Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

Depois de pensar por um instante, Dulce resolveu arris­car um tratamento de choque.

— Razoável.

— Como assim, razoável!

— Palavras chulas são de mau gosto. Um blasfemador que se preza tem de saber muito mais do que xingamentos gros­seiros. — Ao vê-lo franzir o cenho numa expressão atarantada, pôs-se a recitar uma enfiada de palavras que certamente fariam com que fosse apedrejada em qualquer cidadezinha russa que se prezasse.

Com um olhar espaventado e os lábios formando um "O" de puro arrebatamento, Flip esperou que ela terminasse, então fechou a boca e engoliu em seco.

— Uau, quem diria! — Visivelmente entusiasmado com o virtuosismo dela, enfiou a ponta de um dedo na orelha e pôs-se a girá-lo. — Você vai me ensinar alguns desses palavrões?

— Se você quiser... Ou melhor, vou lhe propor uma permuta: o que me diz de trocar uma frase de uma obscenidade em russo por outra de um bem pronunciado inglês digno de um rei?

Depois de avaliar a oferta e concluir que sairia lucran­do, Flip estendeu a mão que não via água havia um bom tempinho.

— Feito.

A expedição às compras no início da tarde começava bem: ao entrar numa livraria na Portobello Road, onde sua mes­tra tencionava adquirir uma lousa e um livro de estudos para principiantes, Flip ficou profundamente admirado com a quantidade de livros nas prateleiras que iam do piso ao teto.

Contente com a reação dele, Dulce acabou persuadindo o proprietário do estabelecimento a lhe vender o vistoso mo­delo do globo terrestre em cima do balcão e dali rumou para a papelaria, onde pretendia comprar papel, lápis e tinta.

As cores do anoitecer instilavam-se no céu quando os dois se puseram a caminho da mansão. Cansado e com fome, Flip decidiu abandonar de uma hora para outra o com­portamento digno de um estoico que vinha tendo, desandan­do a reclamar de tudo e qualquer coisa. Igualmente exausta e faminta, Dulce, farta das queixas vindas numa voz que mais parecia um rilhar de dobradiças enferrujadas, resolveu apertar o passo sem pensar no desconforto provocado pelas botinas uns dois números acima do seu.

Dobraram uma esquina para tomar a rua transversal à que estavam, e os eflúvios vindos de um dos restaurantes e clubes masculinos daquela quadra por pouco não fizeram as pernas dela se dobrar. Foi o que bastou para convencê-la a desistir de poupar o dinheiro que tanto lhe custara ganhar.

— Flip, acho que deveríamos tomar um coche de alu­guel até... — Mas o garoto não estava mais a seu lado. Nem ao lado, nem atrás, nem sentado no meio-fio. Com o cora­ção aos pulos, ignorou os pacotes que carregava e a dor nos pés para tratar de refazer na direção inversa o caminho que tinham percorrido até ali.