Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

E então surgira a dançarina.

Por um instante, chegara a pensar que a criatura lá em­baixo fosse um ente mágico, visto que se materializara em meio a fumaça e à pulsação da música como que por encanto. Uma mulher de formas viçosas, com cabelos negros que lhe cobriam os quadris, quase nua em sua beleza gloriosa, coberta somente por fileiras de moedas e véus. E quando ela pensara que nada poderia ser mais eletrizante do que o mero desvelar-se daquele exótico ser de contornos tão femininos, a onírica figura se pusera a dançar.

A elástica flexão dos membros trigueiros à luz do fogo... A ondulação do belo torso desnudo... As pernas e coxas tor­neadas sob os véus... A altivez e a desenvoltura que via na dançarina junto à fogueira iam contra tudo o que haviam lhe ensinado a respeito da condição de uma verdadeira dama. Aquela mulher lá embaixo parecia tão livre quanto ela havia sentido minutos atrás sob as estrelas.

Aos quinze anos, tomara consciência de que era mulher, com pernas, torso e seios sob os trajes que vestia. E se tudo o que havia aprendido fosse tolice? E se seu corpo não era para ser escondido nem coberto, não fosse algo de que de­vesse se envergonhar? E se pudesse ser livre, ousada e in­tensa como aquela dançarina? Ficara deitada no alto daquela duna por horas, perdida em reflexões acerca da mulher que um dia poderia vir a ser.

De qualquer modo, os Saviñon haviam deixado o acampamento beduíno no dia seguinte. Cansada de lutar uma batalha que sabia perdida, Blanca implorara ao marido que a levasse de volta à Espanha, ao vilarejo onde havia nasci­do, aos poucos parentes que ainda tinha por lá. E Fernando não vira outra opção senão se dobrar à vontade da esposa querida, sufocando o desespero que o levara à busca de uma solução milagrosa que pudesse mantê-la a seu lado.

Espreguiçando-se sobre o tapete do gabinete de Christopher, Dulce percebeu que tinha os sentidos meio embotados. Apesar disso, ou talvez justamente por isso, teve vontade de rir daquele decisivo momento de compreensão e introspecção nas dunas debruçadas sobre o deserto. Lá estava ela: não ape­nas a antítese de uma atrevida e sensual dançarina de harém como, ainda por cima, escondendo do mundo que era mulher!

Com um suspiro irônico, voltou o rosto para seu patrão; além dos cabelos em desalinho caídos sobre a testa, ele tinha o rosto liberto daquela tensão que vez por outra lhe enrijecia as feições. Céus, conhecera pessoas em vários países e de diver­sas posições sociais, no entanto jamais havia se deparado com um homem que a fascinasse tanto quanto Christopher Uckermann.

Com outro suspiro, ajoelhou-se e buscou apoio no braço da poltrona dele a fim de se levantar... e o aposento ameaçou gi­rar. No intuito de se equilibrar, virou-se devagarzinho e, quan­do viu, estava cara a cara com Chistopher, perto o bastante para sentir o aroma de conhaque e sândalo que o envolvia. Quase sem notar, cerrou as pálpebras. Conhaque e sândalo e Christopher.

Voltando a abrir os olhos, contemplou por alguns instantes os contornos do rosto acobreado pela claridade das chamas. Então, com uma calma inexplicável, reparou que sua mão se estendia em direção a ele.

— Ora, e por que não? — murmurou para si.