Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
Deve ser o relógio. O que penso serem murmúrios são, na verdade, o zumbido das engrenagens e seus estalidos, no lugar do tique-taque clássico.
Eu me inclino, assustada pelo fato de ser capaz de ouvir os ruídos mecânicos do relógio de modo tão claro. Não me lembro de tê-los notado em alguma visita anterior. Colocando meu nariz perto o suficiente do mostrador — a ponto de o segurança pigarrear, fazendo-me dar um pulo para trás de susto —, fica evidente que os sons não estão vindo dali.
Minha boca fica seca, e sinto a pulsação latejando. Faço um esforço para me
movimentar lentamente. Não sei o que estou procurando enquanto continuo a ouvir. Mas o instinto me ordena a não fazer nenhum movimento súbito.
Além do segurança, que continua a me fitar com desconfiança, há quatro pessoas no Grande Salão. Uma mulher e o filho pequeno, de 3 ou 4 anos; um homem de paletó que parece estar dando uma olhadinha no museu enquanto espera fechar um negócio; e uma idosa com uma roupa Chanel, os cabelos grisalhos reluzindo como se tivessem sido polidos pelo seu mordomo. Nada nesse grupo me chama atenção como sendo fora do comum.
Então o lampejo súbito de uma sombra atrai minha visão. Um homem está parado no Jardim Coberto, mas observa o Grande Salão. Ele se concentra na mãe e na criança. Ela está agachada debaixo de São Francisco no Deserto, de Bellini, conversando com o filho.
Acho que ele está escutando uma aula sobre arte ou a promessa de tomar sorvete, desde que se comporte no museu.
Rapidamente volto a olhar para o homem na extremidade do salão. Alguma coisa na pele dele, ou melhor, no contorno de seu vulto, está errada. Consigo vê-lo contra a luz do jardim muito nitidamente. Quando ele se aproxima alguns passos, deixa uma marca: uma forma que parece aquelas silhuetas de corpos feitas pela polícia com giz, só que desenhada em carvão. Mas a imagem não está parada. A impressão em carvão pulsa como se fosse uma corrente elétrica. Mantenho os olhos afastados e começo a me aproximar. Embora confirme minhas suspeitas de que minha pele está até mais fria, sou recompensada pelos sons que ficam mais distintos à medida que me aproximo. Finjo examinar o vaso que ladeia a porta do Jardim Coberto enquanto lanço olhares de soslaio ao sujeito. É difícil olhar para ele, e não apenas porque estou tentando não chamar sua atenção. Meus olhos passam por ele e não conseguem encontrar um ponto focal. É como se eu não conseguisse de fato focar nele, pelo menos não de perto. Tomo fôlego rapidamente e me concentro e, assim que o faço, tenho a sensação de que forcei a passagem por alguma coisa para realmente examiná-lo. Com medo de que minha atitude recente pudesse disparar uma reação, fito o vaso até a fachada floral nadar na minha frente. Finalmente, arrisco um olhar. O homem não se mexeu nem está prestando atenção em mim. Sua atenção continua fixa na mulher e na criança. A mãe resolveu brincar de um jogo desanimado de adoleta com o filho. O homem sorri, mas é um sorriso cheio de malícia.
Não preciso me esgueirar para o segundo plano para testemunhar o que acontece a seguir. A característica elétrica do contorno escuro de sua estrutura aumenta e faísca de dentro para fora, como uma nuvem fina ativada por relâmpagos. Sem tirar os olhos deles, o homem murmura palavras que não consigo distinguir. A linha preta explode como um flash de câmera reluzente e começa a tomar nova forma, a qual se estende e cruza o cômodo. Pequenas elipses semelhantes a fumaça se dirigem à mãe distraída, e cada forma escura se sobrepõe à seguinte.
Elos em uma corrente. Uma corrente que ligará esta mulher a uma maldição. Não consigo respirar.
O conjuro é tão forte, tão vívido, que não consigo acreditar que outros frequentadores do museu estejam passando ociosamente pela corrente que liga o conjurador à sua vítima.
O homem de terno esbarra no conjuro enquanto pega o telefone para fazer uma ligação no Jardim Coberto. O segurança aparece e vai atrás do homem, que está violando uma lei sobre uso de celulares, mas não olha duas vezes para o conjurador.
Não sei o que a maldição pretende fazer. Mas os elos pretos e etéreos da corrente fazem os pelos do meu braço ficarem eriçados. Eles estão cheios de poder. Posso senti-lo como uma carga estática, mesmo a distância. Esse é o tipo de maldição que Any temia que eu drenasse. Mesmo antes de alcançar a mulher, posso ver que é uma maldição que exigiria um preço mais alto do meu corpo que a maldição do metrô. Mas talvez toda a minha extração secreta de maldições, todas as minhas inoculações tenham aumentado minha resistência o suficiente para que eu pudesse sugá-la.
Não importa. Preciso impedir isso. Não posso deixar aquela corrente tocá-la.
Corro direto para o conjurador. Ele está tão satisfeito com sei-lá-o-quê está prestes a fazer à mulher que nem se mexe. Ou isso ou ele, como a maior parte das pessoas, não acreditaria que alguém o derrubaria no Jardim Coberto do Frick.
Ele é maior do que imaginei. Bater nele é como acertar um muro de tijolos. Felizmente, o muro cai. Ele grita antes de bater no chão. Aterrisso sobre ele, mas rolo como se ele estivesse em chamas. Sei que tenho de sair daqui. Eu me levanto com dificuldade e olho uma segunda vez para ter certeza de que a corrente não está mais ali. Ela evaporou.
No salão, a mãe puxou o filho e olha para mim boquiaberta. Com a criança nos braços, sai correndo da sala.
Ouço uma voz ríspida e vejo o segurança se aproximando de mim. De um salto, disparo para a entrada e obrigo minhas pernas a correrem, embora os músculos estejam fracos por causa do tremor. Corro sem parar. Não sei como consigo, pois minha mente está paralisada e presa no Frick. Eu sei quem é aquele homem.
Quando bati nele, quando meus braços e pernas se entrelaçaram aos dele, senti aquela linha de carvão passar por mim, e eu o vi. Um homem solitário e aborrecido. Um homem que se alimenta como qualquer outro homem, mas que se alimenta da angústia de outros.
Um homem que quer que os outros o temam. Um homem que vive para controlar. Um homem que compartilha o sangue de um garoto invisível.
Eu sabia, sem sombra de dúvida, que tinha acabado de derrubar Maxwell Arbus.
Desabei na fonte do anjo como uma suplicante. Os turistas olhavam para mim, e um homem que usava uma viseira escrito I ♥ NY comenta em voz alta que os nova-iorquinos são todos loucos. Ignoro os olhares e me sento com as costas apoiadas na base da fonte.
Parte de mim se pergunta se Arbus se recuperou do choque de ter alguém se jogando em cima dele a tempo de se recordar do meu rosto. Não consigo evitar senão temer que ele pudesse ter me seguido e que aparecesse entre as colunas do terraço para se vingar de mim.
No entanto, o terraço continua tranquilo, mesmo que cheio de turistas e frequentadores do parque, e do anjo benevolente que parece olhar para mim.
Quando consigo recuperar o fôlego, fico surpresa com o primeiro pensamento claro que tenho.
Ele não era o que eu esperava.
Depois dou uma risada alta quando percebo que o avô de Christopher não seria o gêmeo idêntico de lorde Voldemort. Minhas risadas súbitas e agudas angariam mais olhadelas cautelosas dos turistas.
Eu me apoio na fonte até ficar de pé. Minhas pernas tremem feito gelatina, mas preciso voltar para casa. O rosto de Any e o vinco de reprovação perpassam minha mente, mas não posso ir até ela. Não em primeiro lugar.
Christopher merece saber primeiro. Ele precisa saber.
Maxwell Arbus está aqui. Em Manhattan. E não acho que seja coincidência. Talvez, de alguma forma, tenha descoberto sobre a morte da filha e tenha vindo dar uma olhada no último lugar em que ela morou. Ele poderia até estar procurando pelo neto invisível. Se é que sabe que Christopher nasceu.
As implicações de seu aparecimento em Nova York me atingem como uma torrente.
Posso não estar pronta para enfrentá-lo, mas isso não importa. Preciso ter esperanças de que sou forte o suficiente, de que criei imunidade suficiente à maldição para sobreviver a isso.
Embora o ar cheio de vapor e concreto quente proclamem que ainda é verão, sei que os dias de liberdade estão contados. Minha mãe já começou a me encher de perguntas sobre a volta às aulas. Tenho de escolher as matérias para o outono. E, quando eu ficar confinada na sala de aula, Christopher ficará sozinho. Vulnerável. E se Arbus o encontrar e eu não estiver ali? Não posso esperar. Precisamos encontrar o avô de Stephen antes que ele nos encontre. Tenho de contar a Christopher que o homem que o tornou invisível voltou, e que, apesar do risco e dos avisos de Any, estamos sem tempo.
Estou participando de uma corrida na qual vencer significa perder, e acabei de avistar a linha de chegada.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata