Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

— O que difere a aventura do risco, Christopher — quando ergueu o olhar e deparou com ele a fitá-la, tentou conter a raiva —, é a disposição e o desejo que a pessoa tem de lançar-se numa coisa ou na outra.

— Desculpe-me, Diego. Só pensei que... Não importa. Um dia voltaremos a falar disso, quem sabe. — Pôs-se em pé. — A propósito, parabéns. Você tem um belo gancho de esquerda.

Christopher entrou no quarto logo atrás da sra. Neely.                                                             

— Veja por si mesmo, senhor. — A enfermeira tirou um lenço da manga do uniforme para passá-lo pelos olhos. — Infelizmente, receio que o sr. Weatherby esteja prestes a nos deixar.

Ele obrigou-se a se aproximar, a encarar a face de sua cul­pa. Com a pele macilenta e a respiração tão fraca que o peito murcho mal se movia, Weatherby parecia no limiar da eter­nidade. O velho Weatherby, primoroso Mentiroso de humor ácido e uma habilidade quase sobrenatural para reconhecer e destrinchar os mais complexos códigos.

Quando ele entrara para o Clube, Angus Weatherby pe­dira para tê-lo como aprendiz, provavelmente influenciado pelo trabalho de seu pai. Que susto não devia ter levado ao descobrir que o jovem Christopher tinha muito pouco do talento para a Matemática de Luís Uckermann. Apesar da presu­mível decepção, o afável criptógrafo não deixara de ser um grande amigo e excelente companheiro.

Sentando-se na beiradinha da cama, Christopher tomou a mão ressequida do amigo entre as suas e fechou os olhos.

Minha vida pela sua.

Não saberia dizer quanto tempo ficara sentado ali, mas de súbito sentiu a mão da sra. Neely sobre seu ombro.

— Ele se foi, senhor.

Sim. Todos se foram, um a um. Só nos resta Ren, meu gran­de amigo, meu melhor companheiro, o irmão que não tive. Com carinho, cruzou as mãos sem cor e agora sem vida sobre o peito absolutamente inerte de Angus.

— Descanse em paz, amigo. Lavinia vai pagar pelo que fez.

Afundando-se na tina, Dulce molhou os cabelos ensa­boados na água tépida. Como era bom voltar a ser mulher, nem que fosse só por uma meia horinha. Apesar da praticidade típica dos hábitos masculinos, sentia falta de seda, escovas de prata, banhos aromatizados com alfazema, loções que...

Uma forte batida à porta deu fim às divagações dela.

— O patrão deseja vê-lo sem demora! — A voz de Denny era uma alegria só, afinal o mordomo sabia que nenhum preceptor iria se recusar a obedecer a uma ordem do dono da casa.

— Dig... — clareou a garganta e tratou de engrossar a voz — diga a ele que estou indo.

— Trate de se apressar. Ele está de péssimo humor esta noite.

Aos resmungos, Dulce saiu da tina e, enrolando uma toalha na cabeça, secou-se com outra enquanto olhava para as roupas que não tinha intenção de vestir até a manhã se­guinte. Apressada, dispensou a ceroula para enfiar-se nas calças, depois colocou a camisa e o velho colete, bem mais grosso e mais largo do que aqueles com o corte perfeito que Button havia lhe enviado. Em seguida vieram o plastrão e as botinas; as meias e o paletó que ficassem para o dia seguinte. Ajeitando os cabelos molhados enquanto disparava pelo corredor e escadaria abaixo, chegou arfante à porta do gabi­nete de Christopher.