Christopher PDV
O Sr. Weber tagarelava alto, me repreendendo por causa de minha conduta inapropriada. Fingi ouvir, mas minha cabeça estava tão cheia que sua voz soava como um zumbido distante.
Respirei com dificuldade mais uma vez e limpei o sangue que escorria da minha boca. Brigar com Alfonso foi burrice, pois apanhei mais do que bati. Minha mente estava tão embaralhada que não consegui raciocinar rápido o suficiente para me defender da maioria dos golpes.
Não sei quem ouviu nossa discussão, mas parecia que todo o colégio já sabia que Tânia tinha transado com o meu melhor amigo. Os escândalos pesavam sobre meus ombros e me sentia caindo de joelhos. Minha ex-namorada ficou sentada ao meu lado e seu choro não me deixava esquecer o quão canalha fui ao lhe trair, porém ela tinha feito o mesmo comigo e isso amenizava meu remorso.
Por estar na sala do diretor, Alfonso finalmente calou a boca, mas até sua respiração me irritava. Nunca mais ai suportar olhar na cara dele. Sua falta de lealdade não tinha desculpa.
Quando achei que meu tormento não podia ser maior, a porta da sala foi aberta e o perfume da desgraçada empesteou o ambiente. De cabeça baixa, tive que reprimir a vontade de matar Candy.
- Moça, sente-se! - O diretor ordenou e me forcei a prestar atenção na conversa.
- Como queira. - A garota sentou-se ao meu lado tripudiando sobre mim.
- Quem colocou isso aqui? - Virou o monitor na direção dela. Ele tinha me feito a mesma pergunta e obviamente acusei Candy.
A cretina deu uma boa olhada no site e com desdém, respondeu:
- Meu chapa, não faço a menor ideia.
Como ela pode ser tão descarada? Filha da mãe!
Involuntariamente passei as mãos pelos cabelos quase os arrancando. A vontade de estrangular Candy estava me levando às raias da loucura.
- Essa maluca está mentido! - Gritei perdendo o controle novamente.
- E por que estaria? - Revidou.
- Você armou tudo! Armou pra cima de mim, sua maníaca!
Candy gargalhou.
- Amigo, do que está falando?
Levantei-me pra obrigá-la a confessar.
- CHEGA! - O Sr. Weber se impôs. - Ainda não perceberam o quanto estão arruinados? Por causa da repercussão desse vídeo, nenhum colégio particular do país vai aceitá-los. Isso tudo ficará no histórico permanente de vocês, então esqueçam as melhores universidades, pois eles não aceitam jovens com esse tipo de índole.
- Isso não pode estar acontecendo comigo. - Murmurei sentando-me.
Candy PDV
- Vou ser sincera com o senhor. - Me fingi de inocente. - Eu transei com o Christopher, sim, mas não fui eu quem filmou e coloquei no site. O senhor sabe que isso é coisa de garoto. É evidente que esse idiota fez isso pra mostrar aos amigos que me comeu. Precisa entender que a vítima aqui sou eu. Não imagina o quanto estou sofrendo... - C. tinha editado o vídeo eliminando qualquer coisa que me condenasse. - Todas aquelas pessoas me vendo, eu...eu... - Deixei que uma lágrima escorresse por meu olho esquerdo. - Me sinto violentada.
Christopher ficou mudo, tamanha era sua perplexidade. Lívido, me encarou como se eu nem fosse humana.
- Não quero saber. Os dois são culpados e irão lidar com as consequências. Liguei para os pais de vocês e eles estão vindo. Ninguém vai sair dessa sala até a questão ser resolvida. - Fiquei feliz pelo diretor inútil finalmente tomar uma atitude de homem. Ia ser muito interessante ver os pais de Christopher pirar com o que ele fez.
- Não, Sr.Weber. - Christopher começou a implorar. -Tenho certeza que podemos resolver isso de outro jeito. Por favor, precisa fazer algo por mim. O centenário está chegando e...
- Lamento, Christopher. Não posso te ajudar. Os donos da instituição exigem que seja expulso. - Assisti com prazer a face do Uckermann se contorce de dor e preocupação. Os olhos dele começaram a refletir o vazio do fracasso.
De repente, a secretaria entrou na sala berrando:
- Sr. Weber, os alunos estão tentando invadir o colégio, precisa...
Para a surpresa de todos, atiraram pedras contra a vidraça da sala. Ela estilhaçou, fazendo de todos nós alvos fáceis. Os covardes jogaram-se no chão, mas eu continuei sentada e acendi um cigarro enquanto o diretor ligava para a polícia. O coroa gritou com os desordeiros e por isso eles fugiram, deixando-o ainda mais bravo. Sem alternativas, o Sr. Weber nos abandonou e foi tentar conter os manifestantes. Assim que ele saiu, fui para a janela atraída pelo pandemônio. Mesmo de longe, podia ouvir a voz de C. disfarçada pelos efeitos. A gravação vinha do alto-falante de um carro, alguém estava usando o discurso dele para incitar ainda mais os estudantes.
Sorrindo, respirei fundo deixando que o cheiro da total desordem invadisse meus pulmões. Então, Ignorando tudo, principalmente os olhares de fúria vindo de Christopher e sua corja, peguei a cadeira em que estava sentada antes e, sem pensar duas vezes, a joguei contra o que sobrou da vidraça. Antes de fugir, encarei mais uma vez o Uckermann e dei um sorriso cheio de significados ocultos. Pulei a janela a fim de me encontrar com C. para que comemorássemos o sucesso de minha “justiça”.
Enquanto atravessava o pátio correndo, podia ouvir o som das sirenes da polícia e o grito de guerra dos estudantes. Estava rodeada pelo caos e por ter sido justamente gerada por ele, sentia-me plena.