Fanfics Brasil - Dança nas trevas O Sacerdote do Alvorecer

Fanfic: O Sacerdote do Alvorecer | Tema: Vampiros


Capítulo: Dança nas trevas

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A hora negra da floresta havia chegado. Quando os sopros dos ventos noturnos se tornam tão intensos que a pele já não suporta sua presença imponente sem manifestar arrepios. A fogueira aquece o homem, porém apenas seu corpo. Sua alma se encontra perdida dentro do imenso vazio do que suas próximas ações desencadearão. 


O homem, um velho de longas barbas grisalhas e cabelos raleados pelo tempo, observa as chamas dançarem à sua frente, sentado em um tronco de arvore e deixando uma lágrima escorrer por seu rosto. Em sua mão segurava uma estaca de madeira de aproximadamente trinta centímetros. A apertava com força enquanto seus pensamentos o levavam a uma espiral de tortura mental à qual ele não desejaria a nenhum pai. Próxima à fogueira, jazia um corpo.


Uma figura magra e esbranquiçada, de longos cabelos castanhos que lhe cobriam o rosto, trajando alguns trapos campestres sujos de terra e grama, descalço e gelado como as rochas banhadas de sereno.


Um uivo corta o silencio da floresta emergida em trevas. Rumores de que ali um mal inominável não descansava nunca, nenhum aldeão jamais adentrara suas entranhas em tal profundidade, não sem desaparecer sem deixar rastros. Mas não importavam as trevas ao redor, pois as trevas em seu coração eram mais sufocantes do que a presença maligna que os espreitava. Bruxas, monstros, aquilo... que venham lhe tomar a vida. Mas antes salvaria a alma de seu primogênito.


Soprando suas incertezas com vigor o homem se ergue lentamente, a estaca firme em sua mão, sem tremor, sem oscilar, seu filho merece sua coragem absoluta. Ele fará com que chegue em dignidade a presença de seus antepassados mesmo que de forma abrupta e prematura. Morrerá e permanecerá humano e escapará do terrível destino planejado pelos malditos que o atacaram.


Cai de joelhos ao lado do corpo ofegante, porém decidido. É o fim e ele se encarregará que de fato seja. Algo ocorre ao corpo, enquanto uma gélida brisa por sobre sua face lhe remove os cabelos que a ocultam. O homem encara a face da criança uma ultima vez, em uma torrente de lágrimas e tortuosos pensamentos ele ergue a estaca e a posiciona sobre seu coração, erguendo os braços lentamente para o impulso que a fará atravessá-lo.  O menino começa a abrir a boca e inspirar lentamente o ar da noite, revelando dentes afiados como presas de um animal. Pássaros ate então adormecidos se inquietam em seus ninhos e começam a bater retirada na presença de um terrível predador que surge de um plano não pertencente a este mundo.        


- Não!


Ele não permitiria isso. Erguendo com fúria a estaca o homem desfere um golpe sobre o peito do menino. Porém a estaca não chega a perfurá-lo, pois das sombras da floresta uma criatura surge atacando o homem violentamente e o arremessando contra uma arvore próxima, lhe quebrando uma costela. Olhos injetados em um tom amarelado, envolta em sombras, lábios carnudos avermelhados, seios fartos, cabelos ruivos rebeldes até a cintura, uma pele branca e refletindo a luz da lua... sua beleza se mesclava com sua selvageria e a presença assassina que emanavam dela como ondas que se chocam as pedras da praia. O velho, gemia de dor enquanto observava atônito a figura diante de si. Seus pés não tocavam o chão, suas vestes negras se movimentavam como se tivessem vida própria, seu olhar era extremamente penetrante e aterrador e escorria um filete de sangue de sua boca.


- Tu achas realmente que poderias me derrotar com tal pericia? A mim? Uma sobrevivente de eras? Uma filha de reis e desafiadora do próprio destino? --- sua voz soava como um trovão.


- És um ser maligno! Um demônio! Uma besta selva...


Subitamente o homem se encontrava contra a arvore a qual fora arremessado, sufocando enquanto uma mão gélida o mantinha a dois palmos do chão, seguro apenas por dois dedos...


- Tão fácil de abater, como o gado que crias com tanta paixão em sua vida miserável e sem sentido. A ti recairá a morte e a velhice e a inaptidão de realizar grandes feitos. Mas a meu filho surgirá um mundo de possibilidades, regido pela imortalidade e pelo poder. Tu não o arrastará para a morte... - ela subitamente para de falar, pois o velho se aproveita de sua ira e lhe crava a estaca ainda firme em sua mão em seu peito.


A dor era visível, porem ela não soltara a garganta do velho enquanto removia a estaca revelando um enorme buraco debaixo de seu seio.


- Velho teimoso, já lhe disse que não podes me matar...  - o buraco lentamente se fechava enquanto o velho sufocava agonizante entre os dedos da mulher – O que me tornei agora é além da sua vã compreensão. Mas não penses que aliviarei tua existência tão facilmente. Sofrerás por ter atentado contra a única coisa que me mais é querida neste mundo!


A mulher estica um dedo e o pressiona contra a costela do homem. Não leva mais do que  alguns segundos para que no meio dos gritos agonizantes se ouça o estalido de seus ossos se partindo. Ela repete o processo algumas vezes enquanto seus olhos se reviram de prazer. O velho já não possui mais forças para gritar, e sua consciência vai se esvaindo aos poucos enquanto um filete de baba escorre pelo seu peito.


- Arrancarei teu coração! – ela bradou enquanto preparava-se para desferir um golpe contra o peito do homem em agonia.


- Pare! – gritou uma voz juvenil.


Ela congelou, largando o homem inconsciente e se virando abruptamente para a fonte do grito. O jovem até então inerte no chão estava de pé, ao lado da fogueira. Tinha uma expressão aterrorizada no rosto, os punhos cerrados e olhava fixamente a figura do velho, agora agonizante sobre o chão.


- Meu filho, estou aqui para protege-lo! Este homem atentou contra sua vida. Cuidarei para que ele jamais tenha outra oportunidade.


- Me abrace... mãe. Estou com medo. – ele disse rapidamente.


Em um instante ela se encontrava em sua frente. O erguendo com facilidade pela cintura ela o envolve em seu gélido abraço e os dois ali ficam entrelaçados por um momento.


- Não há o que temer meu amado. Só necessitamos de saciar nossa sede e seremos invencíveis, lado a lado em um eterno amor.


Ele rapidamente formulou uma ideia. “Absurda, porém em tal situação, o que não era?” pensou.


- Me perdoe. Mas eu não pertencerei às trevas. E nem você! – ele sussurrou ao ouvido dela, e dito isso lhe cravou as presas sobre seu pescoço.


Os dois iniciaram um violento confronto, no qual ele se agarrando com todas as forças a seu corpo, removia todo o sangue através de goladas diretas em sua veia. Ela por sua vez tentava aos berros se desvencilhar de seu abraço mortal.


O jovem rasgara as vestes da mulher banhadas de sangue, tentando se manter agarrado ao seu pescoço. Por fim sem ter aonde se agarrar, cravara seus dedos em suas costas, lhe fazendo profundas feridas enquanto o sangue lhe jorrava por seus seios descobertos, tingindo-os de vermelho.


Seus movimentos foram ficando mais lentos até que por fim, sem forças, a mulher desaba sobre a fogueira, completamente esvaída e um olhar vidrado a encarar as estrelas, enquanto as chamas lhe consumiam o corpo.


O jovem corria agora em direção ao velho, porem apenas para constatar seu temor. Ele já não vivia. Porém exibia um sorriso no rosto.


A criança desaba sobre seu peito em prantos. Não lhe caiam lagrimas dos olhos, apesar do sofrimento intenso, seu corpo se recusava agora a demonstrar isso. Ele observava o corpo em chamas se transformar sobrenaturalmente em cinzas, com a cabeça encostada no peito do velho e uma certeza se fixava em sua mente.


Perdera tudo. Sua vila, seus amigos, agora sua família havia se ido de forma violenta e levando consigo sua humanidade. Mas deixando em si uma ira e um desejo de vingança que superariam qualquer instinto demoníaco que pairassem sobre si. Não se renderia as trevas. Jurava sobre o cadáver de seu pai e pela honra de seus ancestrais! Se tornaria um vigilante enquanto lhe coubesse existência nesse mundo.


- Eu juro. – e dizendo isso fechava os olhos do corpo sorridente que jazia à sua frente. Estaria sorrindo pra ele? Seria sua benção para o que viria a seguir? Só o destino irá responder. 



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Autor(a): kimimaro

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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