Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

— É uma satisfação. — Um pouco mais relaxada, desli­zou para o soalho e, esticando os pés na direção da lareira, recostou-se à banqueta. — Do que estávamos falando?

 Christopher se admirou com aquela sem-cerimônia. O simpáti­co aio parecia sempre tão controlado, tão reprimido, como se vivesse com receio de mostrar-se mais do que deveria.

— Você jantou, diego?

— Não. Por quê?

— Por nada. — A julgar pela fala enrolada do jovenzinho, agora era tarde demais. — Lembre-me de deixar um pouco de pó para dor de cabeça na sua mesinha de cabeceira.

— Hum. — Virando-se, Dulce apoiou o cotovelo na banqueta e escorou a cabeça na mão. — Você é tão óbvio. Sempre muda de assunto quando se sente incomodado.

— Bobagem. Nunca faço isso. — Bem, às vezes fazia. Mas era bom ter por perto alguém como Diego que o visse como ele realmente era sem criticá-lo. — Por mais encantadoras que as mulheres sejam, você tem de estar atento, sabia? Não confie nelas. O poder de uma mulher está no corpo. Elas sa­bem virar a cabeça de um homem até transformá-los numa criatura sem vontade própria, sem...

— Você ainda não respondeu à minha pergunta.

— Sujeitinho persistente! Está bem, está bem. Tenho uma queda pelo exótico, e a idéia de ter uma dançarina de harém só para mim sempre me seduziu. Uma mulher que fale por intermédio do corpo, que não diga uma só palavra. Um ser de olhos ardentes vestindo apenas véus... Com aquele olhar provocante... — A voz dele tornou-se um murmúrio. — Não, não daria certo... Porque quando um homem se acha fragiliza­do... Quando uma fantasia se... se torna... realidade...

Dulce não demorou a perceber que ele caíra no sono. Já ela, por outro lado, sentia-se mais alerta do que nunca ao recordar que passara cerca de um ano na Arábia, época em que, esgotados todos os recursos e tratamentos da medicina convencional, seu pai, na derradeira e desesperada tentativa de salvar a esposa amada, fizera de tudo para localizar um xamã conhecido por realizar curas com as mãos.

Com a curiosidade e o desassossego característicos dos quinze anos de idade, certa noite deixara a abafadiça tenda em que sua mãe dormia um sono semelhante ao torpor para tomar um pouco de ar. O acampamento beduíno em que se en­contravam estava deserto e, açulada por uma inquietação que nem imaginava de onde vinha, pusera-se a vagar em direção às dunas de areia. Na noite silente, o céu repleto de estrelas que faziam lembrar uma miríade de reluzentes diamantes pa­recia chamá-la. Era como se todo aquele resplendor ofuscasse seus receios, sua solidão, a sempre crescente aflição com a enfermidade de sua mãe. E o mais estranho era que, em vez de sentir-se diminuída pela majestade dos astros no firmamento, sentira-se liberta ao constatar que sua existência não passava de um sopro fugaz se comparada ao esplendor eterno.

Fora quando ouvira a música.

Enlevada pela inopinada sensação de liberdade, correra até o topo da duna, de onde avistara a roda de homens sen­tados ao redor da fogueira lá embaixo. Um deles, que tinha um tambor entre os joelhos, tocava o instrumento num ritmo hipnótico, que fizera seu coração disparar. Ao cabo de alguns instantes, quando a pulsação frenética reduzira-se a um suave roçar de dedos sobre a pele do instrumento, uma flauta junta­ra-se ao tamborilar para criar um clima ainda mais misterioso e sedutor, prenuncio do suave retinir de metal que se seguiria, um tilintar delicado, como se diminutos espíritos tocassem inúmeros sinos em miniatura. O tilintar fazia um contraponto à flauta e ao tambor numa harmonia que ela nunca tinha ou­vido na vida.