Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

Claro, nada seria capaz de arrancar de sua memória o mo­mento em que Simon Raines lhe contara de todos os Menti­rosos que haviam perdido a vida. Nada poderia apagar o fato de que seu melhor amigo e companheiro, Ren Porter, conti­nuava inerte no leito de uma casa de saúde particular ali em Londres. Assim como Weatherby, o antigo decifrador de códigos, ambos aos cuidados de enfermeiras zelosas e com pouquíssimas chances de recuperação.

Todos atacados após terem suas identidades reveladas a Lavinia e ao grupo dela.

Delatados por ele. O herói.

Virtutis Honor.

Seu estômago se rebelou.

Não muito longe dali, numa área menos nobre, mas ainda assim bastante respeitável da cidade, dois indivíduos jaziam num quarto tomado pela penumbra.

Ao entrar no aposento, a sra. Neely protegeu a chama da vela com a mão, embora nenhum deles fosse reclamar da súbita cla­ridade. No entanto, a enfermeira preferia ser cuidadosa. Mesmo tendo trabalhado em alguns hospitais e sanatórios particulares quando mais moça, jamais fora tratada com o respeito e a gene­rosidade que recebia do sr. Uckermann e dos amigos dele.

De mais a mais, nunca havia cuidado de pacientes que pre­cisassem tanto dela como aqueles dois. Dava-lhes de comer, banhava-os com o auxílio de um criado, penteava e barbeava os pobrezinhos, lia para eles e falava com ambos como se conversasse com velhos amigos. Ouvira dizer que mover rotineira­mente os braços e as pernas deles iria evitar que sofressem uma atrofia nos membros e, com a permissão do sr. Uckermann, passara a exercitá-los. Era assim dia após dia, após dia... Sua recompensa tinha sido ver um pouco mais de cor nas faces do seu rapaz, como o chamava. O nome dele era Lawrence, porém o sr.Uckermann lhe dissera para tratá-lo por Ren, na esperan­ça de que o moço esboçasse alguma reação ao apelido.

Deslizando até o leito dele, clareou um tantinho de nada a cabeceira da cama. Sim, Ren parecia bem melhor. Os feri­mentos tinham cicatrizado e o pavoroso inchaço no rosto e na cabeça havia diminuído sensivelmente naquelas seis se­manas. Além disso, todas aquelas cicatrizes ficariam menos evidentes com o passar do tempo. Que fatalidade. Tão jovem e tão bonito, com aqueles cabelos encaracolados...

Com um suspiro, foi até o outro leito. O pobre sr. Angus Weatherby, que lembrava seu finado e querido marido, fora encontrado na calçada, sob a janela do dormitório no quar­to andar do edifício onde morava, sem um só ferimento no corpo... A não ser no crânio, evidentemente, tendo em vis­ta que caíra de cabeça sobre o pavimento. Disseram-lhe que o tratasse por Angus, no entanto ela não se sentia à vontade para tratar com tanta intimidade um cavalheiro de sua idade. Assim, chamava-o por sr. Weatherby enquanto, com a liberda­de de segurar na mão dele, relembrava-o dos eventos bizarros ou admiráveis a que tinham assistido na Inglaterra nos últi­mos cinqüenta anos. No entanto, ele nunca reagia, seu bem-apessoado amigo de cabelos grisalhos, cujo rosto descorado parecia um pouco mais encovado a cada dia que passava.

Perdida em pensamentos, a sra. Neely, que tanto se afli­gia com a silente e inabalável imobilidade de seus pacientes, não viu quando, numa das mãos que repousavam sobre as cobertas do outro leito, dois dedos ergueram-se num movi­mento trêmulo, como a chamar a atenção dela.