Fanfic: Aconteceu Você | Tema: Portinon
O início do meu dia não podia ser mais perfeito, nada poderia tirar meu bom humor, disso eu tinha certeza. A reunião de pauta foi tranqüila, descontraída, especialmente pela animação por nossa festinha de logo mais. E quando eu menos esperava, Berta entra na minha sala com uma orquídea dentro de uma caixinha de acrílico.
-- Que coisa linda Berta! De quem é?
-- Sua Any, o entregador acabou de deixar aqui.
Imaginando quem teria me enviado, saltei da cadeira com um enorme sorriso, quase tomando das mãos de Berta o mimo.
-- Tem um cartão aí em baixo preso na caixinha. – Comentou Berta.
Abri ansiosa sob o olhar curioso da experiente secretária.
“Perdoe-me a distração, estou concluindo que até mesmo perna quebrada pega, estou absorvendo seu jeitinho distraído, abaixo o número do meu celular, espero sua ligação, beijo, Dul.”
Praticamente expulsei Berta da minha sala no intuito de ligar imediatamente para Dulce. Estava parecendo uma criança diante de sua primeira bicicleta com aquela orquídea sobre minha mesa. Teclei os números no meu celular nervosa, na expectativa de ouvir a voz de Dulce:
-- Alô?
-- Dul?
-- Any? Então recebeu a minha mensagem...
-- Sua mensagem foi linda, está aqui enfeitando minha mesa, adoro orquídeas.
-- Que bom que gostou. Então, o que você está fazendo?
-- Nesse momento contemplando minha orquídea e você?
-- Teoricamente estou consultando pacientes com os internos, mas os deixei sozinhos no consultório e vim atender seu telefonema, estava ansiosa para ouvir sua voz.
Meu coração só faltou sair pela boca ao ouvir isso, não só acelerou, mas o ar pareceu faltar e nenhuma palavra saía.
-- Any? Você está aí?
-- Sim, estou. Então que horas você vai me pegar? Ou prefere que eu te pegue?
-- Nossa, quanta pegação... Para mim tanto faz, te pegar, ou você me pegar, o importante é que a gente se pegue.
O comentário de Dulce se viesse da boca de qualquer outra pessoa, para mim soaria como canalhice, mas nada do que ela dissesse naquela manhã mudaria em nada meu encantamento por ela. Acabei deixando escapar um riso e disse:
-- Então... A que horas a pegação começa?
-- Minha casa é muito longe, melhor que eu te pegue, pode ser as oito?
-- Está ótimo às oito. Espero você.
-- Beijos até mais tarde.
Desliguei o telefone quase flutuando, girei na cadeira como se quisesse alçar vôo, com um sorriso bobo no rosto, quase patético. Acertei os últimos detalhes da festa com o Cris, que obviamente notou todo meu entusiasmo com a noite.
De repente meu guarda-roupas lotado de roupas ficou pequeno, por que nenhuma roupa era boa o suficiente para mim ou pelo menos para meu momento efusivo e apaixonado. Para aumentar mais ainda o meu dia perfeito, aquelas roupas que há muito tempo não cabia em mim caíram como luvas no meu corpo sem os quilos em excesso que ganhei depois do término do meu noivado. Escolhi um tubinho com um decote discreto, investi no salto agulha, me sentindo a própria Vitoria Beckhan nos tempos de Spice Girl.
Pontualmente Dulce chegou, e perdi o fôlego ao vê-la tamanha era sua beleza. Arrasando numa saia acima do joelho exibindo suas pernas torneadas e alongadas pelo salto, e uma blusa de alças finas por baixo de um bolero delicado. Maquiagem perfeita e os cabelos soltos davam o charme mais que especial com as pontas cacheadas.
-- Uau! Que mulher é essa?
Pensei alto e num momento raro vi Dulce ruborizar.
-- Você está maravilhosa Any... Linda... Vamos?
Balancei a cabeça positivamente e entrei no carro de Dulce, completamente encantada com aquela imagem, e embriagada pelo perfume doce que ela usava naquela noite. Trocamos sorrisos, e me senti a adolescente mais boba quando minha mão estremeceu no momento que Dulce segurou nela, apertando-a e piscando o olho para mim.
Chegamos a casa do Cris, afastada do centro da cidade, por fora não era muito diferente das casas de Nova Esperança, já escutávamos o som de longe, alguma coisa dance, lembrava as baladas que a Renatinha sempre me arrastava.
Dentro da casa, grande parte do pessoal já havia chegado, e a animação não deixava a desejar a nenhuma boate da capital. Cris e Diego nos receberam com um cumprimento nada discreto, um selinho, parece que o clima da festa junto com o álcool liberaram a Isabelita dos Patins que vivia nos meus amigos gays.
Dulce muito a vontade, distribuía sua simpatia entre os convidados, mas não me deixou sozinha um só instante. Eu percebia os cochichos e olhares dos meus novos amigos que estiveram comigo nos outros eventos em Nova Esperança, mas eu não me importei, a companhia de Dulce me tornava mais segura, mais confiante, o suficiente para ficar à vontade também com qualquer tipo de comentário.
Cris caprichou, o bar estava repleto de todo tipo de bebida, contratou um barman que diga-se de passagem mais parecia um go go boy do que um garçom como ele me descreveu, uma mesa rica de frios, e outra com petiscos mais quentes.
Contive todo tempo meu ímpeto de beijar Dulce em público, mas toda sensualidade naquele corpo pelo qual eu estava alucinada não colaborava com meu sacrifício, mesmo com toda bebida que ingeri, minha atenção era para cada gesto, sorriso, olhar e palavra de Dulce, que olhava para mim com o olhar radiante que não passou despercebido pelos amigos mais próximos dela presentes ali.
Fui até o banheiro na esperança que Dulce me seguisse, entretanto, esqueci de avisá-la sobre meu destino. Trancada no banheiro, esperei cinco, dez, quinze minutos e nada de batidas na porta do banheiro. Percebi que meu celular não estava na bolsa, e não havia como me comunicar com Dulce. Desisti frustrada de esperar, ao tentar abrir a porta do banheiro, surpresa desagradável: não abriu! E forçando a maçaneta, acabei com ela na minha mão.
Iniciou-se então minha epopeia na prisão do banheiro, pedi socorro, bati, gritei, mas supus que algo de estranho estava acontecendo, banheiro de festa sempre tem movimento, e há quase meia hora eu estava ali e ninguém bateu na porta. Cansei de tanto gritar por ajuda, olhei para a janela minúscula acima do vaso sanitário e concluí que era minha única saída.
E aí me senti o McGayver, procurando alguma ferramenta que me ajudasse a destravar a janela. Baixei a tampa de plástico do vaso e subi nele, a força que coloquei para abrir a tal janelinha, teve um efeito inesperado, a tampa na qual me apoiava quebrou e afundei meu pé no vaso sanitário. Ficou ainda mais complicado subir até a altura da janela com a tampa quebrada presa no meu tornozelo.
Depois de muitas tentativas, consegui enfim destravar o ferrolho da janela, abri e tomei impulso para passar por ela, calculei mal a largura do espaço, e fiquei presa na altura dos quadris e não conseguia sequer voltar para dentro do banheiro...
Não me restou alternativa que não fosse gritar por socorro, na esperança que alguém saísse da festa para curtir um “escurinho” e me ouvisse, já que a tal janela do banheiro dava acesso à garagem dos fundos da casa. A imagem e a situação eram surreais e dignas de uma comédia pastelão. Sentia o frio e o desconforto da posição, e a demora em aparecer alguém foi aumentando meu desespero.
Finalmente ouvi passos se aproximando e uma voz conhecida, parecia uma conversa ao telefone:
-- Não estou me arriscando, estou vivendo minha vida, acha que não tenho esse direito? Ela não tem nada a ver com isso, não é um perigo, não a envolva, por favor! Tenho que desligar estou procurando-a, ela sumiu e isso já está me preocupando. Mantenho contato.
Era a voz de Dulce, sem dúvida, o teor estranho da conversa me chamou a atenção, mas sinceramente minha alegria ao ouvir uma voz conhecida perto de mim era mais importante do que minhas suposições para a outra pessoa que falava com ela ao telefone. Usei o restante de minhas forças para soltar um berro desesperado:
-- Dulceeeeeeeeeeeeeeee.
Posso imaginar o susto de Dulce ao escutar isso, ouvi os passos apressados e em seguida a cara de espanto dela ao ver metade do meu corpo pendurado e preso naquele pequeno espaço da janela.
-- Anahi que diabos você está fazendo aí? Como você foi parar aí?
Primeiro o choque depois uma crise de risos incontrolável tomou de conta de Dulce, para minha fúria.
-- Escuta aqui Dulce, deixa as explicações para outra hora, estou com frio, com dores, você pode me ajudar a sair daqui, por favor?
Segurando o riso mais atiçado pela minha irritação evidente, Dulce segurou o riso enxugando as lágrimas e anunciou:
-- Claro, desculpe-me... Vou buscar ajuda.
-- Peraí, chamar ajuda? Mais gente vai me ver nessa situação?
-- O que você quer que eu faça? Sou sua salvadora, mas não tenho super poderes...
Em poucos minutos Dulce voltou com o Cris e Diego, que caíram na gargalhada depois de alguns segundos de silêncio e espanto diante da cena.
-- Any como você conseguiu essa façanha? – Perguntou Cristian espantado e contendo o riso.
-- Ah Cristian! Para de fazer perguntas e me tira daqui!
Diego foi se aproximando com uma escada, mas o que eu temia aconteceu, mais gente me achou ali, para minha infelicidade, Artur, o fotógrafo do jornal e Fernanda deram o furo jornalístico, registrando tudo em meio a gargalhadas. Dulce já controlava o riso, pedindo a ajuda dos demais telespectadores para me tirar dali. Diego subiu na escada para analisar como poderia me tirar dali, sem apelar para o corpo de bombeiros.
-- Vai ser mais fácil te empurrar para dentro Any, está preparada?
Encolhi a barriga, respirei fundo e balancei a cabeça, a essa altura, Luiza, Mario, Beto e Leandro já compunham a plateia. Diego me empurrou e finalmente consegui literalmente desentalar da janela, caindo no chão do banheiro com tampa do vaso sanitário ainda enganchada em meu tornozelo.
Em minutos, Cristian e Dulce arrombaram a porta do banheiro, e ainda conseguiram gargalhar me vendo sentada no chão do banheiro com o acessório indesejável na minha perna. Com dificuldades para controlar os risos, Dulce se aproximou de mim, eu obviamente a olhava furiosa, tirou a tampa do vaso quebrada envolta em meu tornozelo, enquanto os demais estavam a porta curiosos acerca do acontecido.
-- Dá pra parar de rir Dulce?
-- Desculpa linda, deixe-me examinar você...
Cristian continuava rindo e perguntando:
-- Como isso aconteceu Any?
-- Vim usar o banheiro, fiquei trancada e como ninguém me ouvia, resolvi tentar sair pela janela...
-- Mas você não viu o aviso que coloquei na porta? Esse banheiro não podia ser usado, está com problema na porta e no encanamento...
-- Percebi que você havia sumido da festa, não me avisou nada, liguei para seu celular diversas vezes... Estava preocupada, andei pela casa sem te encontrar... – Disse Dulce.
-- Se eu estivesse com o celular isso não teria acontecido...
-- Como você consegue se manter em tanta confusão hein? Quanto talento!
O comentário até ingênuo de Dulce me incomodou profundamente, lembrei-me do que ouvi no telefonema misterioso e disse num tom magoado, me levantando do chão.
-- Vai ver que sou um perigo mesmo Dulce e é um risco você estar comigo.
Saí do banheiro apressada, ignorando a cara de interrogação de todos, sem pensar saí da casa do Cris sem ligar para as perguntas e chamados de todos que indagavam aonde eu ia. Não sabia direito como fazer para chegar em casa, mas saí andando pela rua sozinha, com os olhos marejados.
-- Anahi espere, você vai embora assim?
Dulce gritava enquanto andava apressada tentando me alcançar na calçada.
-- Vou embora sim, cansei de servir de palhaça...
-- Anahi espera, está tarde,sua casa é longe daqui, deixa eu te levar...
-- Não Dra. Dulce, não vou mais representar perigo para você. Pelo menos te fiz rir não é?
-- Any que bobagem é essa?
-- … o que eu sou, uma boba desastrada... A boba da corte! Uma idiota que foi parar naquele banheiro na esperança que você entendesse que eu estava saindo para ficar a sós com você. Mas você sequer notou minha ausência não é?
Dulce parou e me olhou séria, enquanto eu deixava correr uma lágrima pelo rosto.
-- Como você pode falar isso Anahi? Eu fiquei meia hora rodando na festa preocupada com seu sumiço, saí da casa justamente para procurar você...
-- Não, mentira! Você saiu para atender o telefonema da morena fatal, que deve ser a sua namorada super sensual! Você é uma mentirosa.
-- O quê? Mas do que você está falando sua maluca?
-- Você sabe muito bem do que estou falando... E a maluca aqui, a boba da corte cansou desse papo, vou para casa. Vá atrás de sua namorada misteriosa e me deixa em paz, cansei de ser motivo de piadas para você.
Autor(a): angelr
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 247
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tryciarg89 Postado em 20/05/2023 - 21:04:11
Simplesmente linda, emocionante, engraçada e apaixonante
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NoExistente Postado em 27/01/2021 - 12:08:36
Fui obrigada a comentar. Senhor, nem sei o que eu digo dessa estória maravilhosa. Tinha acabado de ler uma fic meio decepcionante delas e entrei sem muitas expectativas aqui. Minha surpresa foi apegar a escrita e o jeito dos personagens, me emocionar, rir e sorrir com a narração. Perdi minha vida nos últimos 4 caps, e foi surpreendente como conseguiu transmitir a tristeza e, sinceramente, cheguei a um estado de negação e desespero. Obrigada por essa leitura fantástica.
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angelr Postado em 24/01/2015 - 23:18:06
justin_rbd - *__*
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angelr Postado em 24/01/2015 - 23:17:41
portinonnessa14 - hahaha tadinhas ne
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angelr Postado em 24/01/2015 - 23:17:15
flavianaperroni - Pode deixar que aviso
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angelr Postado em 24/01/2015 - 23:16:45
anymaniecahastalamuerte - Sempre que puder compartilharei
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angelr Postado em 24/01/2015 - 23:13:46
garotaloka - Que bom fico feliz *_*
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justin_rbd Postado em 24/01/2015 - 12:12:52
final mais que perfeito !!
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portinonnessa14 Postado em 24/01/2015 - 02:25:21
Vamos gente todo mundo ler a web da nossa querida Angelr Um doce amor que é ótima
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portinonnessa14 Postado em 24/01/2015 - 02:22:33
Oi Angelr minha querida a que bom que a Dulce está viva agora sim posso respirar aliviada o que posso dizer desse final foi lindo e bem o que eu queria mesmo o mais importante é que as duas ficaram juntas neh afinal sou portinon neh e não aguento ver a minha Anny sofrer mais obrigada beijinhos