Fanfic: Saga Essência | Tema: Vampire Diaries
A QUEDA – Agora.
Os segundos pareciam séculos. As águas do mar batiam violentamente em seu corpo açoitando-o contra as rochas, dilacerando sua pele, desintegrando-o quando sua vida em um último esforço se esvaiu. Ele já não sentia mais. Não respirava mais. Seu corpo sucumbira à consequência da queda e naquela pequena, porém grande dimensão onde se separa os vivos dos mortos, na tênue linha que divida sua razão da emoção, lá estava ele revisitando detalhes de sua existência, seus conflitos e segredos íntimos.
Para Diego Del Toro, a morte tornava-se uma experiência cada vez mais curiosa, pois mais do que ninguém, sabia que aquele era um fado o qual carregaria eternamente. Um oráculo o dissera certa vez, que a morte seria seu destino no momento em que cedesse ao amor.
¾ Amor? – retrucara ele em seu ceticismo habitual – Acredite, sou capaz de muitas coisas, mas... Não de amar. Não há espaço em mim pra isso.
“Tolo!” – dizia-se agora. Perdido naquele nimbo, acessava em sua memória toda a série de eventos que o levara até ali. “Aquela” fatídica noite de negócios. O começo e talvez o fim de tudo.
-
A proposta – 35 anos atrás.
A lua reluzia em seu quarto minguante, quando do alto de um morro o singular trio avistou a histórica Diamantina. O céu estrelado era totalmente contrário a força do vento, que trazia consigo não só o frio mas também toda a gama de sons que permeavam a noite. Pacientes, os irmãos Del Toro contemplavam as singelas luzes da cidade, que aos poucos se apagavam dado ao passar das horas, esperando o momento certo para o salto.
Gosto de cidades históricas... Gosto de pessoas históricas! Tem um ar Boêmio não acham? Concordo. Impressionante nunca termos vindo aqui antes...
Diego ouvia o diálogo mental dos irmãos totalmente alheio. Ele já estivera ali antes.
Santiago, o irmão mais velho, no momento em que colocara o vívido olhar naquela cidade passara a adorar seu clima hospitaleiro, fascinado pela incrível historicidade que estava prestes a desvendar. Já Alejandro, o mais novo, embalado pela mesma vibração que o irmão mais velho, ouvia cada nota dos tímidos sons que brotavam de longe, uma musicalidade magnífica.
Lado a lado, Santiago e Alejandro compartilhavam suas experiências sensoriais em um leve toque de mãos que amplificava a sinestesia.
Enquanto os irmãos dividiam a apreciação, Diego, que era o irmão do meio, mantinha-se a parte, agachado, olhando para o solo, taciturno, alheio ao tempo e ao espaço. A verdade é que não queria estar ali, assim como nos últimos tempos não queria estar em lugar algum, as pessoas e as coisas o entediavam, tudo fazia parte de um ciclo comum. Possuía um notável mau humor, o que o distinguia completamente de seus irmãos, pois ao contrário dos dois, não se considerava um sobrevivente, mas sim um resistente. O trio tinha pontos de vista completamente distintos, entretanto complementares. Tinham seus momentos. Buscavam o equilíbrio enquanto dançavam conforme seus interesses.
¾ Diego. – chamou Santiago – vamos?
O silencio foi a resposta. Santiago e Alejandro entreolharam-se e com sutil aceno de cabeça Santiago indicou que deviam partir. Ambos desapareceram como um raio deixando o outro para trás. Não estavam ali a passeio, tinham um objetivo.
Ao notar a ausência dos irmãos, Diego pegou do solo um punhado de terra e ergueu-se. Quanto tempo hein lugar? Em um gesto quase ritualístico assoprou o punhado. Virou-se na direção oposta a cidade e sem mais delongas desapareceu como a fumaça se desfaz no ar.
Dirigiu-se para o alvo.
Era um casarão de faixada colonial, datado no século XVII ,mas na escuridão pouco se via. Diego reapareceu do mesmo modo no qual desapareceu, dentro do escritório da casa. Como fumaça. No breu, caminhou despreocupadamente até uma grande mesa de mogno e sobre ela pegou um charuto que se ascendeu automaticamente assim que o levou a boca, sentou-se na aconchegante e espaçosa cadeira de couro com design italiano, e colocou os pés sobre a mesa brincando com a fumaça que produzia.
¾ Meu Deus! – exclamou o dono da casa ao notar a sombria presença do estranho no local, com uma winchester calibre 22 em punhos.
¾ Não chego a tanto. – respondeu calmamente em um ronronado, iluminado pelo fogo do charuto. – estou mais para o diabo.
¾ Diego! – assustou-se ao reconhecer a voz de quem se tratava, ficando com a face lívida. Fazia um mês que não se aventurava em sair de dentro de casa temendo ser pego de surpresa. Desconsertado prosseguiu. – não podia esperar meu... meu convite?
¾ Não quando a propriedade é minha, meu caro e ilustre Coronel Moraes. – disse enquanto apreciava o charuto. – as coisas não progrediram como o tratado, não é mesmo?
O homem voltou-se para a porta e a fechou com exagerada cautela, ascendendo às luzes do escritório, iluminando de vez seu visitante. Espantou-se ao notar que Diego não envelhecera um dia se quer. Seus cabelos continuavam ondulados a altura dos ombros e escuros, em sua pele não havia resquícios das rugas da velhice. A barba cerrada e os olhos tão negros quanto a noite, na imponente tez morena, exatamente igual há 27 anos atrás.
¾ Então? – disse Diego retomando o assunto ao perceber a perplexidade do Coronel. – chegou o grande dia. – fitou o coronel no fundo dos olhos. – Está preparado?
¾ Por favor... – murmurou atônito, com os olhos colados aos de Diego, dominado pelo pavor e estremecido ante aquele olhar temível, tropeçando em si mesmo, desequilibrando-se, buscando em sua memória, qualquer que fosse a desculpa que o pudesse levar a saída – antes de tudo, peço que... que... que considere meus esforços – correu até uma estante repleta de livros e puxou um deles – aqui! Analise com atenção!
¾ Hum... e o que o nosso pacto tem haver com seu livro de contabilidade? – perguntou entediado.
¾ Estão aqui todas as dívidas que fiz com que Eduardo Detzel acumulasse nas ultimas décadas – disse eufórico – assim que a velha Aimeé morrer e ele herdar a Fazenda das Almas, tomarei as terras e elas logo serão suas!
O coronel entregou a Diego o livro e se assentou à mesa de frente a ele olhando-o atentamente, tentando captar qualquer mínima expressão na face do outro, sem sucesso algum.
¾ E aí? – interrompeu impaciente depois de longos 5 minutos. - o que acha?
¾ Simplesmente uma pena. – seu olhar era sombrio. – embora as dívidas sejam comprometedoras, nada garante que ele seja o herdeiro das terras em questão.
¾ Mas é natural que ele seja... a velha está quase morta e...
¾ Fim da linha, Coronel. – levantou-se e caminhou até a janela que se abria enquanto ele se aproximava. Seus olhos estavam fixos na lua. – já extrapolei o meu limite de caridade concedendo a você um mês a mais do que o combinado.
¾ Não! Eu imploro! Eu não quero...
Uma ventania invadiu o lugar, revirando todo o cômodo, bagunçando tudo, enquanto Diego permanecia inabalável, tragando pacientemente o charuto olhando para a lua.
¾ Eu não quero... morrer hoje...
¾ É o fim. Simples.
A ventania arremessava os livros das estantes ao chão, as luzes piscavam, um aroma doce e suave pairava no ar. O coronel agachava-se aterrorizado em um canto do cômodo protegendo-se com as mãos sobre a cabeça. Como um vulto, Diego estava a sua frente, Moraes não controlava mais os próprios movimentos, seu corpo erguia-se, terminando por ficar frente a frente à razão de seus medos. Tudo o que via era um monstro talhado em mármore com um olhar felino e os lábios enegrecido em um sorriso perverso que contrastava perfeitamente com o branco de suas presas mortais soltando as palavras em um rugido.
¾ Hora do show!
O desespero manifestado em suor escorria sobre a face do velho. Há 27 anos atrás ele nunca teria acreditado que esse dia chegaria de tanta convicção que tinha em si mesmo para comprar as terras dos Detzel, acreditara que seria como tirar o doce de uma criança, já que dispunha de todo o dinheiro e influencias necessárias, e tão logo as entregasse a Diego, seria rico e poderoso enquanto vivesse juntamente com os seus descendentes, nem se quer tinha levado com a seriedade necessária a clausula que implicava a venda de sua alma caso não cumprisse o tratado. Na ocasião Diego lhes dissera que “nada vem de graça, meu caro! Tudo o que terás acesso é perigoso e demasiado importante... custa uma alma.”. Em um esforço sobre humano balbuciou, enquanto sentia seus ossos sendo esmagados e sua pele queimando.
¾ Você... Disse. Que custava uma. Alma... – Diego estava prestes a cravar as presas nele como um animal, mas parou milímetros de perfurar sua pele. – vou te pagar... Com uma alma... Mas não... Não a minha.
Serrando os olhos, Diego se afastou lentamente do coronel, seus lábios voltando ao tom normal, porém seus olhos conservando a mesma expressão felina.
¾ Hum. – disse em um rugido. – Agora estou curioso. – soltou o coronel no chão, o qual caiu desequilibrado.
¾ Pagarei a minha dívida. – disse se recompondo enquanto Diego voltava à mesa e pegava outro charuto. – Não com a minha alma, mas com a alma do que mais amo. – Diego o analisava enquanto tragava. Soltando a fumaça lentamente, apoiando as mãos sobre a mesa com o olhar passando de curioso, intrigado a perplexo. Para finalmente concluir – meu filho.
Diego bufou, ainda digerindo a proposta. Seus lábios lentamente curvaram-se em um sorriso alucinado, seus olhos perdendo o foco, vagando pelo ambiente por alguns segundos, distante.
¾ Combinamos a sua alma – finalmente disse. – não a de outrem.
¾ Estou te oferecendo a alma de quem mais amo... – foi interrompido pelo som do soco que Diego deu na mesa.
¾ Odeio quando eu fico bonzinho! – disse com um sorriso eufórico.
O coronel não entendia o que estava acontecendo então acompanhou Diego na risada.
¾ Não aceito seu filho. – disse Diego em meio a risadas. – Preço é preço. – o coronel respirava com dificuldades. – mas posso fazer uns remendos. Sua alma já me pertence.
O homem sentia os ombros pesados, esmaecendo em uma das poltronas da casa vencido. Não adiantava lutar. Não mais.
¾ O que posso fazer por você, coronel Moraes é aceitar a alma de seu descendente, assegurando a você uma morte natural. Assegurando que você viva o tempo que você tiver que viver, sem interrupção, sem a minha presença. Mas a sua alma continua sendo minha, entende?
¾ Sim. – respondeu quase sem emitir som.
¾ Pronto?
¾ Sim.
¾ Quer ir agora, ou vai vender o filho?
¾ Vendo meu filho – disse por entre os dentes, ardendo em ódio.
¾ Então... – Um pergaminho se materializou nas mãos de Diego, que em seguida o abriu. O documento era enorme. – é só assinar.
Os olhos do coronel fuzilavam o documento. Sem tirar os olhos do papel, foi até a uma mesinha de canto que ficava próxima à janela, e de dentro da gaveta pegou uma navalha e fez um pequeno corte na mão, revelando em segundos a púrpura de seu sangue que corria em uma linha fina. Posicionou sobre o pergaminho aberto que exibia letras douradas e deixou o sangue pingar sobre ele. As gotas pouco a pouco se desfaziam transformando-se na caligrafia de sua assinatura. Diego apenas observava com o olhar vago a cena.
“Um rapaz dormindo em um pequeno e humilde quarto;
Uma áurea dourada feita com ondas sonoras o envolvendo;
Uma mulher fazendo preces no que parecia ser um quarto;
Uma moça dentro de um carro em uma auto estrada.”
Diego recuperou o foco em poucos segundos ainda com uma expressão enigmática.
¾ Feito. – disse o coronel.
¾ Feito. – concordou Diego, recolhendo o pergaminho. Em silencio dirigiu-se a janela, com os olhos fixos na lua e completou. – aproveite o que resta de sua vida coronel. Cedo ou tarde voltarei.
Os olhos do coronel ficaram vitrificados quando Diego desapareceu como uma negra fumaça.
O sol ainda não tinha nascido, e Diego aguardava o ocaso sentado em um banco da praça principal da cidade. Havia um bloquinho de papel em suas mãos juntamente com um lápis.
¾ Fazendo um esboço do seu próximo quadro, irmão? – perguntou Santiago, em uma tonalidade brejeira. Aparecendo atrás de Diego. Apoiando-se na parte superior do banco, observando o desenho por cima do ombro direito do irmão.
¾ Estou entediado.
¾ Não fez a colheita?
¾ Não bebo o sangue de covardes.
Santiago deu a volta no banco e se sentou ao lado do irmão tomando o bloquinho e também o lápis tocando levemente os dedos de Diego.
¾ Não podemos tocar nele. – disse Santiago, absorvendo de relance os pensamentos de Diego.
¾ Eu sei.
Um rapaz de aproximadamente vinte anos andava apressado pela rua paralela a praça, tropeçando em um dos paralelepípedos. Era alto, desengonçado, cabelos escuros e pele clara, vestido de forma bastante humilde, cantarolava algo indecifrável quando parou defronte a um casarão antigo. Ele tinha a total atenção dos Del Toro.
¾ Isso não será problema. – continuou Diego com o olhar fixo no rapaz. – salvo por ser bastardo.
¾ Ele tem uma boa mãe. – concordou Santiago também com o olhar fixo no rapaz. – rapaz de sorte!
Uma moça saia pela porta da casa, sendo amparada com todo o cuidado pelo rapaz que os Del Toro observavam. Seus cabelos eram vermelhos, pele quase transparente, vestindo uma saia comprida caqui com uma blusa gola cacharréu preta. O casal se encarava em silencio.
¾ Como são previsíveis. – bufou Diego em uma expressão de nojo.
¾ Não vejo problema no que é previsível. São perfeitos um para o outro, daqui a alguns minutos ele dará a ela o seu primeiro de muitos beijos, e no máximo em um ano a pedirá em casamento, terão filhos, viverão momentos bons e ruins lado a lado, serão felizes, viverão plenamente, e morrerão com a certeza de terem vivido.
¾ Discordo.
¾ Você é um cético!
¾ E você um crédulo. No mais, ela não está tão apaixonada por ele assim. A pulsação não está tão acelerada quanto deveria. Ela só está agradecida por não ter que ir buscar a ceia sozinha.
¾ Ela está preparada para o que vai acontecer... – o rapaz se curvava lentamente e desajeitado, segurando o rosto da moça com um cuidado exagerado. Santiago farejava o medo e a incerteza do rapaz, vibrando a cada milímetro em que se aproximavam. – vai campeão! – Até seus lábios culminarem em um tímido beijo.
¾ Você é um romântico incurável. – disse Diego com certa rispidez. – com certeza ela esperava algo mais.
“ela quer algo mais.”
Para uma maior experiência.. sagaessencia.com.br
Autor(a): vanessa_dantas
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
1.Segundachance - SE PREPARE! Minha vingança será maligna! A frase proferida por Olívia ao telefone duas horas atrás tilintavam na mente de Benício como sinos infernais que traziam o presságio da morte. Estava perturbado e inquieto. Com seus anos de estudos sobre a mente humana, Olívia ain ...
Próximo Capítulo