Fanfic: Totalmente Demais! [Terminada]
As unhas dos pés dela estavam pintadas de cor-de-rosa. Ridículo ele reparar, considerando que ela estava sentada decifrando livros que punham sua vida em perigo. Com tudo quieto no momento, Ucker se recostou na cadeira, apreciando a vista.
Ela roia a ponta da borracha de um lápis, pensativa, os lábios brilhantes contraídos. Talvez ele pudesse dar apenas uma provadinha. Balançou a cabeça, sabendo que não seria suficiente para diminuir a dor contraste de excitação, nem aliviaria a pressão no peito que estivera presente desde a conversa deles mais cedo.
Quando tinha sido a última vez que pensara na mãe, quanto mais discutido seu passado em voz alta? Tinha sido muito tempo atrás e ele planejava que não acontecesse nunca mais. Mas se o desabafo tinha dado a Dulce uma explicação para sua relutância em levar as coisas adiante, desencavar a dor havia valido a pena. Ela passara tempo demais acreditando que não era digna de mais do que um olhar de admiração ou uma apalpada. Era melhor que acreditasse que o problema era dele, e não dela.
Melhor que ele saísse da vida dela sabendo que tinha dado algo em troca.
-- John Sullivan. – A voz dela o trouxe de volta ao presente.
-- Outro grande jogador – disse Ucker. – Tem propriedades por toda a cidade. – Já estavam nos livros havia mais de duas horas. Ou melhor, ela estava nos livros.
Ele estava assistindo. O movimento das pernas dela, chamando a atenção dele para o local aquecido entre elas. A animação e, depois, o olhar irritado de frustração atravessando o rosto dela, resultando num premer de lábios que o fez desejar mais do que um simples beijo. Tudo em nome da investigação, lembrou a si mesmo mais de uma vez, tentando afastar os sentimentos que ela provocava.
O primeiro livro continha uma lista de nomes femininos que nem ele nem Dulce reconheciam. Ucker supôs que eram as mulheres que trabalhavam para o negócio paralelo da “Charme!”. Os últimos livros produziam uma lista de nomes masculinos que era tão impressionante quanto extensa. Onde antes havia apenas a dica de um informante, agora existiam prováveis clientes e suas garotas de programa. Graças à inteligência e à persistência de Dulce.
Por mais que ele lutasse contra deixar que ela cuidasse de tudo, tinha de admirar os resultados. Admirava demais essa mulher.
Ucker estava certo de que esses homens ricos, a maioria casada, falariam. Quanto mais perguntas do jogo ela respondia, mais longa ficava a lista de nomes. Todos faziam parte da alta sociedade. E nenhum desses homens ia querer o escândalo que certamente seria provocado se suas vidas particulares se tornassem públicas.
-- Preciso de uma pausa. – Esticou as pernas para a frente. Os pés descalços eram vistos por debaixo da calça jeans estreita e ela mexia os dedos dos pés num grande alongamento.
-- É melhor para por hoje. Você ainda está no final de uma concussão e precisa descansar. – Algo que ele não faria esta noite. Depois de passar a noite observando-a trabalhar, tinha certeza disso.
-- E eu não sei? Além do mais, a não ser por uma última olhada, acho que quase terminei. – Os olhos dela se fechavam, as marcas de exaustão eram evidentes. – Mas tenho de terminar hoje à noite. – Agarrou o primeiro livro da pilha, o que começava a lista de nomes, e folheou-o. – Temos uma lista crescente, mas não estamos perto de... Ucker? – A voz dela se elevou, empolgada.
Ele sentou na ponta da cadeira.
-- O que foi?
-- Uma mudança importante aqui. Não sei por que não percebi isso antes. Veja. Todos os livros anteriores estavam anotados a lápis, certo?
Ele concordou com a cabeça. Não que fosse perceber isso se ela não tivesse mencionado as excentricidades da família dela antes. Especialistas em palavras cruzadas faziam a caneta sem medo de errar.
-- Mas aqui... tem uma mistura de lápis e caneta. – Ela analisou o livro por um segundo e apanhou mais um, olhando dentro dele. – Este aqui, também. Veja.
Ele se pôs ao lado dela num instante.
-- Aqui. Tinta preta em vez de lápis. Não sei por que não percebi isso da primeira vez.
-- Também não percebi a mudança. – Ele passou os olhos pelas páginas dos livros que restavam. – O mesmo com estes.
-- É isso, Ucker. É isso que eu estava procurando. É a pista da minha tia.
-- O quê?
-- Foi a forma que ela encontrou de nos dizer que não estava fazendo isso intencionalmente, Ucker. Apostaria minha vida nisso.
Ele fechou os olhos ao pensar naquilo. Estava ficando muito cansado de ver a vida dela em risco. Ela não precisava lembrá-lo.
-- Tudo bem, digamos que você esteja certa.
-- Eu sei que estou certa. Quando aquele cara me agarrou no outro dia, ele mencionou o dinheiro e, quando ligou, mencionou os livros. Estes livros. – Ela respirou fundo. – Eles não apenas têm nomes, o que já é bastante para incriminar, mas talvez ele soubesse que tia Marichello estava soltando pistas.
-- É possível – resmungou Ucker.
-- Então, diga-me por que não conseguimos encontrar uma pista sobre o dinheiro – disse ela, frustrada.
-- Existem vários lugares para se esconder dinheiro sem que o contador saiba – disse ele. – Contas em paraísos fiscais, por exemplo. Sem um número, elas não são rastreáveis.
-- Mas parece que esse cara acredita que eu sei onde está o dinheiro. Por quê?
Ele deu de ombros.
-- Impossível saber o que eles estão pensando. Mas querem a parte deles. Alguma pista, nesses livros, de onde o dinheiro possa estar escondido?
Ela balançou a cabeça.
-- Somente os nomes. Nem mesmo números de telefones, porque o jogo era só de letras.
Ele deu de ombros.
-- O dinheiro é algo que podemos nunca encontrar. A menos que as coisas se desvendem bem ao final. Meu palpite é que os homens nesses livros contactaram alguém da “Charme!”, e não vice-versa. O caminho contrário seria muito arriscado. Seu tio provavelmente atendia as ligações.
-- Meu tio? – Um sorriso marcou os cantos de sua boca deliciosa. – Isso significa que você acredita em mim: tia Marichello estava sendo usada ou ameaçada.
-- Como eu disse, tudo é possível, querida. Mas as listas são extensas. No mínimo, ela sabia o que estava acontecendo. – Odiava muito lembrá-la disso, mas não queria que ficasse mais machucada no final por não ter pensado na possibilidade.
Ela cruzou os braços sobre o peito.
-- Isso não significa que ela participava por vontade própria. Acho que ela não teve escolha.
Ucker não sabia no que acreditar, além do fato de que Dulce acreditava na tia. Droga, não culpava a moça. Se ele tivesse sequer uma pessoa em quem confiar na vida, também não ia querer desistir da esperança.
Deu uma olhada para Dulce. Queria acreditar nela. Mas seu trabalho exigia provas. Eles não sabiam o que significava a mudança de lápis para caneta. Talvez nunca soubessem.
Ela ainda não estava preparada para incriminar a mulher mais velha. Ucker deu um suspiro, desejando, para o próprio bem dela, que não fosse tão ingênua. E, no entanto, era aquilo que amava em relação a Dulce...
Ucker tossiu.
-- Você está bem?
Ele forçou um gesto com a cabeça e, mentalmente, mudou de assunto.
-- Seja lá quem esses clientes contactassem, provavelmente pagavam em dinheiro, seu tio fornecia as mulheres, pegava a parte dele e repassa o resto para o sócio.
-- O homem que queremos.
-- Ou mulher – lembrou Kane. – Lembre-se da madame Marichello, só para começar.
Ela concordou com a cabeça.
-- Eles também querem os livros; o que significam estes livros. – pegou um deles.
-- A influência de seu tio – disse Ucker. – De posse disto aqui, seu tio tinha sua parte garantida.
Ela olhou para o relógio.
-- Já se passaram hora depois da última ligação.
-- É um jogo de espera. Quanto mais tempo passa, mais nervosa você fica. É o que eles esperam.
-- Bem, eles têm razão. Estou mais do que nervosa. Só de pensar no que pode ter acontecido já fico horrorizada.
-- Você percebeu o quanto seria perigoso ficar ainda mais envolvida. – O medo lançava sua força. Ele soltou uma rajada de ar, a primeira respiração fácil desde que ela anunciara seus planos no escritório do capitão, horas antes. – Podemos dar um jeito, usar um chamariz. Apenas lembre-se: quando ele telefonar, mantenha-o conversando. Talvez possamos rastreá-lo. Concorde com uma entrega, não um encontro cara a cara e...
-- Eu não mudei de idéia. – Interrompeu as instruções dele com uma voz suave, mas determinada.
-- Mas você acabou de dizer...
-- Admiti que estou com medo. Eu sou humana. Pode me processar. Mas não mudei de idéia.
-- Se estiver com medo, isso vai aparecer. As coisas poderiam ficar confusas. Siga seus instintos.
-- Estou seguindo, e eles me dizem que tenho de fazer isso.
-- Droga, por quê? – Bateu com a mão na mesa de canto ao lado da cadeira dele até que balançou sobre as pernas instáveis. Ele tinha rugido. Ela nem se mexeu. Nenhum sinal de que ele estava perto de convencê-la a sair dessa.
-- Veja. – Colocou as mãos nas pernas dela e chegou para a frente na cadeira. – Existem pessoas experientes para fazer isso por você. Sem risco. Por que não aproveita?
Ela passou a mão pelos cabelos. As mexas suaves escorriam pelo rosto, criando uma vulnerabilidade que ele sabia que era em parte real, em parte ilusão. Essa mulher era mais durona que a suavidade exterior revelava. Era apenas uma parte do motivo pelo qual estava atraído por ela.
-- É a minha vida que foi virada de cabeça para baixo e eu mesma quero reerguê-la. – Ela olhou nos olhos dele. – Como você, venho tomando conta de mim mesma há mais tempo do que posso lembrar. Não combina comigo desistir do trabalho e entregá-lo para outra pessoa, mesmo quando fica difícil.
-- Perigoso – argumentou ele.
-- Que seja.
-- Você estaria entregando o trabalho a profissionais. Existe uma diferença.
-- Não para mim. Eu desisti de um bom emprego, com um bom salário e sonhos de terminar de estudar para administrar esse negócio de [i]família[/i]. Porque, apesar de tudo, eu amo minha família. Agora descubro que ele pode ser fachada para um serviço de acompanhantes. E eu sou a única que percebe a ironia aqui? Tenho de ir nisso até o fim. E tenho de limpar o nome da minha tia.
Na voz dela, Ucker ouvia a mesma determinação que ele sentia em toda investigação. Nos olhos dela, via a mesma necessidade de conquistar um objetivo. Respeitava isso o suficiente para querer saber mais.
-- Mas de que ironia você está falando? – perguntou ele, em voz baixa.
Ela se levantou do sofá e atravessou a sala até ficar de pé ao lado dele. O aroma dela testava seu controle, hipnotizava seus sentidos, seduzia sua alma.
-- É a prova – sussurrou ela. Olhou nos olhos dele, levantou a mão, depois deixou escorregar para baixo, esboçando com ousadia, a protuberância redonda de seus seios e a curva generosa de sua cintura. Seus mamilos ficaram retesados e rígidos sob a camiseta de cor creme que tinha vestido antes do jantar.
A boca dele ficou seca, as palmas das mãos, úmidas. Desejar Dulce não era novidade. Era parte dele, tanto quanto respirar. Mas agora era totalmente inapropriado. Seu cérebro registrava o fato, mas seu corpo pulsante parecia determinado a ignorá-lo.
Com grande dificuldade e uma respiração uniforme, a força de vontade venceu.
-- Prova de quê? – perguntou ele, com uma voz rouca.
-- Disto. – A mão dela traçou as curvas mais uma vez. – Isto é uma ilusão.
-- Uma bela ilusão. – Que o atormentava a cada minuto.
Pensar no primeiro encontro deles dava uma pista do que ela queria dizer agora. Lembrou-se da incapacidade dela em aceitar um elogio e seu recuo imediato quando ele olhava por muito tempo ou chegava muito perto. Tinha ultrapassado aquelas barreiras, mas não sem esforço.
Olhou para o corpo feito para o pecado.
-- Mas não é isso que conta – disse ele.
-- Você é a primeira pessoa a reconhecer isso. – Satisfação iluminava os olhos dela e um sorriso caloroso erguia seus lábios. Saber que podia tocá-la em um nível tão fundamental deixava-o satisfeito.
-- Você é a primeira pessoa que vê além da gostosona.
Ele estremeceu ao ouvir aquela autodepreciação bruta.
-- Uma coisa é eu administrar uma escola de etiqueta. Outra é alguém como eu assumir um negócio que bem a ser um serviço de acompanhantes ou coisa pior. Quero dizer, olhe para mim. A garota que se comportava mal, a garota que eles acreditavam já ter feito de tudo o que fosse errado. É claro que ela e a família estão por trás de um antro de prostituição – disse ela, com uma risada nervosa.
Ucker gostaria de voltar no tempo. Para acabar com a raça de qualquer um que tivesse sequer olhado torto para ela. E se tivesse a audácia de pôr um dedo no corpo dela, ou deixar o nome dela passar pelos seus lábios... daí ele gostaria de...
Autor(a): narynha
Este autor(a) escreve mais 12 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Ela levantou os braços. As pontas de seus dedos traçaram a testa franzida dele, depois ela sorriu. -- Não fique com essa cara braba. – A voz estava mais suave agora. – Eu cresci ouvindo isso. As palavras não podem me machucar mais. Os olhos firmes estavam fixos nos dele. Ela o alfinetava com um olhar empedernido. -- Mas a falta de ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 48
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
kikaherrera Postado em 25/10/2009 - 22:07:01
AMEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
O FINAL PARABÉNSSSSSSSSSSSSS -
dannystar Postado em 25/10/2009 - 13:27:07
Oie!!! sou nova aki, e tô amando sua web, amo AyA...
Qro saber + dessa história q tá linda
Posta +
+++++++
++++++++
+++++++++
+++++++++++
+++++++++++++ AyA sempre -
kikaherrera Postado em 23/10/2009 - 22:50:25
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS SSSSSSSSSSSSSSSSSS
-
kikaherrera Postado em 23/10/2009 - 22:50:17
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
-
kikaherrera Postado em 23/10/2009 - 22:50:10
POSTA MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
-
kikaherrera Postado em 23/10/2009 - 00:07:58
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
-
kikaherrera Postado em 23/10/2009 - 00:07:51
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS SSSSSSSSSSS
-
kikaherrera Postado em 23/10/2009 - 00:07:43
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
-
kikaherrera Postado em 21/10/2009 - 23:33:34
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
-
kikaherrera Postado em 21/10/2009 - 23:33:27
MAISSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS