Christopher PDV
Entrei no banheiro masculino com o cabelo e o uniforme sujos de ovo. Tentei tirar o excesso de sujeira com papel, mas não adiantou nem um pouco. Lavei bem o rosto e depois encarei meu reflexo. Não pisquei os olhos na esperança de acordar daquele pesadelo.
Só soube o que Candy fez depois que cheguei ao Democracy. Foi um imenso choque encontrar uma multidão protestando no estacionamento. Quando colocaram os olhos em mim canalizaram toda a revolta em forma de vaias e xingamentos. Foi perturbador ter centenas de pessoas me ameaçando, me senti totalmente acuado.
Encostei a testa no mármore da pia com vontade de vomitar. Meu corpo estava reagindo à vergonha... E eram muitas vergonhas. Todos assistiram ao vídeo onde eu desrespeitava os alunos e depois transava com Candy na sala do diretor. Não sabia o que fazer, não entendia por que aquilo estava acontecendo comigo. Era como se tivessem me jogado no centro de um tornado e eu girasse rápido demais...
A analogia juntamente com o mau cheiro finalmente me fez vomitar. Joguei mais um pouco de água no rosto e ouvi um gemido abafado. Estava ficando louco ou conhecia aquele gemido? Era inconfundível!
Corri para o último cubículo, pois era ali que os Falcons transavam com as garotas fáceis. Ao ver que estava fechado me curvei e avistei os pés do casal. Coloquei as mãos na porta e minha respiração falhou.
- Tânia? - Indaguei sem vontade.
Depois que fui enganado por Candy, finalmente tomei consciência de que ela era capaz de tudo, então, para não correr o risco de Tânia saber sobre meu deslize pela boca da maldita, eu mesmo contei. Ficamos a madrugada trancados no carro brigando, na verdade Tânia brigou e eu fiquei apenas escutando, pois não havia argumentos a meu favor.
- Eu sei que está aí. - Me afastei com a nítida impressão de que tinham agulhas perfurando meu peito.
- Que bom que sabe. - Abriu a porta com a face fechada em rancor.
- O que está fazendo? - Era difícil demais perguntar.
- Estou pagando na mesma moeda. - Respondeu com os olhos marejados.
Balancei a cabeça tentando falar, mas não consegui. Eu sabia que merecia, só que a dor da traição anula a lógica.
- Você nos humilhou, Christopher! - Começou a gritar soluçando. - Jogou tudo que construímos no lixo por causa de uma vagabunda. Tanto que fiz por você, tanto que...
- Do que está falando? Tanto que fez por mim? - Ri sem humor. - Você não era absolutamente ninguém quando te conheci. Não era por minha causa que bancava a “santinha” do colégio. Fazia tudo isso para ser respeitada e admirada. Então, por favor, não me venha com esse papo.
- Está brincando? - Se revoltou. - Denunciei o Mike para você ser o melhor Falcon. Fiz isso pelo seu futuro, seu cretino ingrato!
- O quê? - Deixou-me ainda mais perplexo. - Foi você?
- Quem mais teria coragem? - Fitou-me com ódio.
Decidido a não me deixar distrair por aquilo, puxei Tânia pelo braço desbloqueando a passagem e invadi o cubículo a fim de acabar com a raça do covarde escondido ali. No entanto, quando coloquei os olhos no individuo, um nó se formou em minha garganta.
- Foi mal, cara. - Alfonso murmurou.
Preferia que Tânia tivesse transado com o time inteiro, mas não com Alfonso. Éramos amigos desde que me entendia por gente. O cara era a única pessoa no mundo em que eu confiava... e a única que não tinha motivos pra me trair.
- Por quê? - Se havia algo sólido dentro de mim, começara a rachar naquele instante.
- Achei que estava tudo bem já que... fez o mesmo com a novata. - Pigarreou fechando a calça. - Não vamos deixar isso afetar nossa amizade, certo? São só garotas!
- Nunca transou comigo, mas transou com ele? - Encarei Tânia.
- Não vou carregar o apelido de corna. - Cruzou os braços. - Prefiro ser chamada de qualquer outra coisa, menos de corna.
Tânia estava mais preocupada em salvar o que restou de sua reputação do que com o nosso relacionamento.
Precisei sair do banheiro para não sufocar. Sem rumo, não sabia que direção tomar, então caminhei pelo corredor principal. De repente, ouvi meu nome ser chamado pelos alto-falantes. Imediatamente fechei os olhos, sentindo que toda uma vida de dedicação fora arruinada pela exploração do meu pior erro.
- Christopher, espera! - Alfonso me alcançou e ousou colocar-se diante de mim. - Cara, não vale a pena ficar bolado por isso. Não estou tentando roubar sua namorada, foi só sexo.
Uma cortina vermelha fechou-se sobre minha visão esmigalhando o resto de dignidade que ainda me restava. Em um ímpeto, empurrei Alfonso contra os armários e avancei sobre ele esmurrando o seu rosto. Como eu esperava, ele reagiu. Colocou a mão no meu pescoço e me forçou a recuar.
- Não precisava ser assim, Ucker! - Socou meu estômago.
Afastei-me curvado e sem equilibro, porém aquilo só intensificou o ódio que me consumia em chamas violentas. Assim que recuperei o ar, novamente avancei sobre o traidor o derrubando da única forma possível. Joguei todo o peso do meu corpo sobre o de Alfonso e ambos fomos ao chão. À essa altura, nossa briga já tinha atraído os poucos alunos no colégio, os quais usaram os celulares para registrarem a briga, interessados nas causas que nos levaram a ela.
Alfonso era bem maior que eu, mas isso não reprimiu a vontade insana de matá-lo. Eu sabia que ia apanhar, mas queria deixar a marca do meu punho na cara dele.
Agora começa o sofrimento do nosso querido Christopher haha