Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy
Saio do meu prédio. O porteiro está tão ocupado assistindo à programação de fim de noite na TV que nem percebe a porta se abrindo. Esse porteiro sempre foi útil pra mim.
Está uma noite fresquinha, de fim de verão. Tem alguns pedestres no Upper West Side, mas não muitos. Vou até a estação de metrô e pulo a roleta com facilidade. Ninguém grita para eu parar.
O metrô chega assim que piso na plataforma. As portas se abrem, e me encontro num carro com metade da lotação. Olho ao redor, aguardando que alguém, qualquer pessoa, olhe nos meus olhos. Nada. Então começo a me mexer. Fico saltitando. Faço polichinelos.
Giro ao redor de um dos postes de apoio. Ajo feito um doido. Ajo feito um louco. O tipo de comportamento que teria de fazer alguém olhar para mim ou desviar os olhos. Nada.
Passo de um vagão para o seguinte. A porta se abre, a porta se fecha; as pessoas percebem isso. O último carro não está tão cheio. Só umas poucas pessoas, grupos de casais e um cara sozinho. Vou até ele. Está de terno, deve ter uns 30 anos. Tirou a gravata e tem uma cerveja na sacola a seus pés, perto da bolsa do laptop. Todos os centímetros de seu corpo dizem Foi uma longa noite. Estou bem na frente dele. Aceno. Inclino-me até ficar a mais ou menos 3 centímetros de sua cara. Solto o ar. Ele recua um pouco.
— Você consegue me ver? — pergunto em voz alta. Agora ele se assusta.
— Estou aqui? — pergunto.
Ele olha ao redor, em todas as direções. Os casais estão longe demais. Ele não tem ideia de onde a voz está vindo.
— Não consegue me ver, não é?
— Que diabos?! — resmunga ele, ainda olhando em volta. Então ponho minha mão no seu ombro. Concentro-me. Ele dá um grito.
Eu me afasto. Ele está de pé agora. Todos estão olhando para ele.
— Desculpe — murmuro. Chegamos à minha estação.
Saio do trem.
Estou no meio da Times Square, iluminada como um videogame. As multidões são maiores agora: casais, sim, mas também grupos de 12, vinte, trinta. Mesmo depois da meia-noite, adolescentes brincam de esbarrar uns nos outros. Pais carregam filhas que dormem em seus braços. Os flashes de câmeras pipocam.
Quero que uma pessoa me veja. No meio daquelas centenas. No meio daquelas milhares. Só quero que uma delas me pergunte as horas. Pergunte o que estou fazendo.
Olhe nos meus olhos. Desvie quando parecer que estou bem no caminho.
Estendo os braços. Giro. Subo correndo a escadaria vermelha iluminada no centro do quarteirão. Esbarro num fotógrafo, depois em outro, e em mais outro. Faço pose com os turistas. Fico parado na frente da câmera. Eu os bloqueio e não bloqueio. Estou na frente deles e não estou. Estou aqui, mas não estou.
Meus pensamentos me mantêm acordado durante grande parte da noite.
Será que ela realmente me vê?
E se viu, por que viu?
Eu estava vestindo roupas. Devo ter parecido da idade certa. Mas mesmo assim.
Será que ela viu o que queria ver?
Será que viu o que eu queria que visse?
Será que ela é a única?
Durante dias, a evito. Ouço quando mais mobílias são levadas até seu apartamento. Ouço quando ela e o irmão estão no corredor. Ela e a mãe. Não me arrisco a ir até lá.
E se ela me vir de novo?
E se não me vir?
Todos os meus segredos começam com a primeira pergunta. Toda a minha vida é construída em torno de segredos. Não estou preparado para deixar para lá. Não estou disposto a ver o que vai acontecer em seguida. Porque é possível que nada aconteça, e isso poderia acabar comigo.
Eu me lembro da época em que minha mãe morreu. Do jeito como tive de me esconder do mundo. De como fiquei num silêncio tão profundo que me esqueci do som da minha voz, bem como do som da voz dela. De como, para minha voz, não parecia haver razão de existir se eu não podia ter a outra.
Em algum momento vou precisar sair. Começo a me sentir como se estivesse dando voltas em minha jaula. Vou ao parque e procuro por Ivan e Karen. Procuro pelos outros frequentadores. Mas o dia está mais quente que o normal, e todos estão com pressa. Volto para casa. Dou uma verificada na correspondência quando ninguém está olhando. Jogo tudo fora pra não ter de carregar.
Autor(a): leticialsvondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 31
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juhcunha Postado em 17/02/2015 - 00:54:41
eu gostei mais o problema e que se alguem um dia vai ver ele pra mim um dia ela vai quebra a madiçao e eles vao ter filinhos e todos vao pode ver a familia deles!
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juhcunha Postado em 08/02/2015 - 22:25:58
Ai meu deus me diz que no final vai fica tudo bem e todos vao ver ele!
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juhcunha Postado em 20/01/2015 - 21:43:13
poxa nimguem pode mais ver ele que triste! posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:49:50
Nao to entedendo mais nada agora todo mundo pode ver ele ou mais nimguem? posta mais!
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juhcunha Postado em 19/01/2015 - 13:48:45
desculpa nao ter comentado eu estava sem tempo tava uma locura aqui e casa ok!
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juhcunha Postado em 13/01/2015 - 17:37:36
cooitada da dul! o que sera que o ucker vai fazer!
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juhcunha Postado em 05/01/2015 - 23:48:56
a cada capitulo eu fico mais maluca por mais!
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juhcunha Postado em 30/12/2014 - 03:03:36
o que sera que o christopher vai fazer meu deus que curiosidade
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juhcunha Postado em 27/12/2014 - 21:39:04
Que bizarro essas maldicoes! Esse avo do ucker e muito ruim
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juhcunha Postado em 15/12/2014 - 01:13:16
nao se proculpa posta assim que pode gata