Fanfic: A espiã que me amava - vondy adap. (terminada) | Tema: romance e hot

O sobressalto causado pela voz de Flup, que parecia vinda de muito, muito longe, fez com que Dulce deixas­se escapar dos dedos trêmulos a folha toda suja de fuligem. Enquanto o papel adejava até o chão, ela fitou seu reflexo no espelho, porém só o que conseguiu ver foi uma única palavra: "eliminá-lo".

Christopher Uckermann era um espião.

Um espião que queria dar cabo da vida de seu pai.

Ao chegar em casa naquela noite, Christopher estranhou encon­trar Flip adormecido no tapete de seu gabinete. Não que a cena já não tivesse ocorrido um sem-número de vezes, o que causava surpresa era que o garoto tinha deixado de fa­zer aquilo desde que Diego Espinósa se mudara para lá. Sem notar, meneou a cabeça num gesto desalentado. Tinha de admitir sua inexplicável falta de habilidade para lidar com o menino. Pensara que iria ser tão fácil adotar um moleque de rua. Alimentá-lo, vesti-lo, educá-lo, proporcionar-lhe um lar onde morar...

O que estaria faltando? Não gritava com Flip, não batia nele, ou melhor, jamais havia encostado um dedo no diabrete. Era tudo como deveria ser.

Diego faz muito mais que isso.

Sim, mas Diego era pago para fazê-lo. Muito bem pago, aliás.

Com um suspiro, deixou o chapéu e as luvas na poltrona e, ajoelhando-se junto a Flip, viu que o garoto tinha as mãos sujas e uma mancha de fuligem no rosto. O carrilhão no hall soou doze vezes. Por onde andava Diego? E o que era feito de Denny?

— Parece que estamos sozinhos, Flip. — Abaixou-se para tomá-lo nos braços. Santo Deus, ele era tão leve, tão magrinho... O quê as crianças tinham de comer para crescerem fortes e saudáveis? Tentou lembrar-se do tempo em que era me­nino, mas tudo o que lhe veio à mente foram maçãs. E leite. Não eram coisas difíceis de providenciar.

Depois de certificar-se de que instalara Flip direitinho na cama arrumada com lençóis e cobertas da melhor qualidade, Christopher passou a mão pelos cabelos negros do menino e deu uma olhada pelo quarto que, precisava reconhecer, talvez fosse sóbrio demais para uma criança de cerca de nove anos. Quando voltou a olhar para o espaçoso leito com dossel, sor­riu para si ao reparar que uma parte da capa da cartilha que ele e Diego haviam feito escapava de sob o travesseiro.

Talvez houvesse um pouco de Flip naquele quarto, sim. Ou melhor, um pouco de todos eles.

Deixando o quarto do menino, foi bater à porta do dormi­tório de Diego, que ficava naquele andar da mansão, a uns poucos cômodos de distância dos seus aposentos e dos de Flip. Como ninguém respondesse, abriu a porta e entrou, encontrando o quarto envolto na penumbra do que restava das últimas brasas na lareira.

— Diego?

Longos instantes de silêncio se passaram antes que uma voz carente de vigor se erguesse da poltrona diante do fogo:

— Aqui, senhor.

Ao se aproximar da lareira, Christopher viu o preceptor encolhi­do na poltrona que todos os dormitórios da casa possuíam.