Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

Assim que o viu sair e a porta fechar-se, Dulce desatou a abanar-se com a mão. Precisava começar a reprimir aqueles olhares que insistiam em escapar do seu controle.

Com as duas substanciosas refeições que havia feito na mansão de Uckermann desde que fora morar lá, sentia-se em plena forma para dar início à sua faina como professora. Infelizmente, a sala de aula não se achava tão bem preparada quanto ela. De fato, o aposento era pouco mais do que um antigo quarto de crianças com prateleiras para livros e duas poltronas infantis que já tinham visto dias melhores. O que encorajava mesmo era que as janelas altas deixassem o am­biente bastante arejado e iluminado e que o cômodo estivesse imaculadamente limpo.

Mas onde estavam os livros, as lousas, as cartilhas? O que era feito das penas e tinta para escrever?

Junto dela, com uma expressão ansiosa a desmentir o pretenso desinteresse em aprender o que quer que fosse, Flip indagou:

— O que vamos fazer aqui?

— Bem... — Dulce deu mais uma olhada pela sala. — Vou até o gabinete do sr. Uckermann ver se encontro algo para você ler e...

— Vai perder seu tempo.

— Está dizendo que vai se recusar a ler para mim? O menino baixou o olhar ao chão.

— Não.

— Então — indo sentar-se numa das poltronazinhas, tomou o cuidado de manter os joelhos afastados, como os homens cos­tumavam fazer —, você quis me dizer que não sabe ler, é isso?

— Ler é para cafetões — retrucou Flip sem encará-la.

— Como Wellington sabe ler, devo presumir que você esteja chamando nosso comandante e líder de cafetão?

— O quê?! Ora, se disser isso de novo, vou lhe dar um bom chute! E pouco me importa que você seja mulher!

— Então não me enganei: você realmente descobriu meu segredo.

— Você não tem caroço na garganta. — Flip apontou o pescoço dela. — Todo homem tem caroço na garganta.

O maldito pomo de adão. Constrangida, ergueu o nó do lenço.

— Não quer saber por que estou vestida dessa maneira? Fazendo que sim, o garoto cruzou os braços e ficou a encará-la.

— É que estou me escondendo de um homem... um homem muito poderoso.

— Mais poderoso do que Christopher?

— Sim. — Embora não tivesse nem sombra do porte do sr. Uckermann, Napoleão ainda era uma das pessoas mais poderosas do planeta. — Vai me ajudar a manter meu disfarce em segredo?

Depois de tornar a fazer que sim, Flip observou:

— Mas você vai ter de aprender uma porção de coisas. Rapazes não sentam assim.

Só então ela percebeu que havia juntado os joelhos e colo­cado as pernas de lado, com um tornozelo sobre o outro.

— Obrigada por me corrigir. — Voltou a largar-se de qual­quer jeito sobre a poltrona. — Bem, se você ainda não sabe ler, de nada adianta eu ir buscar alguns livros. De qualquer modo, esta tarde vou providenciar uma lousa e, amanhã cedo, começarei a lhe ensinar o alfabeto. Até lá, o que gostaria de fazer?

Flip partiu como um raio em direção à porta.

— Alto lá, senhor Phillip! Eu não disse que você podia ir embora.

De ombros caídos, o menino foi se colocar diante dela para praguejar num suspiro:

— Porcaria de vida.

Dulce fez força para não rir.

— Acabo de ter uma idéia: vamos treinar algumas fra­ses que um jovem e bem-educado cavalheiro deve usar no decorrer do dia.

— Como o quê?

— Como "Bom dia, sr. Walters, espero que tenha dormido bem".

Depois de cocar o nariz com o pulso, Flip pôs-se a repetir:

— Bom dia, sr. Walters... Espero que... que tenha... — E, vermelho como um tomate, deixou escapar uma imprecação que um garoto da idade dele nem deveria saber que existia.