Fanfic: Apenas Irmãos? || Vondy (Concluída) | Tema: Rebelde / Vondy
Ela pegou minha mão, e nós quatro subimos juntos os degraus. No final da escada, havia um corredor com seis portas, andamos até o final dele e subimos mais um lance, dessa vez menor, que dava acesso a uma única porta. Ao abri-la, entramos no quarto mais lindo que eu já tinha visto, as paredes estavam pintadas num tom de lilás, e os móveis de linhas simples e clássicas eram brancos e faziam um contraste bonito com a suavidade da cor. Na cama, um aconchegante edredom estampado com lindas flores em cores frias combinava com o ambiente, tornando-o muito feminino. Havia também um guarda-roupa, uma estante com alguns livros e uma mesa com computador. Não conseguia acreditar que tudo aquilo era só para mim e fiquei muda de espanto.
— O que achou? — perguntou Angel, animada. Como eu continuava calada, ela interpretou mal e franziu a testa. — Você não gostou?
Arregalei os olhos.
— Não, adorei, é muito lindo! Isso tudo é só para mim?
— Claro que sim, mamãe e papai capricharam pensando em você — Maite respondeu. — Experimente sua cama, veja se gosta do colchão.
Sentei na minha nova cama e nem acreditei que estava ali com todos eles. As meninas pareciam muito simpáticas. Achei Maite muito bonita, alta, magra; com seu cabelo longo e rosto de traços delicados, chamava logo a atenção. Já Angelique, apesar de ser morena como a irmã, era mais rechonchuda, tinha o rosto redondo, sardento e com covinhas nas bochechas, porém compensava sua aparência comum, com um sorriso alegre e cativante. Na verdade, ambas, cada uma ao seu modo, lembravam bonecas de porcelana. Até esse momento, Christopher estava parado, encostado na porta, e ainda não tinha falado nada, só me observava sério. Então, ele se aproximou de repente, esticou a mão e inesperadamente puxou uma mecha do meu cabelo.
— Ai! — reclamei, me afastando dele.
— Chris, o que é isso? — gritou Maite, zangada.
— Eu só queria saber se são de verdade — ele respondeu.
— De verdade, como assim? — perguntou Angel.
— O cabelo dela é tão comprido, cheio e cacheado que não parece de verdade. Queria ver se era uma peruca — ele comentou simplesmente.
Naquele momento, eu quis sumir, mas só baixei a cabeça, morrendo de vergonha.
— Christopher, deixa de ser retardado, não está vendo que é de verdade? Repara, não, Dulce, mas nosso irmão é meio leso, age primeiro e pergunta depois — disse Maite, e virando-se novamente para ele explicou: — Não é porque todo mundo aqui em casa tem cabelo liso e escorrido que o restante seja falso, certo?
— Pede desculpas — ordenou Angel, zangada.
— Desculpa — ele murmurou, mal-humorado.
— Tudo bem — respondi. Meus olhos estavam cheios de lágrimas reprimidas, e eu estava muito triste por aquele menino tão bonito, que mudou o foco do meu mundo, mas parecia não ter gostado de mim.
Nesse momento, chegaram nossos pais, perguntando se estava tudo bem, mas quando eles olharam meus olhos logo perguntaram o que tinha acontecido, e as minhas novas irmãs contaram. Minha mãe ficou uma fera com o Christopher, e este foi o início de um padrão que se repetiria por toda a minha infância: eu secretamente adorando o chão que o Christopher pisa a, ele implicando comigo o tempo todo, minha mãe brigando com ele e meu pai tentando acalmar todo mundo.
Mais tarde, à noite, sozinha em meu quarto, deitada na minha cama, pensei em como minha vida havia mudado em pouco mais de um ano.
Lembrei-me com carinho dos meus pais verdadeiros, filhos de imigrantes brasileiros, motivo pelo qual cresci aprendendo a falar as duas línguas, português e inglês, mesmo tendo nascido em Londres.
O falecimento deles num acidente de carro, cerca de um ano atrás, transformou completamente minha realidade. Senti-me tão sozinha e amedrontada ao saber da tragédia, vi-me subitamente rodeada de estranhos que me diziam coisas incompreensíveis, e teria que abandonar minha casa, meu quarto, meu refúgio, além de mudar de escola, ficando longe dos meus amigos, restando somente as lembranças de uma infância cheia de amor e carinho. Minha família era pequena e, infelizmente, por não termos parentes conhecidos, fui encaminhada para um orfanato, onde fiquei até hoje.
Olhei para o teto, todas as luzes apagadas, mas nunca tive medo de escuro; sentia-me à vontade na escuridão, achava relaxante, nunca fui aquele tipo de criança que na hora de dormir pede à mãe para deixar o abajur ligado ou coisa parecida.
A luz da rua que entrava pela janela iluminava o suficiente para que eu pudesse observar ao redor. Realmente tinha adorado aquele quarto, não só por perceber que havia sido preparado detalhadamente para minha chegada, mas também por finalmente poder ter um pouco de privacidade, coisa de que havia sentido muita falta, pois num lugar como um orfanato, onde tudo era partilhado por todos, privacidade era luxo inexistente.
Eu reconhecia que, apesar da tragédia que tinha ocorrido em minha vida, ainda podia me considerar uma garota de sorte, pois quantas crianças na mesma situação continuariam indefinidamente naquele lugar, que apesar de ser bem administrado não era o substituto para um lar de verdade? Mesmo consciente disso tudo, senti-me estranhamente melancólica naquela manhã, quando fui levada até a sala da diretora do orfanato, onde Vitor e Alexandra aguardavam ansiosos. Foram-me mostrados meus novos documentos de identificação, e fiquei um pouco chocada ao ver que agora era real e definitivo, a partir daquele dia eu tinha um novo sobrenome que eu usaria pelo resto da vida. Eu sei que não devia me sentir assim, porém foi como se um pedaço de mim tivesse morrido e jazia com meus pais.
Pois a mudança de um nome no papel não muda realmente o que somos, acreditei que esse fato acrescentaria algo valioso em minha identidade, mas eu carregaria para sempre na minha formação o calor de uma cultura tropical, aquele jeito expansivo e comunicativo de meus pais, o cheiro dos temperos quando minha mãe cozinhava, a música que escutávamos, eram tantos detalhes que antes passavam despercebidos e agora me faziam doer o coração ao lembrar; sentia muita falta da sonoridade da língua portuguesa, ouvir e falar português era como sentir uma carícia no ouvido e nas cordas vocais.
E agora, cá estava eu, numa casa grande e bonita, vivendo com uma família inglesa, que, embora me tivesse recebido de braços abertos, ainda era estranha para mim, assim como eu ainda era estranha para ela. Como seria dali para frente? A assistente social que conversou conosco no orfanato nos explicou sobre um período de adaptação que viveríamos no início, o que poderia ser uma fase desafiadora, mas que, se todos estivessem dispostos a concessões qua do necessário, sempre respeitando os limites de cada um, teria sucesso quase garantido.
Sacudi a cabeça, tentando não continuar pensando nisso. Não importava aonde fosse ou que nome usasse, eu ainda era Dulce, inglesa de nascimento, brasileira de coração. Embora ainda estivesse agitada diante de tantas novidades, lentamente senti meus olhos pesados e, sem sentir, adormeci profundamente.
Na manhã seguinte, acordei, abri os olhos e me espreguicei devagar na cama macia e fofa. Olhei ao redor, ainda sem acreditar que aquela nova vida tinha realmente começado, mas estava impaciente para saber como seria nossa primeira manhã em família. Joguei o cobertor para o lado, me levantei, abri a porta do quarto e percebi que o corredor estava silencioso e tranquilo. Fui até o banheiro para fazer minha higiene matinal e, assim que terminei, desci para tomar o café da manhã e só encontrei meu pai na cozinha.
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— Bom dia, acordou cedo — disse, assim que me viu. — Gosto de acordar cedo — respondi, e ele me olhou, surpreso. — Verdade? Então, finalmente alguém nessa família, além de mim, tem esse hábito — comentou, brincalhão. — Seus irmãos estão aproveitando as férias para dormi ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 767
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lopachbr Postado em 01/06/2016 - 15:23:13
vondy por suerte hasta la muerte
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∞† Sasabiina †∞ Postado em 01/01/2016 - 17:28:10
Amei a fic parabens *-*
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LetíciaVondy Postado em 17/12/2015 - 21:59:48
Sdds
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anne_mx Postado em 14/08/2015 - 19:18:43
Essa foi a melhor fic que já li foi muito perfeitaaaaaaaaaaaa parabens amei a frase que a senhora disse pra Dulce
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Girl Postado em 02/08/2015 - 12:25:10
PASSANDO NESSA PORRA PRA DIZER QUE FOI É E SEMPRE SERÁ A MELHOR WEB DE PARENTESCO QUE EU JA LI...ACEITEM MUNDO
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Anne Karol Postado em 01/06/2015 - 14:54:15
Bom, o que falar dessa fanfic? Uma das melhores que existe aqui no site. Chorei, comemorei, sorri, ri, me diverti. Ain vou sentir tanta saudade Rebeca. Me apaixonei pela fanfic e vê que ela acabou me da uma tristeza, como se algo faltasse. Muito obrigada por nos proporcionar essa fanfic. Ela é simplesmente maravilhosa <3.
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jaahvondy Postado em 31/05/2015 - 00:13:46
lindo, lindo, lindo o final..to muito emocionada aqui...é uma das minhas fics preferidas...<3 foi simplismente maravilhosa, e não tem como explicar o que eu senti quando eu lia esses ultimos capitulos...tudo perfeito...<3
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stellabarcelos Postado em 29/05/2015 - 00:52:51
Comecei a ler a web ontem e já terminei! Linda demais e muito viciante ! Obrigada por postar essa história linda sobre o amor verdadeiro Parabéns!
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naty_rbd Postado em 28/05/2015 - 14:32:19
Mais uma web sua que chegou ao fim e eu aqui me acabando em lagrimas. Foi perfeita e tenho certeza que essa outra será tambem.
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melicia_fagundes Postado em 27/05/2015 - 23:41:22
Adorei a fic. Umas das melhores que ja li. Beijos <3