Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

 A cela de Lavinia Winchell era a mais luxuosa que ele já vira: um cortinado de brocado protegia a imponente cama de uma possível corrente de ar, e o fogo crepitava mansamen­te na impecável lareira, levada para lá por ordem real, uma bela criada de quarto atendia a toda e qualquer necessidade, ou capricho, da "prisioneira". O aposento estava atulhado de livros, bordados e outras distrações com que as damas gosta­vam de passar o tempo. Tudo providenciado pelo apaixonado lorde Winchell.

Parecia que nenhum lorde, entre todos os parlamentares do governo, queria assumir a responsabilidade de tratar mal, muito menos mandar enforcar, uma dama. Inclusive o príncipe regente. E como haveria de culpá-los, refletiu Christopher, se ele mesmo chegara a vender a própria alma por causa dos encan­tos daquela mulher?

Ela continuava a mesma de sempre, Quando se pensava em perfeição, pensava-se em Lavinia. Esbelta e graciosa, ostentava certa palidez devido ao confinamento, o que só fazia ressaltar a fragilidade angelical dos traços emoldurados pelos sedosos cabelos loiros.

— Christopher! Você veio me ver, meu amor! — Erguendo-se num impulso harmonioso, avançou como se fosse abraçá-lo.

Ele não se moveu. Tampouco deixou de mirar implacavel­mente os olhos azuis que pareciam de súbito umedecidos.

— Apesar de tudo, você não me esqueceu. — Lavinia deixou os ombros cair, um gesto que, no entanto, não teve o efeito de macular sua postura altiva.

— Basta de teatro, Lavinia. — Passando por ela, Christopher foi sentar-se na poltrona junto à lareira. — Guarde suas mentiras para alguém que se importa com você. Não estou interessa­do na história de louca paixão que você inventou para recitar no tribunal. Nós dois estamos fartos de saber que aquela bala destinava-se ao primeiro-ministro, e não a mim. Não fosse por minha irmã, eu não teria chegado lá a tempo de levar um tiro no lugar dele.

— Anahí! — Por uma fração de segundo, Lavinia assumiu uma expressão de puro ódio, porém logo em seguida cobriu o rosto com as mãos enquanto se punha a fazer sussurros soluçantes. — Sua irmã me detesta porque teve medo de que eu fosse tirar você dela!

Por algum motivo, a aia achou por bem escolher aquele instante para deixar o aposento. O soluçar de Lavinia cessou subitamente e, indo se largar sobre o divã, ela desatou a rir.

— A tonta foi contar àquele gordo idiota que vocês o tra­tam por "meu príncipe"... É bom, assim teremos um pouco de privacidade, caso você queira descontar suas frustrações em mim. — Examinou as unhas. — Meu corpo é tudo o que tenho a oferecer.

Christopher, que não conseguia nem pensar em tocá-la, quis saber: — Assim você teria como alegar uma tentativa de estupro?

A pobre esposa desencaminhada torna-se vítima da pérfida vingança de um sedutor sem escrúpulos? Disfarçando a irritação, ela retrucou:

—Só pensei que você gostaria de fazer amor uma vez mais... Como antigamente.

— Fazíamos sexo, Lavinia. Sexo ardente, pecaminoso, suarento. Isto é, até você ordenar meu seqüestro e minha tortura.

— Não tive nada a ver com aquilo tudo.

— Oh, claro que não. — Riu, irônico. — Imagine.

Ela pôs-se em pé e, com um simulacro de desejo no lu­gar da expressão de fria premeditacão, foi se aproximando de mansinho. Christopher sentiu o impacto da força libidinosa da bela dama como se através de um escudo, e as lembranças que jor­raram em borbotões em sua mente lhe contraíram o abdômen.

— Não. — Agarrou no ar a mão com que ela buscava aca­riciar seu peito. — Minha camisa está limpa.

O insulto atingiu-a como uma bofetada, desarmando várias camadas de pura máscara para revelar sua verdadeira face. Com um rosnado e labaredas nos olhos azuis, Lavinia elevou a outra mão com a intenção de arranhar o rosto dele.

Christopher afastou-a com um repelão. Desequilibrando-se, ela buscou apoiar-se no espaldar da poltrona, o semblante crispado numa carranca de límpido ódio. A beleza que a envolvia como uma segunda pele se foi.

— Você vai voltar a ser meu, ah!, vai. Não consegue ficar longe de mim, e sabe muito bem disso. Sou tudo o que você deseja numa mulher. Tudo.

Ele foi se colocar junto à porta. O pior era que Lavinia tinha razão. Não podia ficar longe dela. Precisava daquela miserável, se bem que não pelos motivos que ela imagina­va. Só lady Lavinia Winchell podia ajudá-lo a absolver-se da culpa e da dor que o fustigavam. Enquanto não conseguisse provar que ela era culpada e mandá-la para a forca por assas­sinato, iria continuar a procurá-la.

Depois de mirá-la uma última vez, deixou o aposento e,no corredor vazio, passou a mão pelos cabelos. Era hora de voltar para casa.