Fanfic: Apenas Irmãos? || Vondy (Concluída) | Tema: Rebelde / Vondy
CAPÍTULO VINTE E DOIS
O tempo deixa perguntas, mostra respostas, esclarece dúvidas, mas, acima de tudo, o tempo traz verdades.
Tempo.Segundos. Minutos. Horas. Dias. Semanas.
Dia ou noite. Tempo: algo muito relativo e sem sentido em minha vida. Eu não sabia a que horas acordava, comia ou dormia. Tudo o que sabia era que aquilo não passava, estava sempre comigo, do momento em que abria os olhos ao instante que voltava a fechá-los. Dor. Dor além da razão, dor além da compreensão. E nada, simplesmente nada, fazia parar.
Eu podia rolar na cama de um lado para o outro, mas a dor dentro de mim continuava insistente e poderosa. Aquilo queimava e ardia como um ácido corrosivo. Corria até a cozinha no meio da noite e bebia vários copos com água gelada, como se ao sentir o frio entrando pela garganta pudesse aplacar aquela desintegração interna.
Lembrava com perfeição a primeira noite daquele tormento. Totalmente esgotada, após horas de choro prolongado, caí num sono agitado e sonhei que estava correndo, alguém me perseguia, não conseguia ver quem era, mas sentia o perigo. Estava acuada e corria por entre as árvores buscando refúgio. Já estava escurecendo. O frio e o cansaço me invadiam, mas a perseguição continuava, tinha que fugir. De repente, uma figura surgia à minha frente, eu gritava de pavor, gritava até perder a voz. Acordei berrando a plenos pulmões.
Depois dessa primeira noite, não quis mais dormir, tinha medo do sonho. Tinha medo daquela figura misteriosa, tinha medo daquele desconhecido. Acordei sozinha na minha enorme cama de casal e, como sempre, quando erguia os olhos, a primeira coisa que via pendurada na parede éramos ele e eu, abraçados e felizes. A dor aumentava. O ácido da mágoa percorria minhas veias, corroendo tudo que encontrasse no caminho. Sentia uma agonia além das palavras, a dor do que foi, do que era, do que poderia ter sido e do que nunca mais seria.
A sensação que eu tinha era que havia sido espancada, não havia lugar que não doesse. Era como estar coberta de chagas, feridas sangrentas que não cicatrizavam. E que doíam a ponto de enlouquecer. Contorcia-me na cama, buscando uma posição que trouxesse algum alívio, mas tudo permanecia.
Gemia em agonia, arranhava-me como se quisesse arrancar minha pele, desesperada por alívio. Eu tinha uma vaga noção de pessoas entrando no quarto, falando comigo, tentando me empurrar comida e outras coisas, mas eu não queria nada. Tive a impressão de que Anahí esteve ao meu lado, mas não conseguia vê-la de verdade. Parecia que eu estava queimando em uma dolorosa febre, vivendo o delírio daquela dor. O choro e as lágrimas não conseguiam minimizar tal veneno, eu estava muito além de qualquer antídoto. Depois de dias assim, que pareceram intermináveis, quase não me mexia mais, só soluçava sem forças, esgotada.
Foi então que surgiram braços empurrando as cobertas e me puxando da cama, tirando-me dali.
— Vai ficar tudo bem, minha filha. — reconheci a voz do papai enquanto ele me carregava em seus braços. — Seu pai está aqui.
Ao passar pelo nosso retrato, fechei os olhos com força. Não suportava estar rodeada de mentiras, cercada de ilusões e falsas esperanças. Não queria me lembrar de como seus olhos eram tão castanhos; como sua boca era de um rosado perfeito; de como seu cabelo se mexia no vento; do calor da sua pele quente ao tocar a minha; da sua voz profunda exalando falsidades.
Fui carregada para outro quarto. A princípio não reconheci para onde tinha sido levada, até que reconheci o papel de parede. Maite! Esse era o antigo quarto da Maite. Deitada na cama, olhei ao redor procurando me familiarizar com o ambiente. Ao ver o que tinha na mesinha de cabeceira, comecei a gemer em agonia de novo.
— O que foi querida? — perguntou papai preocupado. — O que está incomodando você?
Eu não tinha forças para falar. Apontei para o porta-retratos ao meu lado, fechando os olhos com força. Nós quatro juntos e abraçados, Maite, Angelique, ele e eu.
— Vou tirar isso daqui, meu bem. — ouvi mamãe dizer. — Pronto, já foi embora, pode abrir os olhos.
Ao final daquele dia, comecei a sentir um leve alívio. Mamãe me trouxe sopa e consegui engolir algumas colheradas. Com a sua ajuda, tomei um banho rápido e coloquei roupas limpas. E apoiada nela, voltei para o quarto da Maite. Quando a noite chegou, ainda tinha medo de dormir. Bebi o leite e comi os biscoitos que mamãe tinha trazido, mas tinha medo de fechar os olhos. Percebendo que lutava com o sono, papai se sentou ao meu lado.
— Vamos, meu anjo! — pediu com carinho. — Durma só um pouquinho, você precisa descansar.
Apavorada, eu sacudia a cabeça. Não queria ter aquele pesadelo, ou pior, não queria mais sonhar com ele. Sabia que era só fechar os olhos e meu inconsciente começava a trabalhar, formando imagens de sorrisos e carinhos. Ao acordar e constatar a realidade, a tortura piorava e a dor voltava ao seu ápice.
— Vou segurar sua mão. — incentivou. — E vou cantar pra você, como fazia quando era pequena. Lembra que tinha pesadelos à noite na sua primeira semana aqui? Então comecei a cantar pra você e fiz os sonhos ruins irem embora. Quem sabe não consigo novamente?
Papai tinha uma voz afinada, suave e macia. Ele cantarolou baixinho uma conhecida canção de ninar, evocando uma época de pureza e inocência em minha vida. Pela primeira vez, em dias, esbocei um leve sorriso e comecei a me tranquilizar. Sem perceber, fechei os olhos e tive a primeira noite de sono longe dos fantasmas.
Não sei o quanto dormi naquela primeira noite. Lembro que acordei e achei estranho estar anoitecendo novamente. Só mais tarde entendi que havia dormido uma noite e um dia quase inteiros. A exaustão foi tanta, que dormi por quase vinte e quatro horas. Espreguicei lentamente. Mesmo depois de ter dormido tanto, ainda me sentia cansada. Senti fome, coloquei minha mão no ventre e massageei levemente.
— Não tenho cuidado bem de você, não é mesmo? — perguntei para aquele pequeno ser.
Curioso como fiz e disse aquilo com tamanha naturalidade. Lembrar que teria um filho não me trazia mais o medo que tinha sentido anteriormente. Claro que era assustador saber que seria mãe ainda tão jovem, mas a certeza de ter um ser tão indefeso dentro de mim fez emergir todos os meus instintos protetores. Meu filho não pagaria pelos erros de seus pais. Me dei conta de que tinha que estar mais atenta às suas necessidades, do que às minhas. Levei a mão à garganta, a dor continuava queimando dentro de mim como bile. Minhas entranhas latejavam, mas pelo meu bebê eu tinha que reagir, apesar de todo sofrimento.
Estava surpresa como agora conseguia pensar com mais clareza. Incrível o milagre que uma boa noite de sono, uma mudança de ambiente e pais amorosos podem fazer. Usava uma camisola branca e comprida de algodão que apesar de muito confortável e quentinha, senti vontade de trocar. Na verdade, desejava muito tomar um bom banho e vestir roupas limpas. Apesar disso, a fome foi mais forte e achei melhor ter algo no estômago que pudesse nutrir a mim e ao meu pequeno hospedeiro.
Levantei da cama devagar. Senti que ainda estava um pouco fraca. O corpo também parecia ter sido atingido pela minha exaustão emocional. Respirei fundo e saí do quarto me segurando pelas paredes. Desci a escada segurando no corrimão, andei até a cozinha me apoiando nos móveis e, lá chegando, encontrei mamãe.
— Dulce, você deveria ter me chamado! — reclamou me empurrando rapidamente numa cadeira para que sentasse.
— Não queria dar mais trabalho do que já tem tido. — expliquei, sentando aliviada.
— Deixe disso! — respondeu firme. — Com fome?
— Muita! — confirmei.
— Fiz algo que acho que vai gostar! — falou entusiasmada e me mostrou a travessa.
— Lasanha!
Depois de esquentar no micro-ondas, me serviu um pedaço fumegante. Estava deliciosa! Saboreei com prazer a massa envolta em muito molho bolonhesa picante e queijo gratinado, exatamente como eu gostava. Mamãe me olhou com evidente satisfação quando ataquei a comida como uma loba faminta. Terminei e pedi mais. Ela atendeu prontamente, trazendo também um copo de refrigerante. Já satisfeita, me recostei na cadeira.
— Como está se sentindo? — perguntou passando a mão na minha testa.
— Fisicamente? Mais forte. — respondi, acabando de passar um pedaço de pão no molho restante no prato e levando à boca.
— E o restante? — insistiu.
— Em carne viva. — soltei, mas logo me arrependi ao vê-la franzir a testa preocupada e tentei me corrigir. — Mas estou melhorando.
— Não precisa mentir só pra me fazer sentir melhor. — afirmou sagaz, apertando minha mão.
Às vezes achava que mães tinham visão de raios-X, quando se tratava de ler os sentimentos dos filhos. Ao ver seus olhos preocupados — olhos azuis, com o mesmo tom e formato dos dele —, senti que desmoronava novamente. Sem querer, lágrimas silenciosas começaram a escorrer pelo meu rosto.
Simplesmente, não conseguia parar, queria desesperadamente colocar aquilo pra dentro, mas minhas emoções transbordaram. Enfiei o rosto nas mãos e chorei por um bom tempo. Mais tarde, quando aquilo passou e apenas soluçava, minha mãe me estendeu um lenço de papel e enxuguei o nariz.
— Desculpe. — foi tudo que consegui dizer.
— Porquê? — perguntou fazendo um carinho em meus cabelos. — Se tem vontade de chorar, chore; se quiser gritar, grite, desabafe o que está aí dentro e não guarde. Guardar só fará mal a você e ao bebê.
Desde que tinha revelado a gravidez, aquela foi a primeira vez que voltávamos a tocar no assunto em voz alta. Lembrava com perfeição da cara de espanto que a minha mãe tinha feito ao saber da novidade. E fiquei ainda mais surpresa com a cara de conformação do meu pai.
— Sabia que mais dia, menos dia, isso ia acabar acontecendo! Vocês dois estavam pior que coelhos! — completou para meu constrangimento.
Não foi nada fácil revelar minha condição. Mas naquele momento estava tão consumida pela dor da traição que quando comecei a falar não consegui segurar nada. A verdade foi saindo aos borbotões e quando terminei foi que me dei conta que tinha acabado de confessar um flagrante de adultério e minha gravidez de uma vez só. Sorte que meus pais não sofriam de problemas cardíacos.
Agora estávamos ali conversando sobre meu bebê com aparente naturalidade.
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 767
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lopachbr Postado em 01/06/2016 - 15:23:13
vondy por suerte hasta la muerte
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∞† Sasabiina †∞ Postado em 01/01/2016 - 17:28:10
Amei a fic parabens *-*
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LetíciaVondy Postado em 17/12/2015 - 21:59:48
Sdds
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anne_mx Postado em 14/08/2015 - 19:18:43
Essa foi a melhor fic que já li foi muito perfeitaaaaaaaaaaaa parabens amei a frase que a senhora disse pra Dulce
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Girl Postado em 02/08/2015 - 12:25:10
PASSANDO NESSA PORRA PRA DIZER QUE FOI É E SEMPRE SERÁ A MELHOR WEB DE PARENTESCO QUE EU JA LI...ACEITEM MUNDO
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Anne Karol Postado em 01/06/2015 - 14:54:15
Bom, o que falar dessa fanfic? Uma das melhores que existe aqui no site. Chorei, comemorei, sorri, ri, me diverti. Ain vou sentir tanta saudade Rebeca. Me apaixonei pela fanfic e vê que ela acabou me da uma tristeza, como se algo faltasse. Muito obrigada por nos proporcionar essa fanfic. Ela é simplesmente maravilhosa <3.
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jaahvondy Postado em 31/05/2015 - 00:13:46
lindo, lindo, lindo o final..to muito emocionada aqui...é uma das minhas fics preferidas...<3 foi simplismente maravilhosa, e não tem como explicar o que eu senti quando eu lia esses ultimos capitulos...tudo perfeito...<3
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stellabarcelos Postado em 29/05/2015 - 00:52:51
Comecei a ler a web ontem e já terminei! Linda demais e muito viciante ! Obrigada por postar essa história linda sobre o amor verdadeiro Parabéns!
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naty_rbd Postado em 28/05/2015 - 14:32:19
Mais uma web sua que chegou ao fim e eu aqui me acabando em lagrimas. Foi perfeita e tenho certeza que essa outra será tambem.
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melicia_fagundes Postado em 27/05/2015 - 23:41:22
Adorei a fic. Umas das melhores que ja li. Beijos <3