Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
Hesito, olhando sem jeito para ele, e depois para as chaves em minha mão. Será que lhe devo outro pedido de desculpas? Posso deixar um estranho entrar em meu apartamento? Mas se é meu vizinho, não é um estranho, certo? Ele deve morar aqui.
Minha mãe escolheu este prédio por causa da localização e da segurança. Acho que Law & Order a impressionou, afinal. Penso em minha mãe, que já está no hospital para o plantão dobrado, apesar de termos chegado ontem. “Alguém precisa pagar por esse lugar classudo”, falou, dando um sorriso depois de dar uma olhada no meu quarto às 4h30 da madrugada. Mesmo grogue de sono, resmunguei uma risada por causa da piada. O apartamento era bom, mas eu estava dormindo num colchão inflável furado.
— Você gostaria de tomar uma limonada? — pergunto. Para mim, limonada é a oferta de paz definitiva em plena onda de calor. Embora me dê conta de que não temos limonada na geladeira. Faço menção de dizer isso, mas não abro a boca, porque ele ficou pálido, como quando se está prestes a vomitar.
Ele fecha os olhos, e, ao fazer isso, uma coisa estranha acontece. É como se eu tivesse piscado, mas sei que não pisquei. Ele desapareceu, do mesmo modo que uma pessoa desaparece da visão periférica. Mas não o estou olhando de soslaio. Ele está parado bem na minha frente. Fico desesperada para entrar no apartamento porque tenho certeza de que isso significa que estou tendo um ataque de calor. Queria que ele dissesse alguma coisa, assim eu poderia ao menos receber sua recusa à oferta e ir embora. Mas então percebo que não me apresentei.
— Meu nome é Dulce — digo, e consigo enfiar a chave na fechadura. — Mas andei pensando em experimentar Ma.
— Dulce e Ma. — Ele inclina a cabeça, e um pouco de cor volta ao rosto. Ele fala muito baixo. — Você não gosta de Dulce?
Afe. A paixão da minha mãe pelo livro Mulherzinhas nunca vai me deixar em paz. Não estou disposta a explicar a quedinha de minha mãe por homenagens literárias nas certidões de nascimento dos filhos. Nem a tentar quebrar a cabeça com esse estranho garoto sobre o motivo que a levara a decidir que era uma boa ideia me dar o nome de uma garota que morre, e usar a alcunha da sobrevivente forte como meu nome do meio. A sobrevivência como algo secundário. Estou começando a achar que se não beber um pouco de água nos próximos cinco minutos, vou derreter feito um picolé humano.
— Meu nome do meio é Maria. — Abro a porta e faço um gesto para ele entrar na minha frente. — E meu pseudônimo é Ma.
Ele gira e entra no apartamento de costas, como se não quisesse tirar os olhos de mim. Eu provavelmente deveria trocar a blusa antes de dizer que vai ser água em vez de limonada.
— Um pseudônimo? Você é escritora?
— Ainda não publiquei — respondo. — Mas o trabalho que quero escrever ainda é meio clube do bolinha.
— Jornalismo? — pergunta ele. Adoro essa parte.
— Histórias em quadrinhos.
— Você quer escrever histórias em quadrinhos? — Ele está totalmente intrigado... acho.
Talvez tenha certeza de que estou mentindo. Não seria a primeira vez.
— Roteiro, lápis, tintas. Tudo ou nada. — Engulo a atitude defensiva que está adensando e pergunto a ele: — Então, vai ou não vai me dizer?
— Te dizer?
— Seu nome.
Ele faz aquilo de novo. Os olhos se fecham, mas sinto como se os meus ficassem fora de foco. Depois ele fixa os olhos nos meus e, juro por Deus, não dá para desviar.
— Christopher. — Tenho de me inclinar para ouvir. Quando ele sussurra o nome, sinto seu hálito no rosto. É estranhamente frio comparado ao calor grudento do apartamento.
— Bem-vinda de volta!
Christian tem um sobressalto e derruba as sacolas, e agora está tudo espalhado de novo na entrada. Ele não se abaixa para catar. Está olhando para meu irmão. Não posso culpá-lo.
Christian está esparramado no assoalho de tábuas de madeira, cercado por pequenos ventiladores. Está sem camisa, os braços jogados sobre a cabeça, e olhando para o teto.
— Que tal o metrô? É tão fedido quanto imagino? Tive uma ideia: as empresas de cosméticos deveriam abandonar os quiosques das lojas de departamento e começar a borrifar as amostras nas pessoas do metrô. Bom, hein? Eu ainda vou governar esta cidade.
O ar-condicionado ainda está dentro da caixa, atrás dele e dos ventiladores. Parece que os ventiladores estão se preparando para sacrificar meu irmão caçula — uma horda de suplicantes que fazem um zumbido e oferecem sua vítima aos deuses do gás fréon. Estou a ponto de gritar com ele por não ter instalado o aparelho da janela, mas então percebo o copo de limonada ao seu lado. Agora quero dizer ao meu irmão o quanto o amo.
— Vou instalar quando o sol se pôr — diz ele, obviamente captando minha primeira reação e se preparando para o pior.
— Tá bom, tá bom. — Abano a mão, deixando para lá. — Você pode só pegar um pouco de limonada para mim e para Christopher? E anote também o endereço do mercado para que eu possa comprar alguma coisa que você esqueceu, tá?
Christian senta ereto. Está com uma cara que nunca vi ninguém fazer, como se estivesse sorrindo e franzindo a testa ao mesmo tempo: uma mistura de diversão e preocupação.
— Quem?
— Christopher — digo. — Ele me ajudou com as sacolas. Mais ou menos.
Dou um sorriso na direção de Christopher e aposto que uma amizade pode nascer se compartilharmos uma piada sobre nosso talento comum para derrubar sacolas. Mas ele está encarando meu irmão, e suas mãos tremem.
O olhar de Laurie desvia para minha direita, onde Stephen está paralisado. As sobrancelhas do meu irmão formam um vinco, então ele volta a olhar para mim.
— Tá bom, Maria, que brincadeira é essa?
— Sempre que você me chama de “Maria” fica impossível usar meu pseudônimo — respondo.
— Tanto faz, Dul.
Mostro o dedo do meio para ele.
— Anda, maninho. Como sua irmã mais velha, posso, não, eu devo mandar em você. Duas limonadas. Agora.
— Por que duas? Não está meio grandinha pra ter um amigo imaginário? — Ele sorri. — Sei que você anda sonhando em me juntar à minha alma gêmea agora que chegamos nessa metrópole supostamente amiga-do-seu-irmãozinho-gay, mas não estou tão desesperado assim... ainda. Além do mais, minha imaginação funciona muito bem quando preciso. De todo modo, manterei você informada.
Não entendo. Meus olhos passam rapidamente de Christian para Christopher e voltam para meu irmão. Eu não poderia sentir mais calor nesse apartamento abafado, mas é como se alguém tivesse despejado um balde de água gelada nos meus ombros.
— Não seja grosseiro — falo, e mordo o lábio porque estou soando como minha mãe.
— Hum... — Christian começa a parecer preocupado de verdade. — Quanto tempo você ficou no calor? — Ele se levanta com dificuldade. — Vou pegar a limonada.
Meu coração dispara na caixa torácica feito uma bola de pinball quando Christian segue em direção à cozinha.
Ao meu lado, Christopher murmura:
— Está tudo bem. Vou embora.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata