Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

Dulce havia removido três véus antes de ver Christopher surgir nos fundos do salão. Graças a Deus, afinal não sabia o quanto seria capaz de desnudar-se diante daqueles ávidos estranhos. De qualquer forma, era bom descobrir que jamais voltaria a passar fome, a julgar pelo número de moedas deixadas a seus pés no, palco a cada volteio que fazia... Bem, sorte do jovem flautista que Button providenciara para acompanhá-la naquela noite.

Avançando lentamente por entre as mesas de jogo, ele es­tava mais próximo do palco. Christopher. Precisava ter em men­te que dançava para ele. Os demais cavalheiros reunidos ali não eram mais do que figuras de madeira, tais quais as mesas e cadeiras.

Com isso em mente, rodopiou para fazer com que os véus se erguessem no ar e, alheia aos assobios vindos de todas as direções, fixou seu olhar no dele. Venha. Venha para mim, chamou-o com seu corpo. Venha me acariciar de novo. Christopher foi abrindo caminho por entre a aglomeração de ho­mens ao ponto de babar no peitilho da camisa que circunda­va o tablado, virando o corpo daqui e dali para não tirar os olhos dos dela.

Dulce soltou outro véu, o último que poderia tirar sem se expor além de todos os limites aos olhares cobiçosos ao redor de ambos e, com um gesto gracioso, pediu ao flautista que acelerasse o ritmo da música. Então, nutrindo-se das lembran­ças das carícias apaixonadas no jardim da sra. Blythe, bamboleou os quadris e serpeou o corpo inteiro diante de James, perto o bastante para que ele pudesse tocá-la se assim o quisesse.

E ele quis. O braço musculoso ergueu-se no ar, a mão larga, hesitante, avançou em sua direção, os dedos longos e benfeitos se abriram... Dulce escapuliu num rodopio, dei­xando aquele último véu como presente para seu mais embe­vecido e ardoroso admirador antes de correr a retirar-se do palco.

Na coxia, Button tratou de fechar as cortinas que separa­vam a boca de cena da platéia.

Nem bem as duas partes do cortinado se encontraram, Christopher saltou para o palco e abriu uma fresta por onde passar para ir à procura de sua misteriosa dançarina. Havia uma só saída dali, e ele a conhecia muito bem. Deus, mal podia acre­ditar que seus caminhos haviam se cruzado novamente quando já estava prestes a perder a cabeça de tanto pensar nela...

Depois de esbarrar em Button no pequeno lance de degraus que levava aos bastidores, seguiu em direção à porta de acesso a uma galeria. Lá estava ela, num trecho da estreita passa­gem iluminado pela única vela de sebo numa arandela, a pele tingida de dourado pela luz difusa da vela, de costas para a pequena janela nos fundos do corredor. Imóvel, como se não tivesse outro propósito senão esperar que ele vencesse a dis­tância a separá-los.

Christopher estacou. Quem era ela? Uma artista contratada para apresentar-se ali, uma mulher de reputação duvidosa que se exibia em véus... Então ela dançava para todos, para qual­quer um? Dilacerado por aquela idéia insuportável, ouviu-se sussurrar:

— Naquela noite, pensei que dançasse só para mim. Ela moveu o rosto para cima e para baixo. Sim.

—E hoje? Sim.

Ao ver leves vincos formar-se nos cantos dos olhos da odalisca, Christopher sentiu o coração aliviado ao dar-se conta de que havia um sorriso por sob o véu. Ela estava ali por sua causa pouco importava que os marmanjos no salão público a tivessem visto dançar.

Ela pôs-se a cantarolar, e a exótica melodia fluiu pelo cor­redor para ir alcançá-lo como uma cálida e perfumada brisa do deserto. Lentamente, em perfeito compasso com as notas mais altas e mais baixas, os quadris curvilíneos começaram a gingar.