Fanfic: Nossa rotina | Tema: Fátima e William

No dia seguinte, uma quinta-feira, William acordou com o despertador às 05:50, retomando sua rotina. Reprogramou-o para que Fátima dormisse por mais 20 minutos, tomou um banho rápido e desceu para tomar café com os filhos.

-Cadê a minha mãe, pai? - perguntou Bia.

-Dormiu mais que a cama hoje, mas já deve estar descendo. - respondeu ele.

-Está demorando... Melhor alguém ir lá ver se ela já acordou, senão ela vai acabar perdendo a hora. - disse Vinícius.

-Tem razão... Vou chamá-la. - disse William, levantando-se da mesa.

Quando chegou no quarto ouviu o barulho do chuveiro ligado e viu que Fátima já não estava na cama, então voltou para o andar de baixo e chamou os filhos para levá-los ao colégio.

Fátima despertou com o alarme que William colocara, as 06:10, e xingou-o mentalemente por não tê-la acordado no horário de costume, pois agora ela teria que se apressar para não perder a hora. Tomou seu banho e se vestiu às pressas, desceu para tomar café e saiu de casa às 06:50.

No trabalho, William foi recebido com palmas, assovios e abraços, cuidadosos, de boas-vindas, inclusive um abraço caloroso demais da moça que havia pedido sua ajuda na noite anterior, a Bárbara, mas ele ignorou isso e foi trabalhar, havia muita coisa para se fazer!

Ao encerrar seu programa, Fátima pegou o celular para ligar para o marido mas, antes de completar a ligação, hesitou. Sabia que ele havia ficado chateado na noite anterior, mas será que ainda estava? Achava que não pois aquilo era muito pouco para deixá-lo com raiva por tanto tempo e ela também havia ficado com raiva por ele não tê-la acordado de manhã, mas foi uma coisa de momento, então achou que não tinha problema ligar, apertou em "chamar" e esperou que ele atendesse.

-Oi, Fá. - disse.

-Oi, William... Como está ai no trabalho?

-Está tudo exatamente como eu me lembrava! - disse bem-humorado.

-Você está tomando os remédios direito?

-Estou... Coloquei na agenda do celular para não me esquecer. - disse - Você conseguiu acordar sem o despertador hoje de manhã? Eu subi para te chamar mas você já estava no banho...

-Já que você tocou nesse assunto, por que não me acordou? Eu quase perdi a hora por sua culpa. - disse num tom arrogante sem perceber.

-Olha, se você me ligou para alterar a voz comigo novamente não precisa perder seu tempo porque eu não... - antes que ele terminasse foi interrompido.

-Novamente?! Você AINDA está chateado por eu ter me irritado contigo ontem? - perguntou incrédula.

-Você sabe muito bem que eu ODEIO que gritem comigo. Não sou surdo, posso te ouvir perfeitamente num tom de voz normal.

-Eu estava cansada e queria ficar sozinha, mas você estava fazendo mil perguntas! Acabei perdendo a paciência. - explicou.

-E você acha justo descontar seu cansaço em mim?

Nesse momento ela percebeu que era a errada da história e que não tinha como se explicar.

-Você tem razão, não é justo. Me desculpe...

-Você fica impossível de lidar quando está estressada ou na TPM mas eu sempre tentei entender ou pelo menos respeitar isso, já você nem parece que se esforça para tentar se controlar.

-Nós já tivemos essa conversa outras vezes...

-Eu sei. - disse apenas.

-Eu errei, me desculpe!

-Tudo bem, não tem problema. - disse friamente - Eu ia te ligar para avisar que vou chegar em casa mais tarde hoje, mas já que você ligou primeiro... O pessoal aqui da redação tá querendo sair pra comemorar a minha volta. Vamos em algum bar ou restaurante.

-Hmm... Quem vai? - perguntou, lembrando-se da moça loira.

-Não sei... Acho que só os mais próximos. - disse despreocupado.

-Tudo bem... Divirta-se! - desejou sincera. Tanto ela quanto ele não viam problema em o parceiro sair com os amigos para se divertir e até achavam isso necessário.

-Obrigado. Preciso desligar agora, estou atolado de coisas pra fazer aqui.

-Até a noite então. Tchau.

-Tchau.. - disse e desligou.

William não estava mais chateado por Fátima ter gritado com ele, na verdade estava chateado por ela não ter ido pedir desculpas e ter dormido como se nada tivesse acontecido, mas sabia que isso era muito pouco e tentou esqucer, só que após aquela ligação ele ficou ainda mais chateado. Ela fora muito egoísta colocando nele a culpa por não ter acordado, quando na verdade a intenção dele era deixá-la descansar por mais alguns minutos, já que havia reclamado do cansaço. Já Fátima não havia se preocupado muito com essa ligação, ela era mais tranquila com essas coisas e sabia que eles acabariam se resolvendo depois.

Após deixar o Projac acompanhada pelo motorista particular, Fátima foi para sua aula de jazz que durou um pouco mais que o normal devido aos ensaios que estavam fazendo para uma apresentação que sua turma teria em algumas semanas. Chegou em casa quando o céu já estava escuro, jantou com os filhos e foi até a sala de TV assistir ao jornal nacional. Seus dias eram sempre corridos e esse era o momento que ela tirava para sentar um pouco e acompanhar o trabalho do maridão. Assim que o jornal entrou no ar ela sorriu ao vê-lo usando o presente que havia lhe dado e que realmente combinava bastante com ele. William transparecia felicidade em estar atrás daquela bancada novamente e mesmo fazendo algumas piadinhas de vez em quando não perdia sua credibilidade. Ele adorava o que fazia e não pretendia parar tão cedo!
Já que o marido iria sair com os colegas naquela noite Fátima decidiu chamar algumas amigas para sairem também, e assim que os dois jornalistas deram o "boa noite" final, ligou para duas amigas e combinou de encontrá-las num restaurante a que costumavam ir sempre que se encontravam.
A carioca colocou um vestido preto decotado, um maxi-colar, saltos e fez uma maquiagem básica para uma quinta-feira a noite. Se arrumou correndo e deixou para avisar ao marido que iria sair quando já estivesse no local, mas acabou se esquecendo.

Enquanto isso William estava num bar requintado sentado numa mesa bebendo e conversando animadamente com os colegas.

-Aquela redação nunca mais foi a mesma depois que a Fátima saiu... Sem ela e sem você lá então fica uma coisa horrível! - disse Luís Fernando Ávila, diretor-adjunto do JN.

-É verdade... A audiência até caiu durante esse tempo que você ficou fora. - completou Mônica, a chefe da redação.

-Parece que as pessoas gostam mesmo de você lá naquela bancada! Não tem jeito! - disse Carlos, um dos editores.

-Vocês estão me elogiando demais! Assim fico até com vergonha... - disse o moreno bem-humorado.

Após algum tempo de brincadeiras e conversas ele pediu licença e saiu da mesa para ligar para a mulher e saber como estavam as coisas em casa mas, enquanto discava o número dela, ouviu uma voz feminina chegar por trás.

-Fugiu da mesa, chefe? A conversa nem estava tão ruim assim... - disse Bárbara.

Ele se virou para ela, sorriu e disse:

-Não fugi! Vim fazer uma ligação...

-Por você ter saído da mesa só pra isso deve ser importante...

-E é importante!

-É para a Fátima que você está ligando? - arriscou um palpite.

-Aham... - disse apenas.

-Está tudo bem entre vocês? Ela agiu um pouco estranho ontem quando a vi...

-Está sim! Ela só estava um pouco cansada.

-Ela não pareceu cansada, pareceu que não gostou de me ver.

-Claro que não! Não se preocupe com isso... Ela também é jornalista e sabe como é o nosso trabalho: às vezes temos que dormir mais tarde fazendo algumas coisas.

-Não me refiro a isso... Acho que ela ficou com ciúmes.

-Ciúmes?! Não mesmo... A Fátima não é uma pessoa ciumenta. - garantiu.

-Tem certeza? Eu no lugar dela teria ficado.

-Tenho sim, nós já somos casados há bastante tempo e ela confia em mim. Não tem porque ter ciúme. - disse convicto.

-Deve ser estranho ficar com a mesma pessoa por tanto tempo... Você não enjoa?

-Não vai mais lhe parecer estranho quando você encontrar alguém com quem queira fazer isso. - afirmou e sorriu para ela - O que sinto às vezes é uma necessidade de ter um tempo sozinho ou com amigos, mas não acho que isso seja enjoar da pessoa. É normal... Ela sente a mesma coisa em relação a mim.

-E você não sente mais vontade de experimentar outras mulheres..? - perguntou descaradamente e passou a mão pelo peito dele.

O moreno ficou surpreso e desconfortável com a pergunta da moça e então cortou a conversa.

-Eu preciso ligar para a minha mulher, com licença. - disse e saiu.

Quando Fátima atendeu o celular ele pôde ouvir barulhos de música e pessoas conversando.

-Fá?! Onde você está?

-Oi, William! Estou num restaurante com a Cláudia e a Sandra! - disse animada.

-Você nem me avisou que iria sair... - disse achando uma falta de consideração da parte dela não tê-lo avisado.

-Não tive tempo de te ligar antes de sair de casa e acabei me esquecendo quando cheguei aqui... - explicou.

-Podia ter pelo menos mandado uma mensagem...

Ela não tinha o que dizer, havia se esquecido e pronto, então mudou de assunto:

-Você já está indo pra casa?

-Não, vou ficar mais um pouco. E você?

-Também.

-Tudo bem. Nos vemos em casa então. - disse e desligou antes que ela pudesse responder.

Fátima suspirou e pensou: "Vamos ter muito o que discutir quando chegarmos em casa."

William desligou o telefone chateado mas decidiu não pensar nisso e voltar para a mesa, mas Bárbara o aguardava no mesmo lugar em que haviam conversado.

-Acho que agora não está mais tudo bem entre vocês... - disse, percebendo que ele estava diferente.

-Está tudo ótimo entre minha mulher e eu. - mentiu novamente.

-Você não precisa me contar nada se não quiser, mas também não precisa mentir pra mim... - disse.

-Não estou mentindo. E mesmo se estivesse, isso não diz respeito a você. - disse perdendo a paciência.

-Nossa! Essa doeu...

-Desculpe-me, Bárbara, eu não quis ser rude com você. - disse sincero - Vamos voltar para a mesa, devem estar sentindo nossa falta. - disse virando-se em direção à mesa.

-Espera! - disse a moça, segurando-o pelo braço - Você sempre foi muito prestativo comigo e eu gostaria de lhe pagar de alguma forma! Se precisar de mim estarei aqui. - ofereceu.

-Obrigado, mas você já me paga fazendo seu trabalho direito! - dispensou-a e foi para a mesa.

Fátima foi pra casa mas o marido ainda não havia chegado, então ela o esperou mais um pouco, mas depois de algum tempo resolveu ligar para saber quando ele chegaria.

-Oi, amor! - disse num tom diferente e logo ela percebeu que ele havia bebido.

-Você bebeu, William?!

-Só um pouco...

-E como vai voltar pra casa?

-Dirigindo... Eu estou bem! - garantiu.

-Você já está vindo?

-Por que eu deveria?

-Como assim?? - perguntou confusa.

-Deixa pra lá! Já estou indo. Você vai me esperar acordada dessa vez? - perguntou irônico.

-Se você quiser...

-Quando foi que eu não quis? - disse tristonho e pela primeira vez no dia ela reconheceu o marido, pois ele havia sido frio na maioria das vezes que haviam se falado.

-Não demore muito.. - pediu.

-Não vou demorar. Até logo. - disse e desligou.

O paulista se despediu dos colegas e foi pra casa dirigindo pois não estava bêbado, tinha plena conciência de que pegaria mal ser pêgo numa blitz dirigindo embriagado, além disso, precisava ser um bom exemplo para os três filhos adolescentes e todas as pessoas que o assistiam na TV falando sobre a lei seca. Enquanto dirigia pensou na conversa que tivera com Bárbara. Estava confuso sobre as perguntas dela, sem saber se estava ou não dando em cima dele... Ela trabalhava na redação há pouco mais de um ano e meio e em todo esse tempo nunca havia sido tão ousada quanto naquela noite, mas talvez ele estivesse se equivocando, talvez fosse só a bebida que a fizera ficar mais solta.

Fátima lia um livro sobre o poder da mente quando o marido entrou no quarto com a camisa branca amarrotada por fora da calça social azul-noite, a pasta de couro a tira-colo e as chaves do carro na mão.

-Boa noite! - disse ele.

-Bom dia. Já passou da meia-noite... - respondeu na defensiva. Ela não gostou de vê-lo chegando tão tarde.

Os dois haviam deixado assuntos mal resolvidos na noite anterior: ele chateado com ela por não ter se desculpado e ela por ele ficar até tarde conversando com aquela moça num quarto fechado, portanto, cada pequena coisa apenas os deixava ainda mais irritados um com o outro.

-Não estou entendendo por que você está agindo assim comigo desde ontém! Quem deveria estar chateado aqui sou eu! - disse ele.

-E pelo que exatamente você deveria estar chateado? Se for só por eu ter perdido a paciência contigo está exagerando! E eu até já pedi desculpas.

-Não é por isso... Primeiramente por você ter dormido ontém como se nada tivesse acontecido. Você nem se importou em falar comigo.

-Não me importei?? Eu fui até seu escritório ontem pra conversármos mas você estava ocupado demais trancado lá dentro de madrugada conversando com aquela baranga! - disse já alterada.

-Espera um pouco... Você ficou com ciúmes da Bárbara? - perguntou incrédulo.

-Não fiquei com ciúmes. - mentiu - Só achei falta de respeito a mim.

Ele olhou para baixo envergonhado, não sabia o que dizer, então ela perguntou:

-Foi só por isso que você ficou chateado?

-Não. Também não gostei de você não ter me avisado que iria sair!

-Eu já disse que me esqueci...

-Exatamente! Enquanto eu estava lá preocupado em ligar pra você e saber como estava você se divertia e nem lembrava que eu existo! Muito obrigado. - disse sarcástico.

-Não foi bem assim... Não me esqueci de você, mas sim de te avisar que eu iria sair. São coisas diferentes!

Ele suspirou, colocou a cabeça entre as mãos, fechou os olhos e ficou assim por alguns segundos... Quando se recompôs disse:

-Por que estamos brigando tanto por tão pouco?!

-Porque deixamos acumular pequenas coisas e agora elas se tornaram uma bolinha de neve.

-Se você tivesse me esperado acordada isso não teria acontecido.

-Você queria que eu ficasse te esperando terminar de falar com a baranga loira? - perguntou irônica.

-Do jeito que você fala parece que estou tendo um caso com ela! Estávamos trabalhando...

-Eu sei, mas queria você na cama comigo àquela hora, e não trabalhando! - disse e o coração dele amoleceu.

Ele a olhou nos olhos e disse sincero:

-Pode ter certeza que eu também preferia estar na cama contigo a trabalhar com quem quer que fosse, amor... - disse aproximando-se dela.

Quando ele disse isso a raiva dela desapareceu, dando lugar a uma vonatde enorme de acabar com o espaço que havia entre eles e abraçá-lo.

-Me desculpe por ter gritado com você ontém... - disse sincera.

-Está desculpada... - disse e sorriu - Me perdoe por ter sido tão frio contigo hoje e por tê-la feito se sentir desrrespeitada. Eu deveria ter dito à Bárbara que não poderia ajudá-la àquela hora. Nem pensei que você poderia não gostar, não fiz por mal...

-Eu sei que não fez... Está perdoado. - disse e sorriu para ele.

-Posso te abraçar agora? - perguntou inseguro.

-Deve! - disse e correu até os braços deles.

Eles se abraçaram por alguns minutos, trocaram mais alguns pedidos de desculpas e explicações e então foram pra cama. Deitaram-se lado a lado de barriga para cima e ficaram olhando para o teto em silêncio já com a luz apagada até que ele disse:

-A propósito, muito obrigado pelo presente!

-Não há de quê... Você gostou?

-Gostei! É uma linda gravata... Recebei alguns elogios por causa dela hoje! Disseram que combina com meu tom de pele. - disse achando graça.

-Achei que fosse combinar... Gosto quando você usa cores entre o rosa e o azul!

-E eu gosto quando você não usa nada... - disse sério, porém, para fazê-la rir e conseguiu.

-Senti falta do seu bom-humor hoje... - disse passando a mão pela face dele.

-Eu também senti falta do meu bom-humor! - disse em tom de brincadeira - Vem cá... - chamou, puxando-a para seus braços. Ela deitou a cabeça em seu peito e fechou os olhos.

-Boa noite, minha vida... - sussurrou ele, beijando-lhe a testa.

-Boa noite, meu amor... - respondeu e logo adormeceram.