Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

Como sempre, foi encontrá-lo a reinar sobre o opulento domínio dele, em meio às panelas que borbulhavam sobre o sólido fogão a lenha e o aroma de assado que pairava pelo ar. O gigante homicida destrinchava aves já depenadas, admirá-lo naquela empreitada tão prosaica era o mesmo que contem­plar um artista a forjar sua obra. Em respeitoso silêncio, foi até a mesa rústica nos fundos da cozinha e, ali, apoiou-se no tampo do móvel à espera de que o cozinheiro terminasse a tarefa.

O zunido do cutelo e o estalar dos ossos partidos foram perdendo ímpeto até cessarem por completo. Quando Christopher deu por si, Kurt lançava pedaços das aves numa caçarola para em seguida pôr-se a salpicá-los com temperos. Aproximando-se, ele comentou:

— Parece... delicioso.

O dedicado cozinheiro limpou as mãos num pano de prato.

— Estive pensando, Kurt, e acho que você poderia me ajudar a relembrar alguns detalhes que fazem parte da his­tória do clube. — Embora não obtivesse resposta, concluiu que o olhar que recebia de sob as espessas sobrancelhas fosse uma forma de encorajamento. — Alguns anos atrás, trabalhou conosco um criptógrafo chamado Fernando Saviñon. Lembra-se dele?

— Magro feito um caniço. A esposa era linda. Cozinheira de mão-cheia.

Chistopher, que não se recordava de já ter visto Kurt assim tão loquaz, correu a incentivá-lo:

— Sim, o nome dela era Blanca. Espanhola, se não estou enganado.

Com um olhar meio sonhador, Kurt parou de remexer os pedaços de aves no interior da panela.

— Ela fazia coisas fantásticas com laranjas.

— Sei... E a garotinha, filha deles? Lembra-se dela?

— Fifi. — Kurt voltou a atenção à caçarola.

— Ela se chamava Fifi? — Christopher franziu o cenho. — Era um apelido carinhoso? Ou a forma abreviada de algum nome como...?

— A mãe a chamava de Fifi.

— E como ela era? — Uma menina.

— Sim, mas...

— Ruivinha. Cabelos da cor do cobre de uma moeda novinha em folha.

Christopher sentiu um calafrio. Cabelos acobreados. Então o encontro fortuito com a jovem no parque... de fortuito não tinha nada. Suas suspeitas de que a filha de Sviñon estivesse em Londres estavam corretas. E mais: ou muito se enganava ou a atrevidazinha andara a espioná-lo.

— Obrigado, Kurt. Sua ajuda foi de grande valia. — Tomado pela empolgação de partir nos rastros dela, levou a mão ao ombro do cozinheiro. No mesmo instante, foi fuzilado por um olhar de poucos amigos, — Eu, hum, aposto que seu guisado vai ficar uma delícia! — Sem mais, tratou de rumar direto para a porta.