Fanfic: Peças de um quebra cabeça perfeito | Tema: ValeCamil

Mais tarde, depois que ficamos mais um pouquinho juntos no quarto descansando, Jaime resolve preparar algo pra gente comer. Queria descer para ajudá-lo, mas ele me obrigou a ficar no quarto deitada, sem me preocupar com nada e que quando preparasse, dependendo do que fosse trazia ou me chamava para descer para comermos a mesa. Fiz o que ele pediu né? Bom, fiquei deitada de lado, com um lençol fino em minhas pernas. Televisão ligada, mas os olhos fixos na tela do meu celular.

Quando minha mente estava “desocupada” eu acabava sozinha pensando em diversas coisas e a primeira coisa que me veio na cabeça foi o fato de eu estar escondendo do Jaime que comecei a tomar a injeção para não engravidar mais. Estava com um nó na garganta, porque eu sabia que não era certo e mais ainda por ele sempre ser tão compreensivo comigo e eu estar fazendo isso. Só que era uma decisão minha e eu queria manter ela, até quando pudesse e assim eu teria que ser forte.

Para minha mãe eu também não havia contato e isso estava me encabulando demais e me deixando com a consciência um pouco pesada, então aproveitei que o Jaime não estava no quarto para ligar pra ela contando tudo, mesmo sabendo que talvez ela me repreenderia, só que eu realmente precisava contar para alguém e esse alguém tinha que ser ela.

Estava deitada, me levanto com a ajuda das mãos apoiadas na cama e me sento, colocando o travesseiro escorado na cabeceira da cama encostando as minhas costas nela e esticando as pernas na extensão da mesma, mantendo o lençol em mim. No celular, procuro rapidamente o contato e acho, já discando e esperando enquanto chamava. Felizmente no terceiro toque, ela atende.

A.Maria: Bueno hija? - minha mãe atende sabendo que era eu pelo nome que aparecia na tela do seu celular.

Angélica: Hola mami! - falo um pouco sorridente.

A.Maria: Mi niña! Está bem? - ela pergunta preocupada.

Angélica: Mais ou menos mami, por isso te liguei! - a respondo um pouco mais séria agora.

A.Maria: Que aconteceu mi amor? Cadê o Jaime? - ela pergunta mais preocupada ainda, já com o pensamento direcionado ao Jaime.

Angélica: Calma mãe! Ta tudo bem entre eu e o Jaime e ele inclusive está na cozinha preparando algo pra gente comer e aproveitei esse momento pra te contar umas coisas que... - dou uma pausa na fala respirando fundo, passando a língua em meus lábios e continuando: ...Que estão me deixando com a consciência pesada por ninguém mais saber, além da minha médica. - conto e em seguida fico esperando minha mãe dizer algo.

A.Maria: Graças a Deus estão bem, mas o que houve meu amor? Pode me contar que eu estou te ouvindo. - ela toda preocupada, me dá total atenção.

Angélica: Mãe, sabe, lembra que eu estava com aqueles pensamentos de não engravidar nunca mais? - pergunto pra minha mãe, fazendo com que ela se recordasse das coisas que eu falei a ela uns dias atrás no hospital.

A.Maria: Pensamentos insanos você quer dizer, não é Angélica? - ela complementa com uma maior seriedade na voz.

Angélica: Digamos que... - dou uma pausa na fala já imaginando como minha mãe reagiria: Digamos que eles não saíram da minha mente. - completo.

A.Maria: Como assim Angélica? O que você está fazendo ou pensando? - ela me pergunta mais séria e resolvo não manter esses rodeios.

Angélica: Mãe eu comecei a tomar injeção para não engravidar mais. - conto pra ela de uma vez. Ela fica em silêncio por alguns segundos do outro lado da linha, mas logo estoura.

A.Maria: Angélica, você ficou maluca? - ela pergunta com a voz em um tom mais elevado. Nunca tinha ouvido minha mãe falar desse jeito comigo.

Angélica: Não mãe, só decidi sozinha o que eu realmente quero. - falo com um pouco de tranquilidade na voz.

A.Maria: Por Diós Angélica! Você acha que você agindo de forma correta? Além de você estar sendo egoísta, porque você sabe que o Jaime não quer isso, você vai começar a estragar sua saúde tomando essas porcarias de injeções para não engravidar mais? - minha mãe me dá maior esporro e com uma seriedade na voz que eu nunca havia ouvido igual, principalmente ela que sempre foi tão serena comigo. Nem sabia o que responder pra minha mãe, só não queria discutir.

Angélica: Eu pensei que você fosse me apoiar. - falo um pouco preocupada, com a minha mãe séria desse jeito e também na possibilidade dela contar para o Jaime.

A.Maria: Angélica, você sabe muito bem que eu nunca optei em te apoiar nesses seus pensamentos, isso desde o hospital, você não lembra mais? - ela pergunta ainda muito nervosa.

Angélica: Lembro, mas eu decidi assim depois e tudo para evitar sofrimentos. Mami estou cansada de sofrer. Não quero isso de novo pra mim e também estou pensando no Jaime. Ele sofreu comigo também e mediante a tudo isso, vou manter a minha palavra e mesmo que você não aceite e não me apoie, eu quero te pedir que não conte nada para ele. - falo com a voz serena no entanto um pouco embargada. Não gostei da forma que a minha mãe falou comigo. Era uma decisão minha e eu só queria um consolo, um conforto da parte dela, talvez até um pouco de apoio, mas eu vi que não seria fácil conseguir.

A.Maria: Angélica eu simplesmente não sei, mas seria melhor que você nem tivesse me ligado pra contar isso, sabendo que já conversamos sobre. - ela fala com o tom mais leve na voz e continua: Não se preocupada que eu não vou me meter em nada, até porque Jaime não tem culpa e eu não quero ver ele sofrendo assim como eu não queria que você sofresse, no entanto você está procurando isso. Eu só digo uma coisa pra você Angélica; se você realmente ama ele, conta a verdade, não esconda, porque se ele descobrir de outro jeito, vai ser muito pior. E já saiba da minha parte, que eu não vou te apoiar nessa maluquice. Sou mãe e sei o quanto isso pode prejudicar sua saúde, sendo essa mulher jovem e cheia de saúde que você é. - super animador ouvir essas coisas da minha mãe. Não sabia mais o que dizer, só não queria mais falar com ela naquele instante. Sentia uma mistura de medo, vergonha, tristeza, no entanto em partes minha mãe estava certa, no entanto a minha decisão era concreta. Manteria tomando mensalmente as injeções e sem o Jaime saber. A coisa que eu mais queria na vida era engravidar e ter filhos, só que até agora o meu pior trauma é com gravidez, sendo assim, me impossibilito de vez desse trauma.

Angélica: Me perdoa mãe, mesmo que você não entenda é para o meu bem e para o bem do próprio Jaime!

A.Maria: Não peça perdão para mim. Peça pra você mesma! - ela é direta e um tanto dura.

Angélica: Por favor, tenta reconsiderar e me ajudar de alguma forma, eu estou sofrendo demais! - falo com a voz mais baixa completamente triste.

A.Maria: Estou tentando te ajudar Angélica, mas você também tem que procurar se ajudar. Se você acha que dessa forma será melhor pra você, vai em frente, no entanto, você já sabe o que eu penso sobre isso. Você não pode se entregar assim. Sei que foram dois abordos dolorosos que você já sofreu na vida, mas é preciso pensar. Você está perdida e fazendo qualquer coisa que vem em seu pensamento, e não é assim. Você está em uma momento de fragilidade e é o pior momento para tomar decisões dessa grandiosidade. - ela fala mais calma, no entanto mantendo a seriedade em sua voz.

Angélica: Mami, eu vou desligar, não estou bem e já já o Jaime está aqui. - ouço os seus conselhos, mas eu realmente não estava boa para pensar.

A.Maria: Tudo bem! - me despeço dela, ela também e logo desligo o telefone celular. Deixo meu celular do meu lado oposto da cama e passo as mãos em meu rosto indo com elas até a minha cabeça, passando meu cabelo para trás. Conversa extremamente tensa e que não me deixou bem como eu previa ficar. Estava de novo em cima do muro. Por um lado minha mãe estava certa e confesso que em algumas coisas eu concordo com ela, acho que deixar de contar para o Jaime era errado, mas por outro lado, eu sabia que ele não aceitaria, então iria continuar fazendo do meu jeito.

A minha única vontade depois de conversar com a minha mãe, era chorar, chorar muito mesmo e por estar muito fragilizada o fiz. Me deitei exatamente do mesmo jeito que estava na cama antes, de lado só que virada do lado oposto da porta e assim começo a chorar. Chorar baixinho, chorar pra mim, chorar pra ninguém ouvir. Meu olhos se enchem a cada segundo e transbordam pelo percurso de lado do meu rosto, molhando meu travesseiro.

Fiquei ali quietinha, até que o Jaime entra e eu rapidamente, tendo enxugar as lágrimas do meu rosto. Eu sabia que ele ia perceber, então levanto em disparada, tirando rapidamente o lençol das minhas pernas e entrando correndo para o banheiro.

Jaime: Ei Angie! - Jaime ao ver meu jeito apressado entrando no banheiro me chama, mas eu não dou ouvidos, entro no banheiro e tranco a porta: Angélica! - ele me chama mais um vez agora dando algumas batidinhas na porta.

Angélica: Espera ai amor! - falo normalmente, abrindo a torneira do banheiro para lavar meu rosto.

Jaime: Você está bem Angie? Abre a porta! - ele fala preocupado, mexendo na maçaneta da mesma. Lavo e enxugo rapidamente o meu rosto com a toalha e dou uma olhadinha no espelho. Estava com os olhos um pouco vermelhos mas dava pra inventar algo pra ele.

Angélica: Pronto! - destranco a porta e abro ela, dando imediatamente de cara com o Jaime.

Jaime: O que aconteceu Angie? Fiquei preocupado! - ele fala pegando em minha mão e me induzindo a sair do banheiro: Você passou mal? Eu te levo agora pro hospital! - ele fala todo preocupado, olhando em meus olhos.

Angélica: Calma amor, eu estou bem! Só estava um pouco apertada pra usar o banheiro. - encosto minha cabeça em seu peito, o abraçando e respondendo. Ele logo me induz a desencostá-lo, para me olhar nos olhos. Dou um sorriso frouxo pra ele, logo desviando meu olhar do dele, para ele não perceber que meus os olhos estavam um pouco vermelhos por ter chorado, mas Jaime era muito perceptivo e não tinha como eu esconder meu sentimentos, meu físico, meu emocional, dele: E esses olhos vermelhos Angélica? - ele pergunta virando meu queixo com sua mão.

Angélica: Eu estava cochilando amor e tive que correr pro banheiro. - falo tentando fazer com que ele acreditasse, mas eu de verdade nem mentir, estava sabendo nesse momento.

Jaime: O que está acontecendo Angélica? - ele sabia que eu estava mentindo então pergunta, cruzando os braços contra seu peito me olhando firme um pouco mais sério.

Angélica: Nada meu amor, eu juro! - me mantenho firme.

Jaime: Eu não acredito em você! Você nunca ficou com os olhos vermelhos por cochilar. - ele fala, realmente não acreditando em nenhuma palavra que eu disse. Não sabia mais como esconder, mas eu não queria contar que estava chorando, pois ai me induziria a explicar o porquê de tudo.

Angélica: Por favor Jaime! Não me deixa mais nervosa, é exatamente o que eu disse, acredita! - não gostava de mentir pra ele, mas para o momento teria que ser assim.

Jaime: Pra agora eu vou te deixar em paz, mas eu sei que você estava chorando, porque seu rosto e seu jeito não negam. Só que eu quero que você guarde tudo que eu te disse antes de descer Angie e quero complementar que eu estou com você e quero te pedir só mais uma coisa pra terminar essa conversa. - ele dá uma pausa e continua: Não importa o que seja, o que passe, eu não quero que esconda nada de mim, nada, entendeu? - ele coloca suas duas mãos em meu rosto, levantando-o olhando em meus olhos e por vezes para os meus lábios. Depois dele falar isso eu fiquei pior ainda. De um certo modo estava enganando o homem da minha vida. Naquele instante não tinha nem cara para dizer uma palavra se quer, simplesmente balanço a cabeça positivamente, concordando com o que ele havia falado, deposito um selinho em seus lábios e o abraço, envolvendo meus braços em sua cintura e com a cabeça encostada em seu peito. Ele corresponde o abraço, mas manteria essa preocupação instalada em seu ser, enquanto não soubesse o que havia acontecido de verdade comigo e o que eu estava escondendo dele.