Fanfic: Peças de um quebra cabeça perfeito | Tema: ValeCamil

Mesmo sonolenta, antes de dormimos ajeitamos alguma coisa para comermos e tomei a última vitamina que não havia tomado.

Como não sou muito de comer a noite, tomei mais líquido, o que me fez acordar durante madrugada morrendo de vontade de fazer xixi. Dou um gemidinho na cama com os olhos fechados ainda e com a bexiga cheia e doendo. Jaime estava com o braço sobre o meu corpo e lentamente vou erguendo meu tronco, tirando bem devagar o seu braço para não acordá-lo e o faço com rapidez e com sucesso.

Aos poucos vou tirando o cobertor que me cobria e assim me sento na beira da cama, despertando um pouco mais antes de me levantar. Enfim me levanto colocando o chinelo nos pés, caminhando e bocejando até o banheiro. Estava bem apertada. Encosto a porta e assim abaixo minha roupa pra fazer xixi.

Como estava bem sonolenta, a luz do banheiro forte me impossibilitava abrir bem os olhos, no entanto assim que consigo abrir, terminando minha necessidade, meu coração gela e meu corpo começa a tremer. Fico sem ação ao observar em minha calcinha, vestígios bem aparentes de sangue. Coço os olhos a fim de buscar enxergar melhor o que supostamente via, e era aquilo mesmo. Começo respirar mais forte, com os olhos arregalados. Minha mão começa a tremer e suar frio. Minha boca seca e eu tinha vontade de gritar mas minha voz não saia. Fiquei estagnada, sem ação, sem conseguir ter alguma reação que pudesse me libertar daquela agonia que estava sentindo. Meu coração disparou, até que consigo tirar forças para chamar o Jaime.

Angélica: Jaaaaaime, Jaime por favor vem aqui! Jaaaaime! - grito, um tanto aflita e agoniada, já embargada em prantos. No banheiro o som da minha voz, causava um forte eco. Incessantes lágrimas começam a escorrer do meu rosto. Jaime não tinha me ouvido e eu estava completamente sem forças de chamá-lo novamente, então começo a chorar forte. Um choro audível e de muita, muita tristeza. Depois de uns minutos, chorando feito uma condenada no banheiro, Jaime finalmente me ouve e aparece.

Jaime: Angélica? - ele dá duas batidinhas na porta me chamando. A minha voz não saia, mas assim que ouço sua voz, meu choro sai mais forte e foi ai que ele entrou de uma vez no banheiro: O que houve Angélica? - ele me olha e vem em minha direção, muito preocupado, olhando por toda a extensão do banheiro e foi ai que ele viu minha calcinha jogada no chão, ensanguentada. Ele se abaixa junto com meu corpo sentado no chão, me pegando pelos braços e puxando para abraçá-lo: Amor se acalma, por Diós! - ele fala muito preocupado, depositando um beijo em minha cabeça, me abraçando forte para me confortar e me ajudar a me acalmar de alguma forma. Enquanto eu não parei de chorar e não me acalmei, Jaime não me soltou, ficou na mesma posição abaixado do meu lado no chão do banheiro: Angie vamos pro hospital agora. - Jaime fala, fazendo força, juntando meu corpo no dele para que eu possa escorar, me levantando. Estava sem forças para dar qualquer passo se quer, mas Jaime estava ali me ajudando, sendo meu guia.

No quarto ele me senta na cama, vai até o guarda roupa, pega uma roupa íntima pra mim, uma calça e um casaco. Eu estava sem acreditar que toda aquela minha felicidade havia se tornado essa tremenda coisa ruim. Não queria acreditar. Colocava minha mão em meu rosto chorando muito ainda, balaçando a cabeça negativamente, não querendo que aquilo fosse verdade. Não sabia como agir, como lidar com essa terrível situação. Não podia perder nosso filho, não podia perdê-lo assim.

Angélica: Amor, acho que nosso bebê não está bem! - falo um tanto embargada ainda, tentando não chorar novamente, mas era inevitável. Jaime me olhava com uma expressão de tristeza também, com seus olhos cheinhos de lágrimas, enquanto me ajudava a vestir minha calça. Ele também estava sofrendo comigo, no entanto calado, porque ele queria ser a força que naquele momento eu não estava tendo. Assim que digo isso, ele respira fundo, soltando o ar pela boca, passando sua mão pelo meu rosto, enxugando as lágrimas que escorriam pelo mesmo em seguida erguendo-se para depositar um beijo em minha testa. Ele não fala nada, apenas continua me ajudando a me vestir. Tira a minha camisola, coloca meu sutiã, uma blusa fina e em seguida o casaco.

Não tínhamos muito tempo pra pensar. Mesmo eu não estando com hemorrragia muito intensa não podíamos ficar ali nem só mais um minuto que seja, afinal, eu estava grávida e o que mais queríamos era que não fosse nada de tão grave que pudesse me fazer perder meu filho.

Jaime pega um casaco qualquer pra ele, coloca qualquer calça que encontra no guarda roupa, pega nossos celulares, documentos, coloca rápido dentro da minha bolsa e vem até mim.

Jaime: Angie, você não está sentindo o que? Estou muito preocupado, eu preciso que fale se estiver sentindo alguma dor forte, por favor! - ele fala com o rosto rente ao meu, com o tronco um pouco abaixado. Eu estava com o rosto completamente molhado pelo choro, no entanto, não chorava mais como antes. Balanço a cabeça negativamente respondendo sua pergunta.

Jaime sabia o quanto eu estava mal e sensível então não me forçou a falar. Imediatamente coloca a bolsa em seu ombro, suas mãos ele apoia em minha cintura, colocando meus braços em seus ombros, me puxando devagar para levantar. Minhas pernas estavam trêmulas, eu não ia conseguir dar passos para descer as escadas, Jaime vendo meu estado, me senta novamente na cama, abre a porta do quarto e assim, caminha de novo até mim, colocando um de seus braços embaixo das minhas pernas e o outro apoiando em minha cintura, me levantando em seus braços, até o carro.

No carro, Jaime fasta o banco da frente para trás para que eu possa esticar melhor minhas pernas e me prende no cinto de segurança, em seguida passa pela dianteira do carro, indo para o lado do condutor.

Jaime: Meu amor, está sentindo algo? - ele pergunta novamente olhando pra mim, colocando sua mão sobre a minha que estava em minha coxa. Dou um suspiro, com a expressão facial caída e creio que com os olhos também inchados de tanto que chorei.

Angélica: Uma dor no coração, uma tristeza que não cabe dentro de mim. - mesmo sem forças eu consigo falar com ele. Continuo: Jaime, eu... Eu não quero viver se meu filho não viver também. - falo com a voz mais baixa, por estar quase sem voz, pelo nervoso e a tristeza grande.

Jaime: Angélica, pelo amor de Deus, não fala uma coisa dessas! Vai ficar tudo bem! - ele fala com uma expressão triste e preocupada. Acaricia meu rosto com as costas de suas mãos, me dá um abraço apertado e logo deposita um beijo em meus lábios, se desprendendo em seguida de mim, ligando e seguindo com o carro pra sair da garagem.

Assim que chegamos no hospital, Jaime pega uma cadeira de rodas e me tira do carro me colocando na mesma.

Na recepção, Jaime confirma minha ficha e na sala de espera faz contato com a doutora Katherine que trabalhava 24h e também fazia seus atendimentos nesse hospital. Ela que estava acompanhando minha gravidez e de fato saberia o que fazer diante disso. Não estava tendo dores nem nada, mas digamos que a minha tristeza, agonia, aflição eram as minhas dores daquele momento. Parecia que eu tinha levado diversas pancadas por todos os lados do meu corpo por causa da tensão que me fazia travar.

Jaime: Angie a doutora Katherine tá vindo pra cá agora. - ele fala olhando pra mim. Estava com o olhar perdido pra qualquer canto. Nem o ouvi direito. Estava muito mal: Amor estou falando com você. - ele vira meu rosto com sua mão em meu queixo e só assim consigo me concentrar nele.

Angélica: Quem está vindo? - pergunto pra ele por não ter prestado atenção antes.

Jaime: A sua doutora, a Katherine! - ele me responde.

Angélica: Ah! - respondo brevemente.

Jaime: Vai ficar tudo bem tá! Eu sei que é difícil, mas eu estou aqui com você, não vou te deixar só, por nada nesse mundo. Você acredita em mim? - ele fala logo em seguida pergunta pra mim que ainda meio em transe olhava pra ele.

Angélica: Me abraça! Me abraça bem forte! - falo com a voz meio falha e pouco audível, mas Jaime conseguiu me compreender e o faz rapidamente. Me abraça com toda sua força e com toda sua vontade de me acolher e me confortar. Encosto minha cabeça em um dos seus ombros e envolvo meus braços em seu pescoço, o abraçando forte também, pressionando meus dedos em suas costas segurado o tecido do seu casaco com minhas unhas cravadas ali, depositando toda minha tensão, o peso sobre o corpo do Jaime.

Quando nos soltamos, eu vejo no rosto do Jaime algumas lágrimas que haviam escorrido de seus olhos. Ele disfarça virando o rosto, passando as mãos agéis sobre sua fase para enxugá-las com rapidez, mas mesmo assim eu consigo ver e ele percebe.

Jaime: Me perdoa Angie! Eu fui forte até agora! - ele fala embargado, abaixando o rosto, deixando que as lágrimas escorrecem e caíssem pelo seu rosto até o chão. Apesar de muito sensível eu estava mais calma, pela calmaria que ele passou até esse momento, então era a minha vez.

Angélica: Lembra que você me disse que... - dou uma pausa na fala, falando baixinho e engolindo a saliva: Que ia dar tudo certo? - coloco minhas mãos entre as suas e ali ele segura firme, olhando pra mim agora. Passo uma das minhas mãos em seu rosto, enxugando uma lágrima que escorria: Eu acredito em você e agora, acredito que vai dar tudo certo! - falo mais conformada com a situação.

Jaime: Sim Angie! Você é uma mulher forte e tudo vai ficar bem com nosso filho e se não... Você saiba que... Eu jamais vou te deixar! Jamais meu amor, jamais! - ele fala, enxugando mais as lágrimas de seus olhos, em seguida colocando sua mão em minha barriga. Olho pra baixo, onde se encontrava sua mão, colocando a minha sobre a dele, voltando a olhá-lo nos olhos e que logo rasga um pequeno sorriso de canto para mim e que mesmo com aquela tensão toda, eu consigo correspondê-lo, um tanto terna e tranquila agora, no entanto a única coisa que eu queria naquele momento, era saber se tudo ficaria bem com meu filho e que se, dessa vez, eu viveria se realmente tivesse que enfrentar outra trágica perda.