Fanfic: Histórias das minha vida * adptada (Terminada)

—Ah, olha ali o Alfonso - interrompeu Piggy.

—É mesmo - disse Arabella, agitada.—Ele se separou da mulher, não?

—O que eu quis dizer é que não tem nada tão bom quanto Encontro marcado em outro

canal na mesma hora das obras-primas da literatura, portanto não acredito que ninguém

fique zapeando canais nesse horário.

—Ah, quer dizer que Encontro marcado é "bom"? - perguntou Perpétua, com um sorriso irônico.

—É, muito bom.

—Você sabe que, antes de virar novela de tevê, Middlemarch foi um livro, não?

Detesto Perpétua quando fica desse jeito. Velha, gorda, idiota e peidorreira.

—Ah, eu achava que era uma novela patrocinada por um xampu - falei, de mau humor, pegando vários canapés e enfiando tudo na boca. Quando olhei para cima, vi um homem

moreno, de terno, bem na minha frente.

—Olá, Maite - disse ele. Por pouco não deixei todos os canapés caírem da minha boca.

Era Alfonso Darcy. Mas sem aquele suéter de losangos estilo comentarista de esportes da tevê.

—Olá - respondi de boca cheia, tentando não entrar em pânico. Depois, lembrei do artigo na revista e virei para Perpétua.—Alfonso, esta é Perpétua - comecei e parei, gelada. O que dizer? Perpétua, que é muito gorda e passa o tempo inteiro me enchendo? Alfonso, que é muito rico e teve uma ex-mulher muito cruel?

—Sim? - disse Alfonso.

—... ela é minha chefe e está comprando um apartamento em Fulhan. Alfonso é - falei, virando para Perpétua - um grande advogado de direitos humanos.

—Olá, Alfonso. Conheço você de nome, claro - anunciou Perpétua como se fosse uma heroína de novela e ele, o duque de Edinburgo.

— Alfonso, olá! - cumprimentou Arabella, arregalando os olhos e piscando de um jeito que devia achar muito sedutor.

—Não vejo você há séculos. Como vai Nova York?

—Nós estávamos comentando sobre hierarquias culturais - informou Perpétua.- Maite

é uma dessas pessoas que acha que, quando a tevê mostra Encontro marcado, é o mesmo que ver Otelo de Shakespeare dizendo o monólogo "Será por causa deste teu semblante que minha alma ruirá, precipitada dos céus para os braços das fúrias infernais!" – Perpétua cacarejava de rir.

—Ah, então Maite é uma autêntica pós-modernista - concluiu Alfonso Darcy. —Esta é

Natasha - apresentou, apontando para uma moça alta, magra e bonita ao lado dele.—Ela é uma grande advogada de família.

Parecia que ele estava me esnobando. Que ousadia. Natasha falou então, com um sorriso

de quem sabe das coisas:

—Acho que as pessoas deveriam primeiro provar que tinham lido os clássicos para depois terem permissão de assisti-los na versão televisiva.

—Ah, concordo plenamente - disse Perpétua, continuando seu acesso de riso. —Que idéia ótima!

Com certeza, ela estava visualizando Alfonso Darcy e Natasha em casa, com um monte de criancinhas em volta da mesa de jantar.

—Deviam proibir o público de ouvir a música da Copa do Mundo - piou Arabella -, a menos que provassem que ouviram a ópera Turandot inteira!

— Mas, sob vários aspectos, a democratização da nossa cultura é uma grande meta... -

disse a Natasha de Alfonso, subitamente séria, como se a conversa estivesse indo pelo caminho errado.