A garçonete veio rebolando para nós, inclinando-se para trás, longe de sua barriga crescente. Ela parecia estar de sete meses de gravidez, a camisa polo verde mal cobria sua barriga. Ela colocou um pequeno copo com uma tampa e um canudo, e depois um copo vermelho maior, cheia de algo marrom e efervescente.
"Oi, Poncho."
"Oi, Cindy. Você deveria estar em casa com os pés para cima."
Ela sorriu. "Você diz isso o tempo todo. O que sua amiga gostaria?"
Eu olhei para Cindy. "Só uma água, por favor."
"É isso aí." Ela olhou para Poncho. "Olive vai querer o habitual?"
Ele acenou com a cabeça. "Mas acho que Any vai precisar de um menu."
"Já volto," disse ela.
Poncho se inclinou para mim. "Você deveria tentar o combo com batata-doce frita e salada de repolho.
"Porque... é uma maldição."
Um homem atrás de mim gritou: "Lucas! Eu disse para o seu traseiro vir até aqui e se sentar!"
Poncho inclinou-se para olhar, e franziu o cenho. Um menino de cerca de oito anos, passou correndo por mim em direção ao seu pai que estava à sua espera.
"Sente-se!" O pai rosnou. O menino fez o que lhe foi dito, e se virou para assistir as outras crianças brincando.
Poncho tentou ignorar a cena atrás de mim e se encostou à mesa. "Você ainda gosta de trabalhar no Red?"
Eu balancei a cabeça. "À medida que os trabalhos acontecem, não é ruim. Hank é legal."
"Por que você não está trabalhando neste fim de semana?"
"Eu peguei uma folga."
"Sente-se aí!" O pai rosnou atrás de mim.
Depois de uma pausa, Poncho continuou: "Eu ia lhe dizer que, se você não estivesse feliz no bar, há uma vaga de recepcionista na loja."
"Que loja?"
"Minha loja. Bem, a loja que eu trabalho."
"A Skin Deep está contratando? Pensei que Cal apenas colocava quem não estivesse ocupado para atender o telefone."
"Ele disse que na loja de tatuagem na 34ª rua tem uma gostosa na recepção, por isso ele acha que nós precisamos de uma também."
"Uma gostosa," eu brinquei, indiferente.
"Palavras dele, não minhas," disse Poncho, examinando a multidão a procura de Olive. Ele não procurou por muito tempo. Ele sabia onde ela estaria.
"Ela gosta de pinball, né?"
"Ela ama," disse ele sorrindo para ela como um pai orgulhoso.
"Porra, Lucas! O que diabos está errado com você?" O pai atrás de mim gritou, levantando-se ao mesmo tempo. Eu me virei, vendo que o copo estava virado e um menino muito nervoso encarava o colo molhado de seu pai. "Por que eu ainda me incomodo em trazê-lo a lugares como este?", ele gritou.
"Eu estava pensando a mesma coisa," disse Poncho.
O pai se virou, duas linhas horizontais profundas no centro de sua testa.
"Quero dizer, você realmente não age como se você quisesse que seu filho corresse, brincasse, ou se divertisse aqui. Por que você o traz aqui, se você só quer que ele fique quieto?"
"Ninguém perguntou nada a você, idiota," disse o homem, virando-se.
"Não, mas se você continuar a falar com o seu filho assim, eu vou lhe pedir para sair."
O homem nos enfrentou de novo, começou a falar, mas algo nos olhos de Poncho fez o homem pensar melhor. "Ele é hiperativo."
Poncho encolheu os ombros. "Ei cara, eu entendi. Você está aqui sozinho. Provavelmente foi um longo dia."
As linhas acima dos olhos do homem se suavizaram.
"Foi."
Então o deixe queimar um pouco de energia. Ele vai estar desgastado quando ele chegar em casa. É meio estúpido trazê-lo para um lugar com brinquedos e então ficar todo irritado porque ele quer brincar."
Vergonha escureceu o rosto do homem, ele acenou com a cabeça algumas vezes e então ele se virou, acenando uma vez para o seu filho. "Desculpe, amigo. Vá jogar."
Os olhos do menino se iluminaram e ele pulou da cabine, misturando-se na multidão de crianças felizes. Depois de alguns momentos embaraçosos de silêncio, Poncho iniciou uma conversa com o homem e eles começaram um bate- papo sobre o local onde Lucas e Olive estavam. Eventualmente, nós descobrimos que o nome do homem era Randall e ele era um recém-pai solteiro. A mãe de Lucas era uma viciada e estava com um namorado na cidade mais próxima e Lucas estava com problemas de adaptação. Randall admitiu que ele também estava.
Quando chegou a hora deles irem, Randall estendeu a mão e apertou a de Poncho.Lucas observava os dois homens, sorriu e, em seguida, tomou a mão de seu pai. Eles deixaram o lugar com sorrisos em seus rostos.
Quando as moedas de Olive acabaram, ela se sentou à mesa, as tiras de frango grelhado à sua frente.
Poncho esguichou um pouco de desinfetante sobre as mãos dela, esfregou-as e, em seguida, ela devorou tudo em seu prato. Poncho e eu pedimos a versão adulta de sua refeição e todos nós terminamos aproximadamente ao mesmo tempo.
"Torta?" disse Olive, limpando a boca com as costas da mão.
"Eu não sei," disse Poncho. "Sua mãe ficou muito brava comigo da última vez."
Gostei da forma como ele falou com ela. Ele não era condescendente. Ele conversou com ela do mesmo jeito que ele falou comigo, e ela parecia gostar.
"O que você acha, Any? Você gosta de nozes?"
Olive me olhou com olhos suplicantes.
"Eu gosto."
Os olhos de safira de Olive brilharam. "Podemos pedir?"
Dei de ombros. "Eu poderia comer um terço de uma torta. Quer compartilhar também, Poncho?”
Poncho fez contato visual com Cindy e levantou o dedo indicador. Ela assentiu com a cabeça, sabendo exatamente o que ele queria dizer. Olive bateu palmas quando Cindy trouxe a torta sobre a bandeja juntamente com três garfos. A fatia foi de quase um terço do bolo, com um monte de creme de chantilly.
"Divirtam-se," disse Cindy, parecendo cansada, mas agradável.
Nós cavamos os primeiros pedaços, gemendo na primeira mordida quando o açúcar encontrou seu caminho para nossas bocas. Em alguns minutos o prato estava vazio. Cindy trouxe a conta e eu tentei pagar metade, mas Poncho nem sequer quis ouvir a sugestão.
"Se você pagar, é um encontro," eu disse.
"Você alguma vez pagou o almoço de Dulce?"
"Sim, mas..."
"Isso é um encontro?"
"Não, mas..."
"Shh," ele disse levantando Olive em seus braços. "Esta é a parte onde você diz obrigada." Ele colocou a gorjeta sobre a mesa e, em seguida guardou sua carteira no bolso de trás.
"Obrigada," disse Olive descansando a cabeça no ombro de Poncho.
"Por nada, Ew." Ele se inclinou e pegou as chaves da mesa.
"Ew?", eu perguntei.
Olive me olhou com os olhos sonolentos. Eu não continuei o assunto.