Fanfic: Primavera no Coração *AyA*Ponny* | Tema: Ponny,AyA

A neve cobria completamente a estrada: ele tinha ido seguindo a linha da cerca esperando não desviar do bom rumo. Mas igual podia estar atravessando os pastos de alguém.

Aquela situação era absurda.

Alfonso amaldiçoou em voz baixa sem diminuir absolutamente a atenção à condução. Quando chegasse à próxima cidade, se chegasse, se deteria, embora tivesse que passar a noite no carro. Algo seria melhor que conduzir às cegas através desse inferno branco.

A visibilidade era tão ruim que quase não viu o velho caminhão caído na sarjeta e escorado do lado direito. Na verdade aquilo de certo modo era bom sinal; ao menos sabia que seguia na estrada.

Alfonso seguiu seu caminho pensando que o condutor do caminhão faria tempo que tinha procurado melhor refúgio, mas então um estranho pressentimento lhe fez frear, dar a volta devagar e voltar atrás até chegar à altura do velho caminhão. Só lhe levaria um minuto comprová-lo.

Quando saiu do carro, a neve, que se tinha convertido em partes de gelo levados pelo vento, golpeou seu rosto. Alfonso se agachou e avançou contra o vendaval que o fazia perder o equilíbrio. Só estava a uns passados do caminhão, mas teve que lutar duramente para chegar até ele.

Depressa abriu a porta desejoso de verificar que em efeito a cabine estava vazia e logo retornar ao quente interior de seu jipe. Então lhe sobressaltou o débil grito da mulher que jazia sobre os assentos e que se incorporou alarmada quando a porta se abriu repentinamente.

- Só quero ajudar - disse ele em seguida, não querendo assustá-la mais.

Anahí gemeu, ofegando pela dor contra o que lutava corajosamente.

A freqüência das contrações tinha aumentado e agora lhe vinham a cada poucos minutos. Nunca teria chegado à clínica a tempo. Anahí sentiu a rajada de frio e viu o homem corpulento na porta do caminhão; mas no momento não podia responder, não podia fazer nada salvo concentrar-se na dor.

Agarrou-se o ventre e gemeu através de seus dentes apertados.

Alfonso se precaveu do que estava ocorrendo no ato. A mulher estava muito pálida e seus olhos verdes ressaltavam em seu rosto deformado pela dor. Um forte sentimento protetor se apoderou dele.

- Tudo vai bem, querida - murmurou brandamente enquanto a levantava em seus fortes braços. - Eu me ocuparei de tudo e nada lhes ocorrerá a nenhum dos dois.

Ela seguia gemendo. Alfonso a levou até o jipe, protegendo-a do forte vento o melhor que podia. Sua mente já se concentrava no iminente nascimento.

Não tinha atendido um parto desde seus dias de interno, mas muitas vezes tinha estado presente quando se esperava que o recém-nascido tivesse dificuldades.

Alfonso as arrumou para abrir a porta do passageiro com a mulher em seus braços e deixou-a no assento com cuidado antes de voltar ao volante ele mesmo.

- A cada quanto tempo tem as contrações? - perguntou lhe secando o rosto com as mãos.

Ela descansava com os olhos fechados, respirando profundamente uma vez que a dor tinha passado.

Ao sentir o contato de sua mão, Any abriu os olhos e o olhou como um animal encurralado.

- Cada três minutos - disse tremendo de frio. - Possivelmente menos.
- A que distância está o hospital?
- A clínica – corrigiu ela umedecendo-os lábios. - A vinte quilômetros.
- Não chegaremos - disse ele sem sombra de dúvida. - Há algum lugar perto onde possamos nos resguardar? Uma casa, um restaurante, algo?

Ela levantou uma mão.

- Minha casa... um pouco mais atrás. A um quilômetro.

Os peritos olhos de Alfonso tomaram nota dos sintomas. A mulher estava exausta. O parto por si só já era suficiente, sem acrescentar o medo, a solidão e o frio. A tensão se dobrou. Precisava levá-la a um lugar cômodo e quente o quanto antes.

 Anahi voltou a fechar os olhos.

 Alfonso pôs o carro em marcha e dando a volta começou a seguir a cerca não sem dificuldade.

 - Por favor, abra os olhos e me avise quando chegarmos a sua casa.

 Um minuto mais tarde outra contração a fez retorcer-se de dor. Alfonso olhou seu relógio. Um pouco mais de dois minutos depois da última. Era óbvio que o bebê não queria esperar que melhorasse o tempo.

 Uma rolha amarela junto à estrada chamou sua atenção.

 - É por aqui? - perguntou.

 Ela levantou a cabeça e Alfonso viu que a mulher se mordia os lábios para não gritar. Anahi assentiu brevemente e Alfonso reduziu a marcha para girar pelo estreito atalho enquanto rezava para conseguir um pouco mais de tempo.