Fanfic: Saga Essência | Tema: Vampire Diaries
Henri estava exausto. A bombástica mistura de cafeína com pó de guaraná não estavam conseguindo mantê-lo atento a sua enorme pilha de processos. A madrugada prometia ser longa.
O pequeno escritório de advocacia era localizado em um prédio modesto numa cidade próxima a capital brasileira. No alto de seus 29 anos de idade, Henri ainda não era considerado um advogado muito talentoso, porém se esforçava ao máximo para cumprir suas obrigações trabalhistas. Intimamente arrependia-se por ter cursado Direito, sentia que suas habilidades seriam melhores aproveitadas se tivesse sido jornalista, era um alcoviteiro nato, nada escapava a sua observação e muito menos ponta de sua língua. Não parecia em nada, um advogado. Adorava suas calças surradas, que se sintonizava perfeitamente com seu estilo surfista, sempre despenteado e exibindo uma camiseta de rock.
Levantou-se da mesa, alongou-se, tomou mais uma dose de café, acendeu um cigarro e decidiu descansar um pouco verificando os status de suas redes sociais. Seus olhos passavam rapidamente pela página quando algo o chamou a atenção.
- Meu pai eterno! – murmurou com um surpreso sorriso de satisfação.
Sem nem lembrar que já passavam das três da manhã, pegou o telefone e discou avidamente para o primo.
- Atende Benicio! Vamos lá, atende cara!
O telefone chamou repetidas vezes, mas ninguém atendia. A curiosidade de Henri era tamanha, que foi incapaz de resistir a fazer outra ligação, só que não mais para seu primo Benicio, mas sim para outro grande amigo de ambos. Thiago.
Henri o conhecera na época em que morara em Londres, compartilharam um apartamento juntamente com outros dois rapazes por poucos meses, tendo Thiago voltado antes para o Brasil. Foi uma surpresa e tanta saber que Thiago não só estudava com Benício, mas que eram também amigos.
- Tá acordado cara?
- Não, estou dormindo, animal! – respondeu Thiago do outro lado da linha.
- Abre a porra do seu computador agora e dá uma olhadinha no face!
- E se eu não quiser?
- Vai se fuder! Abre logo essa porra!
Havia uma chamada em espera.
- Vou atender outra ligação aqui, daqui a alguns minutos te ligo. Vê se não dorme!
Henri ouviu uma resposta bastante indecente do amigo, antes de atender a outra chamada. Era Elizabeth, sua tia.
- Tia! Posso saber o que a senhora faz acordada até essas horas?
- Henri, essa não é hora para brincadeiras! – disse Elizabeth com a voz trêmula. – você precisa ir atrás do seu primo, ele não está bem!
- Ele vai ficar legal, foi só um fora!
- Não Henri, não foi só um fora, é caso de vida ou morte! Vá pra casa do Beni agora e o ajude!
- Mas tia! Ele deve estar dando saltos de felicidade!
- Ele está morrendo! – a voz soava histérica – Ou você quer que o luto idiota que a Olívia postou “in memoriam” ao seu primo se torne real?
- Você quem manda.
Desligou o telefone um pouco irritado. Como algo como aquilo poderia abalar seu idolatrado primo? A não ser que ele tivesse ido comemorar nas boates menos ortodoxas da face da terra ele estaria bem. Benício a seu ver era um cara limpo, completamente sem vícios e detentor de um autocontrole assustador. Ignorou a ordem da tia. De manhã cedo ligaria para o primo e com certeza o enfiaria em uma boa festa pra tirar o atraso.
Elizabeth estava tendo uma noite de tormentas, anos de sua vida escorriam pelos seus dedos sem nada poder fazer. Se ao menos tivesse a chance, mudaria essa situação. Estava claro que Henri havia contrariado suas ordens. Agora nenhuma ordem celestial, infernal ou cósmica faria diferença. Sua força se esvaía e com ela sua aparência.
De fronte ao espelho de seu quarto em Copacabana, sua nudez antes tão bela revelava traços da idade iminente. Em um piscar de olhos, parecia dez anos mais velha. Foi tomada por um acesso de tosse e um cansaço, sentindo sua pressão cada vez mais baixa. Agora podia ver claramente fios brancos mesclados em seu emaranhado de madeixas vermelhas. Rugas que lutara a vida inteira para não criar apareciam no canto de seus olhos verdes-musgo e envolta de seus lábios. Se pudesse, naquele instante arrancaria a cabeça de Henri, por tê-la ignorado.
Exaustivamente ligou para os telefones dos sobrinhos, sem resposta alguma, ao fim desfaleceu.
Na manhã seguinte, Henri foi acordado pelo insistente barulho do telefone. Sem muito animo atendeu.
- Alô.
- Onde vai ser a farra? – perguntava Thiago entusiasmado.
- Acho pode ser no Black’s Pub! – contagiou-se.
- Tem que ser uma festa de arromba, algo tipo muito “sexo, drogas e rock’n’roll”!
- Pode deixar comigo! Vou ligar agora pros meus contatos, divulgar a festa nas redes, chamar uns fotógrafos amigos meus, essa tem que ser a festa do ano!
- Claro! Afinal, não é todo dia que nosso brother se livra de um encosto como a Olívia!
- Sim, sim, mas as “primas” fica por tua conta!
- Com toda certeza! Conheço as melhores! Já falou com o Beni?
- Ainda não, é uma parada surpresa!
- Que dia vai ser?
- Sábado. Acha muito em cima?
- Não, não. Três dias está ótimo pra organizar. Essa vai ser a festa das nossas vidas!
Ao finalizar a chamada, Henri estava completamente desperto. Preparou uma boa xícara de café, ascendeu um cigarro, leu as principais notícias na internet, checou o andamento dos seus processos, arrumou-se e dirigiu-se a casa de Benício. No meio de seu trajeto, parou o carro no acostamento incomodado com o celular que vibrava indecoroso.
- Pronto! – disse indelicado. Pois o número era desconhecido.
- Bom dia, o senhor é parente da senhora Elizabeth Detzel? – disse uma voz feminina.
- Sim, é minha tia.
- Aqui é do hospital...
As palavras da mulher o paralisaram por completo. Ouvia atônito o diagnóstico da tia, não pensou em mais nada a não ser pegar o primeiro voo para o Rio de Janeiro e encontrá-la.
Nunca em toda a sua vida havia visto Elizabeth em tão mau estado. Parecia que não a via há décadas. Ela estava com o semblante diferente, sem seu entusiasmo latente, sem sua vivacidade. Respirava com a ajuda de aparelhos, “tão frágil!” pensou para logo após sentir o peso da consciência o condenando por não ter feito o que ela houvera lhe pedido.
Sentou-se ao lado do leito da tia, e segurou as mãos que tantas vezes o cuidara. Não tinha coragem de encará-la.
- Quero que olhe nos meus olhos garoto. – disse ela sôfrega.
- Titia, eu...
- Você me desobedeceu. – ela estava desapontada.
- Mas titia, nada aconteceu com ele! Merda, Merda, Merda!
- Você já conseguiu falar com ele?
- Ainda não... eu... – se atrapalhava com as palavras.
- Cuide do seu primo, da mesma forma na qual ele sempre cuida de você.
- Tia? Tia! – Elizabeth adormeceu logo após concluir a frase.
Desesperado batia a testa contra parede, até finalmente ser tranquilizado por um dos médicos que cuidavam de Liz. Tirou o celular do bolso e ligou para o primo e mais uma vez ninguém atendia, apenas aumentando a sensação de culpa que nutria.
- Thiago, preciso de um favor seu. – disse ao amigo que ouvia do outro lado da linha. – preciso que vá na casa do Beni checar se ele está bem.
- Uai cara? Aconteceu alguma coisa, sua voz está estranha!
- Estou atravessando um momento delicado agora, e não posso ir à casa do Beni pessoalmente, você poderia cumprir essa missão por mim?
- Sim, claro!
- Valeu.
Naquela hora do dia, Benício não estaria em nenhum outro lugar senão em seu consultório, logo, era preferível e mais cômodo ir ao consultório e não a casa. Foram esses fatores que influenciaram na decisão de Thiago. Surpreendeu-se quando a recepcionista lhe disse que o doutor Speltri, ainda não tinha aparecido e que por isso estavam todos loucos. Como se já não estivessem antes! Mas que porra!
- Já tentei entrar em contato com ele, - dizia a secretária – mas nada. Temo que algo tenha acontecido, ele é sempre pontual.
Thiago respirou fundo. Tinha muita coisa errada nessa história, Beni nunca foi de sumir e Elizabeth era a resposta. Vamos lá, Liz! Mentalizava enquanto discava repetidas vezes para o número de Elizabeth. Maldito sinal da...! Dirigiu-se ao banheiro do hospital, fechou minunciosamente a porta. Parou defronte ao espelho passando a mão no vidro como se estivesse limpando, enquanto uma imagem aparecia embaçada, focalizando-se lentamente. Uma mulher por volta dos sessenta, elegante em uma moldura de cabelos vermelhos, com um aspecto austero, porém cansado, se revelava no espelho.
- Estava aguardando seu contato. – disse ela em um tom frio, mas ainda fraco.
- Não consigo achar o Benício. – responde desanimado.
- Sinceramente, não sei o que faço com você! – demonstrando profunda irritação. – vi um sétimo das minhas forças se esvaírem, por confiar em você! Sabe o que isso significa?
- Então ele morreu? – perguntou complacente.
- Morreu.
- Como você está se sentindo?
Ela fechou os olhos em uma expressão angustiada, olhando depois para o que parecia ser o chão, enquanto um fio de lágrima deslizava sobre sua pele e concluiu com a voz embargada.
- Me sinto cansada.
A imagem no espelho se desfez. Thiago sentia-se dilacerado. Saiu do hospital apressado, chegando à casa de Benício. Sem que fosse visto atravessou a porta, vasculhando minunciosamente com o olhar cada centímetro cúbico do ambiente. Onde você poderia se esconder meu irmão! Seus olhos se iluminaram ao pescar algo quase esquecido em sua mente.
- Por que vamos nos esconder aqui? – perguntou a Diego.
- Por que não há esconderijo melhor do que o óbvio. Todos vão nos procurar nos lugares mais obscuros enquanto dormimos tranquilos sob luz da inteligência, e te garanto que a luz é bastante confortável.
Confortável! - Diego dormiria com Elizabeth, mas com ela, ele não está caso contrário não teria morrido... Merda!
Uma irritação permeava seu ser. A ideia de Benício estar em um dos poucos lugares em que não poderia ter acesso o deixava louco. Em um piscar de olhos analisava a casa de Elizabeth pelo lado de fora. Sacou o celular do bolso e aguardava enquanto a chamada chegava ao destino.
- Encontrei.
- Onde? – perguntou Elizabeth.
- No seu templo. – respondeu irritado.
- Chegarei hoje mesmo.
Autor(a): vanessa_dantas
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).