Fanfics Brasil - A Marcha O Sacerdote do Alvorecer

Fanfic: O Sacerdote do Alvorecer | Tema: Vampiros


Capítulo: A Marcha

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BIELORÚSSIA, província de Homyel, cidade de Mazyr. Os ventos sopram lentamente por sobre a planície, despejando folhas secas por sobre a estrada. Um carro negro e luxuoso vem seguindo por ela lentamente rumo ao casarão isolado ao fim dela. Haviam muitas luzes acesas em seu interior, boa parte proveniente de velas pois sombras dançantes se projetavam às janelas. Homens trajando ternos e mulheres usando vestes negras se aglomeravam à saída da casa. Um ar moribundo e pesado se lançava a noite. Ele sentia isso.


         - Richard deixe o motor ligado. Não pretendo me demorar muito.


         - Sim senhor.


         A limusine parara à alguns metros do casarão atrás de uma fileira de outros carros igualmente suntuosos à frente do jardim, outrora escultural e simétrico, porém atualmente completamente abandonado a seu crescer natural e desenfreado.  


         O motorista rapidamente desce do veiculo e contorna o carro para abrir a porta traseira. Um último suspiro vindo da figura imersa em sombras dentro do veiculo, tentando se  desvencilhar de uma torrente de pensamentos e memorias de eras... Lentamente ele sai do veiculo, murmurando algumas palavras de o faze-lo. Algo ocorre e um velho de porte físico elevado, ushanka e barbas cheias se projeta do veiculo para o luar do jardim. O motorista tenta não demonstrar nenhum espanto. Já o vira fazer isso várias vezes. Mesmo assim era fascinante.


         - Ligue para Yasa e confirme nosso encontro. – disse o velho com voz rascante que nada se assemelhava a voz suave e gélida que usara anteriormente ao se dirigir ao empregado – Já retorno.


         - Sim senhor.


         O velho se dirige ao casarão segurando firmemente uma caixa talhada em madeira em suas mãos. Seu casaco de pele de urso só fazia sua silhueta parecer mais imponente e rústica.


         Ao se aproximar da entrada atraindo vários olhares, uma mulher se sobressai da multidão e o abraça. Usava um longo vestido negro e um casaco de peles mistas cor bege por cima. Seus cabelos loiros presos em um coque e linhas temporais disfarçadas em sua face com muita maquiagem porém seus olhos lacrimejantes arruinavam todo o trabalho.


         - Olá minha menina – disse o velho em russo.


         - Obrigada por vir – ela respondeu igualmente em russo, em meio aos soluços. – Você como sempre gelado... ande, suba. Sua visita é a única que ele verdadeiramente aguarda.


         O velho adentra o salão principal e se dirige as escadas lentamente. Cada passo parece mais pesado que o outro. Incontáveis vezes isso ocorrera. O quão mais poderia suportar? A imortalidade pode ser mais mortal do que qualquer demônio, bruxa ou anjo que exista. A cada século leva um pedaço de sua alma. Uma tortura sem fim.


         O quarto se encontra de frente para a escadaria. Muitas velas acesas em seu interior, e uma movimentação de empregados carregando panos umedecidos, bacias e travessas. Uma enorme cama de madeira com detalhes em metal se encontra no meio dele. E sobre ela um velho a tossir, trajando pijamas claros e com um fino lençol por cima. Suava e tinha um semblante desgastado.


         Ao chegar a porta porém ele nota sua presença, abrindo os olhos e erguendo a mão diz em voz igualmente rascante:


         - Saiam todos. Deixem – nos!


         Imediatamente todos os empregados deixam o quarto, a ultima fechando a porta ao sair.


         - Devo estar realmente um lixo – disse o velho moribundo – Não vejo essa expressão em seu rosto desde Kursk.


         - Acredite já o vi pior.


         Os dois se abraçam e o velho moribundo gargalha. Histórias de guerra são contadas e relembradas. Em meio as terríveis tosses e faltas de ar, um ar juvenil se apodera do moribundo.


         - Eu era apenas um garoto e você me salvou. Tudo o que eu construí, a família que tive, o sonho pelo qual lutamos... devo tudo a você.


         - Não Mikhail, tudo você deve a si mesmo e sua inabalável coragem. Eu meramente cumpri meu papel.


         - Ainda fala como se fosse o guardião da humanidade. Você atrai um fardo grande demais para si. Mesmo sendo o que é não há porque se punir.


         - Eu tenho muito pelo que me punir meu amigo.


         O velho se ergue na cama e se recosta sobre a cabeceira.


         - Deixe me vê-lo uma ultima vez. Como quando nos alistamos e marchamos juntos.         


         - Mikhail...


         - DEIXE ME LEMBRAR DE MEUS DIAS! – bradou.


         Ele silenciou por um momento. Então após murmurar algumas palavras sua forma original toma lugar. Um jovem de cabelos castanhos longos escorridos até os ombros, olhos amarelados injetados, a pele branca como a lua, medindo pouco mais de um metro e setenta de altura, usando um blazer negro, por cima de roupas sociais igualmente negras.


         O velho o contempla com alegria e em seu entusiasmo faz uma saudação militar. O jovem ergue a caixa de madeira entalhada que trazia consigo. Ao abri-la o velho retira uma flor roxa que parecia ter acabado de ser arrancada.


         - Como?! – o velho encarava a flor atônito enquanto lagrimas lhe escorriam pelo rosto.


         - Além de mim certas coisas podem durar para sempre meu velho amigo. Como o amor que existiu entre vocês dois. Lamento profundamente não poder salvá-la.


         - Não foi sua culpa... – o velho estancara levando as mãos ao peito.


         Em um instante o jovem estava ao seu lado. O observava angustiado sabendo o que viria a seguir. Já vira isso tantas vezes.


         O velho moribundo  coloca uma mão sobre o peito do jovem:


         - Marchamos juntos, lutamos juntos... meu sonho vive em você e.. você vive pra sempre ... – ele sorri – Você é um anjo meu amigo. Não... desista.. camarada...


         A gelidez que lhe era tão familiar se apodera do corpo em seus braços lentamente. Ele observa com a alma terrivelmente torturada a vida de seu amigo se esvair bem a sua frente.


         - Não desistirei... camarada. – lagrimas de sangue lhe escorriam pelo rosto. Pelo visto nem seu corpo demoníaco conseguira superar os sentimentos expressos por sua alma. Talvez houvesse esperança para si próprio afinal...


         Enxugando o rosto e observando o corpo a sua frente ele sentira uma presença poderosa invadir o recinto:


         - Lamento pela sua perda.  – disse uma voz suave.


         Nua, enormes asas saindo pelas costas como as de um falcão, uma aura prateada emanando de si, um olhar negro e penetrante e cabelos negros lisos e brilhantes escorridos pelo corpo escultural. Flutuava à frente do jovem.


         - Lamenta nada! Vocês não possuem sentimentos. Estatuas falantes com prazer sádico em observar a destruição. – disse bruscamente lançando para a mulher um olhar penetrante e ameaçador.


         - Lamento que nos enxergue assim.  Minha missão é aliviar o sofrimento da tua alma para que realize a sua. Seus desejos altruístas ao longo das eras lhe conferiu uma reputação notável Dankan.  Peço que reconsidere nossa oferta...


         - Pro inferno com seus planos e missões!  Meu lugar é aqui até que as fundações da terra não mais existam. Não sei porque insiste nesse absurdo, com tantos seres menos amaldiçoados e mais poderosos do que eu tu insiste em me procurar.


         - Realmentes não sabes o porque? – ela se aproxima dele vagarosamente e lhe passa a mão pelo rosto.


         Os dois se encaram durante algum tempo. Dois olhares penetrantes que provavelmente nenhum mortal suportaria presenciar sem perder a consciência.


         - Me desejas... sinto isso – ela se aproxima dele lhe tocando o corpo com o seu.


         - Sim. De forma a te esvair o sangue... – diz ele se aproximando de seu pescoço.


         Ela se assusta e se afasta. Ele continua:


         - Pensei que o ultimo ocorrido tenha mandado um recado claro. Vejo que isso não ocorreu. Serei o mais direto possível. Fiquem longe do meu caminho.  – disse em tom ameaçador.


         Ela desaparecera assim que terminara a frase. Retomando a forma de um velho novamente e lançando um último olhar ao corpo de seu amigo sobre a cama, ele deixa o quarto.



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Autor(a): kimimaro

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