Fanfic: Peças de um quebra cabeça perfeito | Tema: ValeCamil

É, infelizmente não teve jeito. A doutora demorou um pouco pra chegar e já antes disso comecei a sentir fortes dores no pé da barriga. As enfermeiras de alguma forma tentaram fazer a dor amenizar, passando um analgésico no entanto não teve outra saída. Meu corpo não estava mais aceitando o feto e a hemorragia começou a voltar com mais intensidade. Assim que a doutora Katherine chegou no hospital estava completamente mal e sem cor e com muita dor e sangramento e foi ai que não teve escapatória. O aborto teria que ser feito, mas já se sabia que era uma abordo espontâneo. Não entendia, como uma mulher saudável como eu, poderia ter sofrido na vida dois abordos.

Sofri, sofri muito. Tanto pelo fato de ter tomado um remédio na veia que me faria sentir mais e mais contrações fortes para espelir todo o sangue e o feto de dentro de mim, mas também meu emocional. Eram dois nenéns perdidos assim do nada. Como eu lidaria com tudo isso que estava passando comigo? Estava sendo tudo tão intenso pra mim que creio que senti tanta dor que fiquei anestesiada e só fiquei mais a par de tudo depois que todo o procedimento foi feito, pela minha doutora, médicos, enfim...

Meus olhos estavam pesados e meu corpo inteiramente doendo. Quando consigo abrir os olhos, já acordando dos vários anestésicos aplicados em meu corpo estava na sala do hospital, com alguns aparelhos ligados a mim. Fiquei aflita porque não sabia o que estava acontecendo e estava sozinha. A sala era muito fechada, mas era muito bem iluminada. Levantei um pouco meu pescoço para olhar melhor o espaço em que eu estava. Comecei ficar agoniada pelo fato de estar sozinha e bem fragilizada em todos os sentidos da palavra.

Angélica: Jaime! - minha voz não saia como eu queria e com a potência que ela realmente tinha. Estava muito fraca. Meus olhos começam a encher de lágrimas por eu estar naquele estado, até que a doutora entra no quarto. 

Drª Katherine: Vim pra ver como você está Angélica! - ela fala um tanto calma, mas eu sabia que essa calmaria não existia de fato.

Angélica: Não tenho mais meu filho né doutora? Pode me falar! - pergunto bem direta com a voz falha e bem baixa, ao observar a expressão da doutora, que mesmo calma, não negava que nada havia ficado bem, como eu pensava que ficaria. A doutora fica pensativa e muda por uns segundos.

Drª Katherine: Angélica, você é uma mulher muito forte! Eu te admiro! - ela fala passando a mão em meu braço, esticado sobre a cama, fugindo da minha pergunta.

Angélica: Me fala doutora, me fala, eu sei que... - dou uma pausa na fala, pelo cansaço intenso que sentia e continuo: Eu sei que as coisas não ficaram bem. - fechava os olhos por vezes buscando cada vez mais força para me manter desperta e com força pra falar.

Drª Katherine: Angélica, você perdeu seu bebê! - ela me conta ainda com uma calmaria na voz. Assim que ela fala, fecho meus olhos, respirando fundo, tentando manter a calma e evitando chorar, mas era difícil: Angélica, você precisa manter a calma, você está muito frágil e sua imunidade muito baixa. Vou te dar um remédio para dormir! - ela fala se direcionando para a bolsa de soro que estava pendurada ao lado dos aparelhos que apitavam constantemente.

Angélica: Não, não doutora! - falo um tanto cansada, mas no entanto, não deixo que ela me aplique de novo esse remédio que me dopa.

Drª Katherine: Tem certeza? Você não pode ficar nervosa, precisa estar muito calma pra poder se recuperar. Seu útero está frágil e você precisou tomar alguns remédios fortes na veia. - ela fala olhando pra mim.

Angélica: Sim doutora, vou ficar! - minha voz aos poucos ia melhorando, mas ainda estava meio dopada. Uma lágrima meio involuntária escorre pelo meu rosto. Não sei se me faria bem, mas estava segurando o meu sentimento de tristeza. A minha única vontade era de chorar muito naquele momento, mas até pra isso eu estava sem forças.

Drª Katherine: Tudo bem! Sem remédios para dormir então. - ela concorda e deixa de lado o remédio que ela ia aplicar: Você vai ficar bem Angélica! Sua hemorragia está controlada no entanto você está com um dreno, entre suas pernas para que todo o sangue do seu útero seja tirado de uma maneira só. - ela me conta. Realmente havia algo desconfortável entre minhas pernas e foi ai que entendi o porquê.

Angélica: Doutora, eu quero... - tomo fôlego e volto a falar: Eu quero falar com o Jaime. Onde está ele? Eu preciso dele aqui. - falo um pouco embargada ao lembrar dele.

Drª Katherine: Olha Angélica, infelizmente ele não vai poder entrar aqui agora. Essa sala é como se fosse uma UTI, onde precisamos manter uma certo distanciamento de tudo que possa vim de fora, dentre bactérias, fungos enfim... - ela conta, mas eu não queria aceitar isso.

Angélica: Doutora, eu preciso dele comigo! Eu preciso dele doutora! - começo me alterar um pouco: Eu preciso dele, manda ele entrar doutora, por favor! - eu estava tão fragilizada que a única coisa que entendi, foi que ele não poderia entrar e nada mais além disso.

Drª Katherine: Angélica, se acalma, respira fundo! Ele vai vim te ver, só que você precisa estar mais tranquila e melhor de todo o procedimento feito. - ela é bem paciênte comigo.

Angélica: Jaime, Jaime por favor Jaime! - comecei a ficar mais e mais alterada, tentando com toda a minha força, que era pouca, levantar meu tronco da cama, para tentar tirar fôlego para chamá-lo, mas não conseguia ter esse pique. A doutora vendo o meu estado, não viu outra solução que não fosse me dopar para dormir e manter a calma. E assim foi...

Meus olhos pareciam não querer abrir. Vou forçando aos pouquinhos e a princípio, as luzes do teto do quarto do hospital batiam em meus olhos de uma forma embaçada. Respiro fundo mais recuperada do meu corpo hiper dolorido e cheio tensão. Ainda meio dopada, aos poucos vou abrindo mais meus olhos e virando lentamente meu rosto. Sentia algo quente segurando a minha mão direita e sendo assim aperto para sentir melhor o que era. Assim que o faço, Jaime levanta seu troco que a príncipio estava com a testa encostada na cama segurando minha mão, e que ai se levanta me olhando supreso. Ao perceber que era ele, viro mais meu rosto e só assim consigo ter forças para rasgar um breve sorriso em meus lábios.

Jaime: Pequena... - ele fala um tanto embargado e terno, com os olhos cheinhos de lágrimas, no entanto se mantém forte, como sempre, para me passar somente força. Ele deposita alguns beijos em minha mão, em seguida, ergue mais seu tronco em pé para depositar um beijo intenso e quente em meus lábios: Não sabe como eu fiquei preocupado com você. Não sosseguei enquanto não consegui convencer os médicos a vim te ver. - ele fala todo cheio de preocupação, passando as costas de suas mãos em meu rosto, alisando a região levemente.

Quando ele fala isso, respiro fundo para não chorar. Eu também, mais do que tudo queria vê-lo, precisava dele ali comigo.

Angélica: Amor... - dou uma pausa na fala e continuo em seguida: Não temos mais um filho. - falo com uma expressão triste em meu rosto.

Jaime: Eu sei meu amor, mas não pensa nisso não, sim? Vai ficar tudo bem, porque... - ele tenta buscar as melhores palavras para me confortar. Ele assim como eu estava sofrendo no entanto, ele não queria me passar isso: ...Por que você é incrível e uma mulher maravilhosa que me supreende a cada dia com sua força e é tudo que todas as mulheres deveriam ter e que no entanto eu encontrei em você, porque eu sou um homem de sorte. - ele fala todo emocionado, cheio de lindas palavras se referindo a mim.

Angélica: Não faz isso não... - falo toda emotiva: Toda essa minha força vem de você e por você! - falo um pouco mais recuperada da voz, um tanto tranquila e com algumas lágrimas escorrendo de meus olhos, após toda essa coisa linda que veio de sua boca e de seu coração.

Jaime: Não se preocupa que vou te fazer a mulher mais feliz do mundo e logo, quando você se recuperar, vamos providenciar nosso casamento e outro neném. - ele fala, enxugando com o polegar as lágrimas que escorriam de meus olhos. Assim que ela fala “providenciar outro neném” me bate uma tristeza imensa e foi ai que decidi repentinamente o que de fato, eu sei que ele não aceitaria, mas que pra mim, ia ser melhor.

Angélica: Jaime, eu... - dou uma pausa na fala, puxando o ar pelo nariz, fechando um pouco os olhos para renovar minha força: Não quero engravidar nunca mais! - falo um pouco mais séria, tirando a mão que Jaime segurava. Eu já estava cansada de sofrer tanto que me veio isso na cabeça e de fato era o que de agora em diante se tornaria meu pensamento concreto. Pediria para doutora me passar um remédio que me impossibilitasse de engravidar ou de uma vez, tirar o meu útero.