para o sofá com Dulce. Não a ponto de sufocá-la, sei que precisa de ar, de espaço. Mas quero ficar ao alcance dela, caso ela subitamente precise de mim.
Meu pai não diz nada além de adeus antes de ir embora. Ele sai, e Dulce continua a olhar para a porta ou para todas as coisas além da porta.