Fanfic: Invisível(adaptada) | Tema: Vondy

Tento pensar desajeitadamente em uma explicação para a chegada dela, mas minha mãe fala primeiro.
— Acho que os medicamentos a estão deixando um pouco confusa — diz ela a Any. — Mas os médicos falaram que não há nenhum dano permanente.
— Graças a Deus. — Any oferece um sorriso tranquilizador à minha mãe.
— Vocês duas se conhecem? — Estou imaginando um encontro clandestino que Any arranjou com minha mãe para explicar minhas atividades.
Christian interrompe:
— Fui eu quem chamou Any. Pensei que ela fosse querer estar aqui.
— E ele estava certo. — Any assente.
— Fico feliz que Christian tenha nos apresentado. — Minha mãe lança um olhar direto para ele. — Da próxima vez que você arrumar um emprego, espero ser consultada sobre isso.
— Um emprego... — Olho para Christian, que assume de onde eu parei.
— Na loja de gibis — diz Christian. — Sei que é em meio expediente, mas você falou tanto sobre Any que achei que deveria avisá-la do que tinha acontecido. — Ele força uma risada. — Não queria que você fosse demitida por faltar ao trabalho.
— Christian — censura minha mãe.
— Está cedo demais para piadas? — Meu irmão finge bater nas costas da própria mão.
Minha mãe suspira.
Christopher ainda está na cadeira. Em silêncio.
— Mãe, você podia pegar suco para mim? — peço.
— Tem água. — Minha mãe pega um copo. — Não sei se já pode tomar outra coisa.
— Pode perguntar à enfermeira?
Minha mãe hesita, mas depois diz:
— Está bem.
Espero ela sair do quarto.
— Christopher. — Minha voz falha.
Ele levanta da cadeira e fica ao meu lado, de frente para Christian e Any.
— Diga-me a verdade — pede ele enquanto afaga meus cabelos. — Você está bem?
As lágrimas entalam na minha garganta, mas tento engolir tudo:
— Por que eles não conseguem te ver?
Christopher não responde. Posso sentir o toque de seus dedos na minha têmpora. Estico a mão, cubro a dele com a minha e olho para Millie e para meu irmão.
— Por que não podem vê-lo? — pergunto em tom acusador, como se o fato de Christopher ser invisível fosse, por alguma razão, resultado da conspiração dos dois.

— Querida Dulce — diz Any em voz baixa —, claro que é a maldição. Como sempre foi.
Balanço a cabeça.
— Mas eu retirei a maldição. Eu a senti dentro de mim.
Quando digo isso, não consigo deter um calafrio. Meus braços e pernas agitam-se com a lembrança. Envenenamento do sangue. É a única coisa na qual consigo pensar para descrever. Certa vez, vi um filme que se passava em algum momento do passado no qual a medicina era horrível e um personagem morria por causa de envenenamento sanguíneo depois que seu ferimento infeccionava. Eu me lembro do close nojento do corte fatal. Veias escuras se espalhavam pela ferida, prova de como seu corpo se voltara contra si.
Foi assim que senti a maldição de Christopher quando a retirei do corpo dele, trazendo-a para o meu. Arabescos escuros de ressentimento e malícia que rastejavam pelas minhas veias, doentios e dolorosos.
— Precisei deter aquilo. — Christopher diz finalmente. — Estava matando você.
Minha voz é inexpressiva.
— Eu não estou morta.
— Você morreria — insiste Christopher. Ele vira olhos suplicantes para Any.
— Foi a maldição mais forte que já vi — diz Any. — Você não teria sobrevivido.
A raiva comprime meu peito e me faz sentir mais dor ainda.
— Você não sabe disso.
O silêncio dela me diz que ela não sabe.
— Maria. — Christian segura minha mão. — Como ele poderia arriscar?
— Eu não poderia.
— Você não poderia — sussurro, e fecho os olhos para poder simplesmente sentir o calor da pele dele. Tento dizer a mim mesma que, de alguma forma, está tudo bem. Que o que eu posso sentir e ver é suficiente.
— Suco! — anuncia minha mãe da porta. Ao ouvir o som da voz dela, Christopher recua.
Abro os olhos.
Minha mãe estende um copo de suco de maçã para mim com um floreio.
— Quem é a super-heroína agora? — Ela sorri e pisca para Any como se tivesse acabado de estabelecer um tipo de irmandade de loja de gibis.
Tento sorrir, mas sinto meus lábios tremerem. Christian e Any olham para mim com uma empatia que beira a pena. Quero atirar o suco de maçã do outro lado do quarto.