Fanfic: Peças de um quebra cabeça perfeito | Tema: ValeCamil

Já estávamos na quinta sessão do teatro. Eu já estava completamente exausta, minha cabeça estava explodindo, mas eu tinha que continuar firme e forte, pois já era o último turno. Entro no palco com um sorriso forçado no rosto, mesmo estando com o corpo mole, e todo doido. Eu nunca podia aparentar minha exaustão, afinal as pessoas não tinham culpa. Viro meu rosto para olhá-los e começo com a fala inicial de Laura.

Laura: Como posso ser alguém se não tenho ninguém? Como poderei ser feliz se não vejo sentido nas coisas após a ida do meu verdadeiro amor? Como viverei se a minha única vontade nesse momento é morrer...(?) – eu olhava para todos que estavam próximos do palco. Após terminar a fala eu fico estática, porque mesmo de longe eu acabo avistando quem? Jaime Camil. Eu não pude acreditar que ele estava ali, todo sorridente me assistindo. Eu voltei para a Laura novamente e percebendo que estava feito boba olhando pra ele sorrir pra mim, eu saio do palco e quando chego lá atrás acabo ainda levando uma bronca da Denise.

Denise: Ei Angélica, o que houve? Você ficou maluca ou o que? Você terminou sua fala e ficou feito boba olhando para o nada? Pelo amor de Deus! Foco Angélica! – “Foco” é a palavra que eu meditei antes de entrar, mas que saiu de mim de repente ao ver aquele desgraçado.

Angélica: Me perdoa Denise, não sei, acho que fiquei nervosa. Não vai mais acontecer. – tento me justificar, mesmo não tendo justificativa para isso. Felizmente ela entende.

Denise: Tudo bem fica tranquila, é nossa última apresentação. – ela passa a mão no meu ombro e sai já preparando quem seria o próximo a entrar. Quando ela sai acabo pensando alto olhando para o espelho.

Angélica: Foco Angélica! Só não olhar pra ele. Foco! – aproveito o espelho para dar uma ajeitada nos meus seios que estavam mais empinados que tudo por conta daquele maldito corcelê que me apertava.

Até que não demorou muito para terminar. Não sei mais essa última apresentação pra mim foi uma das melhores. Esqueci até a dor de cabeça, dor nos pés, a exaustão. A presença do Jaime naquela plateia me deu força pra fazer bonito, lógico, justamente porque ele estava lá, mas sei lá, sabe quando a pessoa emana boas vibrações pra você? Sim de fato isso saia de seus poros e com certeza me ajudou demais. Quando eu estava contracenando naquele palco, a presença dele é como se fosse à única pra mim, mediante aquela imensidão toda que assistia à peça.

No final todos os atores, inclusive eu “óbvio” junto da Denise, entramos para os agradecimentos finais. Denise fez seu discurso e por fim demos as mãos e nos reverenciamos para aquele enorme público. Olho para o Jaime e ele aplaudia todo sorridente e antes das cortinas se fecharem ele gesticula com as mãos dizendo para eu esperar e apontando pra porta da saída. Eu entendo e balanço a cabeça positivamente sorrindo. Eu não acreditava que ele possivelmente havia largado as coisas que ele estava fazendo pra vim me ver, depois de tanto tempo sem nos vermos, e depois de tanto eu achar que ele não se importava comigo eu realmente não estava acreditando que ele fez isso por mim. Estava no camarim e por vezes achei que estava sonhando. Será que eu ainda estava tão apaixonada por ele a ponto de ver alucinações sendo elas aparições do Jaime? Não, eu acho que eu ainda não estava maluca a esse ponto. Bom, eu veria na saída. 

Aproveitando que a Denise estava terminando de mandar os cenógrafos, figurinistas recolherem os objetos de suas respectivas áreas como fantasias e o cenário instalado no palco eu fui falar com ela sobre a proposta que recebi. Ela sempre foi muito atenciosa, comigo e mediante a isso me deu total apoio, mas sem descartar a insatisfação que ela teria se eu saísse da peça. Estava a cinco anos trabalhando com ela e ela nunca achou alguém apto para me substituir como ela mesma me disse particularmente um dia. Eu, literalmente estava num beco sem saída.

Denise: A decisão é sua Angélica. A novela é um trabalho que exige muita responsabilidade e eu sei que se você engajar nisso, não vai ter tempo pro teatro. Você sabe como é. – ela conversava comigo enquanto ajudava a organizar algumas coisas no camarim.

Angélica: Sim, sim Denise eu sei. – disse um tanto desolada por não estar adiantando muita coisa eu conversar com a Denise. Ainda me manteria em cima do muro enquanto não tomasse uma decisão arrebatadora.

Denise: Faça o que você achar melhor pra você Angélica. Pense com bastante calma. Ninguém pode decidir por você. O que for melhor para o seu bem estar, siga! – ela sorri pra mim enquanto saia do camarim já se despedindo. Eu dei um sorriso de canto de boca apenas.

Terminei de me ajeitar rapidinho, tirei aqueles malditos sapatos que machucavam meu calcanhar e meus dedinhos e senti um imenso alívio. Coloquei o vestido que eu cheguei ao teatro e o meu sapato. Tirei o excesso daquela maquiagem que a “Laura” usava. Estava com um pó super pálido no rosto e um batom vermelho como o sangue. Era muito exagerado! Me despedi dos meus colegas de trabalho e das pessoas que ainda trabalhavam na arrumação do teatro.

Fui me direcionando até o elevador já não me recordando mais de nada, nem mesmo que havia visto o Jaime naquela noite. Minha dor cabeça havia voltado e eu só queria chegar em casa, tomar um bom banho, comer alguma coisa e descansar. Chamei o elevador e logo estava no subsolo onde ficava o estacionamento. Ainda havia uma quantidade considerável de carros lá em baixo, uns eram dos meus amigos e funcionários do teatro, outros de alguns convidados vips, enfim...  De longe já avistava meu carro. Fui andando até lá. Chegando nele levo um susto ao ver o corpo do Jaime parado e encostado nele.

Angélica: Jaime? – olho espantada com a mão no meu peito, porque levei um susto do caramba.

Jaime: Poxa Angie, pensei que nunca mais ia sair. – ele sorri pra mim já vindo em minha direção para um abraço.

Angélica: Você me assustou sabia? – digo isso também indo ao seu encontro para abraçá-lo e rapidamente me prendendo em seus braços. Ele apoia suas mãos em minha cintura em seguida enlaça seus braços por completo por toda sua extensão. E eu apoio minhas mãos em seus ombros. Como sempre, muito elegante. Vestia calça jeans escura e uma camisa social em um tom de azul claro, com dois botões abertos na altura do pescoço e as mangas esticadas até o cotovelo.

Jaime: Nossa eu não sabia que eu causava susto nas pessoas. Da próxima vez eu venho com uma máscara, certo? – ele fala próximo a minha orelha por estarmos abraçados e continua: Estou até sentindo seu coração aqui no meu peito. Respira fundo Angie! Inala, exala, inala, exala! – ele era um bobo. Ele me vem com uma das falas de seu personagem “Rogelio de La Vega” da série que ele estava gravando atualmente. 

Angélica: Seu bobo! – me desprendo do seu abraço dando um tapinha eu seu braço.

Jaime: Você gosta né? – ele da risada. Que idiota!

Angélica: Iludido você em! – eu fasto o corpo dele para o lado pegando a chave do meu carro, desativando o alarme para conseguir abrir as portas do mesmo. Ele observa meus movimentos e eu acabo percebendo, porque ele nunca evita disfarçar nada. – Como você está Jaime? Fiquei surpresa em aparecer assim sem mais nem menos. Até pensei que estava maluca e que havia visto coisas quando estava contracenando no palco. Me espantei com sua presença, depois de tanto tempo assim sem nem me ligar e de repente vir assim do nada. 

Jaime: Bem eu estou, mas claro que eu não podia estar melhor como estou agora. E não, você não viu coisas eu estava lá te admirando naquele vestidão rosa – ele da risada e continua em seguida: E mesmo que você não acredite eu estava completamente enrolado com algumas coisas, que prefiro nem te contar pra não te desgastar com isso. 

Angélica: Ah sei... – deixo essas poucas para palavras soltas no ar, no entanto continuo: Você estava é tirando sarro de mim né, tonto! – cruzo meus braços com um olhar de cinismo. Tão palhaço esse Jaime.

Jaime: Claro que não, eu jamais seria capaz disso. - ele diz de modo brincalhão e eu tenho vontade de bater nele, mas ele acaba me fazendo rir com seu jeito.

Até então a minha dor de cabeça não estava me incomodando tanto,  até que do nada eu sinto uma pontada forte na cabeça. Fecho meus olhos colocando a mão na minha testa. Vendo minha reação Jaime se aproxima de mim rapidamente.

Jaime: Angie? O que houve? O que está sentindo? - Jaime apoia sua mão em minhas costas e segura um dos meus braços.

Angélica: Uma dor de cabeça forte. Preciso sentar! – Jaime pega firme em minha mão, abre mais a porta do meu carro na parte do condutor e me senta ali com as pernas pra fora do mesmo. Ele abaixa seu corpo para ficar mais rente a mim e permanece segurando firme minha mão.

Jaime: Ei Angélica, você comeu alguma coisa ou está esse tempo todo só gastando energia sem colocar nada no estômago? Você sabe muito bem que não pode ficar sem comer. Isso é desde a época da novela lembra? Você passava muito mal. – Jaime apoia uma de suas mãos em minha coxa. Eu a fim de fazer com que a dor passasse, puxava o ar pelo nariz e soltava pela boca, parecendo até que estava cansada, mas é que a dor estava intensa. Meus olhos estavam quase que fechados pela dor.  

Angélica: Sim, eu não comi nada! Eu tive tempo, muita correria Jaime... Preciso ir pra casa, depois nos falamos, sim? – tento me desprender da mão do Jaime que segurava firme a minha, mas ele não facilita.

Jaime: Eu sabia! É óbvio que a dor é por fome. Por Diós Angélica! Ficar todo esse tempo sem comer? E você pode ficando quietinha que eu jamais vou deixar você ir embora sozinha dirigindo. – ele pega a chave que estava presa na minha bolsa me ajuda a me levantar me guiando para o banco da frente do passageiro. Eu dou alguns passos com a guia dele, mas paro para contestar.

Angélica: Jaime fica sossegado, você tem suas coisas pra fazer, eu consigo... – ele me corta.

Jaime: Angélica eu quero ficar sossegado, mas só se eu te levar pra sua casa sã e salva. Deixa eu fazer isso por você? – ele permanece do lado do meu corpo até chegar ao lado do passageiro do banco da frente. 

Jaime abre a porta do carro pra mim e eu entro rapidamente. Ele bem agiu passa pelo vão entre a parede e a dianteira do carro chegando ao condutor. Assim que ele entra coloca o cinto vira seu corpo pra mim e vendo que eu estava com a cabeça apoiada no encosto do carro de lado virada pra ele, ele com as mãos bem ágeis vai até a roliça e inclina o banco pra trás deixando-me mais confortável.

Angélica: Obrigada! – mesmo com dor e com os olhos poucos fechados eu tiro forças pra agradecer e dar um breve sorriso de canto de boca pra ele. Estava sendo muito atencioso comigo desde o momento em que eu o vi me assistindo.

Jaime: Obrigada por quê? Você é a minha hermana é o mínimo que eu posso fazer por você. – ele coloca sua mão sobre a minha que estava posicionada em frente ao meu rosto a acaricia lentamente e em seguida deposita um beijo em minha testa.

Meu coração pulsava com calma. Mesmo com dor eu nunca tinha ficado tão sossegada. Até então eu não estava tendo sossego por conta de tudo que teria que decidir, mas ele me trouxe essa paz. Não sei mais de nada também, só sei que ele é alguém especial pra mim. Muito especial!